A Parada do Orgulho LGBT+ deste domingo (11/6), na avenida Paulista, em São Paulo, começou com discursos celebrando o fim do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e cobrando políticas para o público LGBTQIAP+ e a promoção de direitos de família e religião.
Representantes de diferentes pastas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), da Justiça, Direitos Humanos e Saúde, incluindo a mascote da vacinação, Zé Gotinha, subiram ao trio elétrico de abertura da parada.
A principal mensagem é que o público LGBTQIA+ agora tem espaço para reivindicar direitos. A cobrança por políticas públicas é o tema da 27° edição do evento, que teve a participação de pessoas de diversas partes do Brasil, muitas delas fantasiadas, como já é tradição.
As críticas a Bolsonaro foram de "governo que violou direitos". O ex-presidente também recebeu xingamentos e vaias do público.
Na sua décima apresentação da parada, Tchaka, a drag queen do milênio, tentou evitar menções ao nome do ex-presidente nos discursos, quando o público entoou críticas ao ex-mandatário.
"Esse lixo já está na história, escória, e todo mundo que subir aqui pega o recado: nada de mandar recado para o lixo que foi o último presidente do Brasil."
Dois discursos depois, no entanto, o nome já havia sido repetido diversas vezes.
Mais comedido, o ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, disse que o público deve sentir orgulho de lutar pelo direito de existir e amar. "Todas as pessoas que estão aqui devem ter muito orgulho de estarem vivas, apesar de um mundo que as violentas", afirmou.
"Depois de todos esses anos que vivemos, estamos fazendo uma grande virada. O que se demanda aqui não é favor, é dever do Estado brasileiro, e estou aqui como representante do governo. É dever do Estado zelar pela saúde e garantir educação e que todas as pessoas tenham acesso a emprego e renda de forma digna."
Na quinta-feira, foi o presidente Lula (PT) quem acabou vaiado durante a Marcha para Jesus, também em São Paulo.
A parada seguiu pela rua da Consolação até a praça Roosevelt, na região central, embalada por muitos trios elétricos. A festa teve também lembranças a algumas celebridades, como as homenagens às cantoras Gal Costa e Rita Lee, que morreram recentemente.
No percurso, a presidente da associação que organiza o evento, Cláudia Garcia, falou sobre a luta da comunidade LGBTQIA+. "Nós somos cidadãos de primeira, não de segunda, queremos educação e segurança."
Na saída da estação Trianon-Masp da linha 2-verde do metrô, o bloco inter-religioso Gente de Fé reunia integrantes de diferentes vertentes religiosas para pedir o fim à intolerância e o acolhimento de pessoas LGBTQIAP+. "Ontem [sábado] fizemos um ato inter-religioso no largo do Arouche, e hoje saímos no bloco para pensar sobre criar espaços seguros para que as pessoas possam exercer seu direito à fé, disse Jeferson Batista, 29, integrante rede nacional grupos católicos LGBT.
No carro de abertura, a deputada federal Erika Hilton (PSOL) disse que o dia é de festa, mas também de luta por direitos. E que é hora de preparar o Brasil para uma presidente travesti.
"Salve, salve, comunidade LGBTQIA+. É dia de festejar, mas de lembrar que estamos nas ruas por um novo projeto de país, de ser e amar, porque nosso povo e nossas bandeiras são plurais. Não aceitamos mais o projeto de país sem as LGBTQIA+. Vamos beijar na boca, beber, com cautela e responsabilidade, porque também é dia de luta e resistência."
Na esquina com a rua Augusta, grupos de partidos como PSTU, PCB e PSOL distribuíam adesivos e discursavam sobre a pressão por direitos para a população LGBTQIAP+ durante o governo do presidente Lula.
Por ali também havia a instalação de um armário, do qual as pessoas podiam sair. "Fazemos desde 2018, e é muito legal, porque as pessoas sempre dão relatos. Podem sair sozinhas, em grupo", disse Larissa Janotti, 28, da companhia de teatro Cia.zero8, enquanto um grupo chutava a porta do armário.
Outro grupo que discursou pelos seus direitos foi o de pessoas trans, que gritavam que elas existem e têm direitos a família, esporte e alegria. Grupos de futebol e outros apoiadores afirmaram que a população precisa lutar por coisas básicas, como acessar o esporte.
"Nunca vimos tantos projetos de lei para impedir que pessoas trans pratiquem esporte", afirma o professor Bernardo Gonzales, 34, um dos organizadores do coletivo Sport Club T Mosqueteiros. O clube foi bicampeão da Taça da Diversidade, no sábado (10/6). "O recado é: crianças e adolescentes trans que queiram estar em esporte, de alto rendimento ou não, vocês têm essa possibilidade", diz ele.
É para proteger esses direitos que o cordão Mães Pela Diversidade cantava "ser trans é um direito, nossos filhos só precisam de respeito" à frente do primeiro trio elétrico da parada.
Evento de grande porte, a Parada acabou surpreendendo os frequentadores dos parques da região central de São Paulo, que foram fechados pela prefeitura. Além dos parques Trianon, Mário Covas e Augusta, o parque Minhocão e a praça Roosevelt também foram interditados para o público geral.
A prefeitura disse à Folha que o fechamento está informado na página dos referidos parques desde a última quarta-feira (7/6), no site da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e também nas redes sociais, como foi feito nos últimos anos.
Fonte: Estadão