Levantamento feito pela Secretaria-Geral da Mesa da Assembleia a pedido do EM mostra que, ao menos desde 2003, não há dois candidatos a presidente da Assembleia em uma mesma eleição. A estatística faz com que, apesar das articulações paralelas que correm no momento, parte dos deputados acredite na construção de uma via única para evitar a fragmentação dos 77 parlamentares.
Integrante do grupo político de Agostinho Patrus, Tadeu Leite compõe o bloco de deputados independentes à gestão do governador Romeu Zema (Novo). Primeiro-secretário da Assembleia, ele tem a simpatia dos outros parlamentares ligados a Agostinho e é bem-visto, também, na coalizão de oposição a Zema, liderada pelo PT. Embora Leite transite bem junto a aliados do governo, alas do Palácio Tiradentes defendem a candidatura de Roberto Andrade. Líder de Zema na Assembleia, o político do Avante tem a seu favor a boa relação com Igor Eto, secretário de Estado de Governo. Um dos homens de confiança de Zema, Eto chefia as conversas do Executivo estadual com os deputados.
Segundo apurou a reportagem, neste momento, Andrade é o preferido do governo para o posto. Apesar disso, Antonio Carlos Arantes (PL), outro aliado de Zema, também é tido como opção. Primeiro vice-presidente da Assembleia, Arantes tem dito a colegas que não pretende abandonar os planos de comandar o plenário. Aventado, ainda, o nome de Gustavo Valadares (PMN), ex-líder do governo Zema. Filiado ao PSDB até março deste ano, Valadares ocupa, atualmente, a vice-liderança do bloco de deputados alinhados ao Palácio Tiradentes. Zé Guilherme (PP), pai do deputado federal Marcelo Aro (PP), um dos principais parceiros políticos de Zema, também chegou a ser citado como possibilidade.
Em meio às possibilidades, deputados ouvidos pela reportagem apontam a necessidade de debates que garantam a formalização de apenas uma chapa. Um dos defensores da união é Alencar da Silveira Júnior (PDT), o mais antigo entre os componentes da Assembleia. Com um gabinete na casa desde 1995, ele se prepara para iniciar o oitavo mandato.
“A Assembleia vai votar unida em um nome só. Em hipótese nenhuma podemos deixar ter a divisão que teve na Câmara de Belo Horizonte”, diz o pedetista, em menção à tumultuada eleição no Legislativo belo-horizontino, na semana passada. A disputa, vencida pelo vereador Gabriel Azevedo (sem partido) por um voto de diferença, foi marcada por troca de acusações, bate-bocas e princípio de tumulto.
Se houver mais de uma candidatura, a divisão dos votos vai ser exposta ao público. Isso porque os deputados têm de apontar, ao microfone, o colega que desejam ver na presidência. Para Alencar, o eventual confronto entre chapas pode trazer prejuízos não apenas aos trabalhos legislativos, mas, também, ao Executivo. “O governo tem de ter responsabilidade e discernimento para fazer uma Assembleia unida”, defende.
Boa relação é um trunfo
Os nomes especulados para concorrer à presidência da Assembleia são benquistos pelos colegas. Na oposição a Zema, a preferência pelo emedebista, chamado de “Tadeuzinho” nos corredores da Casa, é tratada abertamente. Nas contas de interlocutores ligados ao grupo, a coalizão antagônica ao governo deve ter cerca de 20 integrantes no ano que vem. Além de PT, PV e PCdoB, o bloco deve ser engrossado por Psol e Rede Sustentabilidade.“O nome dele (Tadeu Leite) pode garantir a autonomia necessária ao Parlamento, o cumprimento do Regimento Interno e das prerrogativas da oposição”, afirma o deputado Cristiano Silveira, presidente do PT em Minas Gerais. “Pode ser, inclusive, um nome de consenso no futuro, como tem acontecido nas últimas eleições da Assembleia”, vislumbra.
A independência de Leite em relação ao governo é, justamente, um dos pontos positivos apontados por parlamentares simpáticos a ele. Embora o MDB tenha apoiado a reeleição de Zema, a crença é de que o deputado, se eleito presidente, seguiria linha parecida à adotada por Agostinho Patrus. Roberto Andrade, embora também querido pelos companheiros de trabalho, é, por vezes, visto como alguém de forte vínculo com o governo.
A avaliação de uma das fontes ouvidas pela reportagem é que Antonio Carlos Arantes teria mais chances de emplacar sua candidatura se conseguisse assumir a presidência nos dias que restam até o fim desta legislatura. A possibilidade existe, pois Agostinho Patrus foi eleito conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e já está nomeado por Zema para a vaga.
Agostinho tem até 60 dias para tomar posse e, se sair antes do prazo se esgotar, faria com que Arantes assumisse mandato-tampão no comando da Assembleia. Conforme apurou o EM, contudo, os sinais emitidos pelo pessedista até este momento são de permanecer como deputado até o fim de janeiro, sem que haja a necessidade de que o liberal precise substituí-lo na presidência.
A despeito das articulações, Alencar da Silveira Júnior mantém a esperança em um acordo por chapa única. “Acho que, no final, vai afunilar e chegar a um só (candidato)”, crê. “(O presidente da Assembleia) tem de ter independência e ser bem entrosado com todos que ali estão”, explica o pedetista, que compôs a Mesa Diretora da Assembleia durante cinco de seus mandatos — desta vez, é o 3°vice-presidente. Presidente do América, ele diz não se lembrar de ter presenciado disputas em plenário pelo comando do Parlamento.
Um voto a menos
Embora 77 parlamentares tenham sido escolhidos pela população, a votação para a Mesa Diretora vai ter número par de eleitores: 76. Isso porque Chiara Biondini, do PL, só vai tomar posse em março. A Constituição Federal e a Constituição Mineira preveem que, para assumir o cargo, um deputado tem de ter, no mínimo, 21 anos – idade que Chiara vai completar em 22 de fevereiro do ano que vem. A fim de garantir o mandato, Chiara se ampara em uma brecha do Regimento Interno da Assembleia. Há, no texto, mecanismo que permite que um eleito tome posse 30 dias após a primeira reunião, prevista para 1° de fevereiro. Por isso, ela está fora da lista de votantes que vai escolher o próximo presidente do Parlamento.Consenso na escolha
Presidentes da ALMG desde 2003 – venceram eleições com chapa únicaMauri Torres fev/2003 a fev/2005fev/2005 a fev/2007 (reeleito)*
Alberto Pinto Coelho fev/2007 a fev/2009fev/2009 a dez/2010 (reeleito) **
Dinis Pinheiro fev/2011 a fev/2013fev/2013 a fev/2015 (reeleito)
Adalclever Lopesfev/2015 a fev/2017fev/2017 a fev/2019 (reeleito)
Agostinho Patrusfev/2019 a fev/2021fev/2021 a fev/2023 (reeleito)
*neste ano, houve candidaturas avulsas para cargos da Mesa** houve mandato-tampão de José Alves Viana, então vice-presidente, entre janeiro e fevereiro de 2011, pois Alberto Pinto Coelho foi eleito vice-governador de Minas
Estadão