Comentarista de TV e escritor conhecido por aversão a imigrantes e muçulmanos, Éric Zemmour sobe nas pesquisas e é cotado para eleições presidenciais. Éric Zemmour em foto de 22 de abril
Joel Saget/AFP
Um novo ator tumultua a cena política francesa e faz Marine Le Pen, a líder da extrema direita, parecer um símbolo da concórdia e da conciliação.
Embora ainda não tenha lançado oficialmente a candidatura às eleições presidenciais de abril, o jornalista, escritor e comentarista de TV Éric Zemmour rivaliza com a candidata do Reagrupamento Nacional (RN) e ameaça tirar votos não somente dela, mas de candidatos de centro-direita.
Zemmour é carismático na mesma medida em que é controverso e provocador. Já comparou islamismo ao nazismo, referiu-se aos menores imigrantes que chegam da África e do Oriente Médio como assassinos, estupradores e ladrões e generalizou que os jihadistas são considerados bons muçulmanos por todos os muçulmanos.
Em seu universo de citações incendiárias há espaço para contradições irreconciliáveis. Filho de judeus argelinos, Zemmour defende o líder da França de Vichy, Philippe Pétain, como protetor de judeus franceses, embora documentos oficiais corroborem que ele tenha participado da Solução Final, mandando-os para campos de concentração.
Aos 63 anos, Éric Zemmour tornou-se uma celebridade em seu programa de TV. Garante audiência, colecionando frases de efeito, que lhe valeram três condenações por incitar o discurso do ódio.
Ele difunde, por exemplo, a tese racista da substituição, segundo a qual os europeus serão substituídos por imigrantes. No seu entender, empregadores têm o direito de recusar árabes ou negros. Se chegar à Presidência, promete reativar uma lei de 1803 que proíbe que crianças sejam registradas com nomes de origem estrangeira.
Amparado no radicalismo, Zemmour tornou-se uma ameaça para Le Pen e promete bagunçar o palanque do presidente Emmanuel Macron. Pesquisas de opinião dão a ele de 8 a 10 por cento das intenções de votos, à frente da socialista Anne Hidalgo e do verde Yannick Jadot.
Sem experiência política e sem partido, ele explora a familiaridade com parte do eleitorado, moldando o seu discurso à nostalgia de uma França sem imigrantes.
Desligado do “Le Figaro” e da rede de TV CNews, o jornalista aproveita o lançamento de seu novo livro “La France n"a pas dit son dernier mot” (“A França ainda não disse a sua última palavra”, na tradução livre) para testar os ânimos e age como pré-candidato à Presidência.
O tom radical o situa vários níveis acima de Marine Le Pen, a quem ele despreza por considerá-la moderada e incapaz de vencer Emmanuel Macron. O desempenho pífio do RN nas eleições regionais de julho passado -- o partido não conseguiu vencer em nenhuma das 13 regiões da França -- fortaleceu o discurso de Zemmour.
Fonte: G1