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G1 - Manchete

O país onde agências 'casamenteiras' são esperança contra baixa natalidade e governo organiza encontros de paquera

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Em um país com baixas no número de casamentos e nascimentos, agências que promovem encontros amorosos se tornaram uma esperança — com eventos para encontros amorosos organizados até pelos governos.

Min Jung e Tae Hyung se encontraram através de uma agência de encontros e estão casados há quatro meses

BBC

Min Jung já estava se relacionando há três anos com o seu então namorado quando ele disse, do nada, que não imaginava se casando.

A sul-coreana ficou arrasada. "Sempre pensei que nos casaríamos em algum momento", lembra ela, hoje com 30 anos.

"Eu estava deitada na cama, de bobeira olhando meu celular, quando vi um anúncio de uma agência que promove encontros de casais que querem o matrimônio. Pensei: 'Por que não?'"

Foi essa decisão no calor do momento que levou a jovem de 30 anos a conhecer Tae Hyung, que agora é seu marido.

Eles ?estão há quatro meses casados — não foi exatamente amor à primeira vista, mas os dois tinham química.

"Cheguei ao nosso primeiro encontro de ressaca, porque teve uma festa de trabalho no dia anterior. Então eu não estava na minha melhor forma quando conheci minha esposa", lembra Tae Hyung.

"Mas gostei do sorriso dela; tivemos uma boa conversa. Eu queria uma segunda chance — tive que me esforçar para passar uma impressão melhor de mim depois daquele primeiro encontro."

Os casamenteiros da agência sul-coreana organizam cada detalhe do primeiro encontro de seus clientes.

Mas, antes disso, eles coletam informações pessoais de cada pretendente.

Detalhes como idade, ocupação, ativos financeiros e histórico familiar precisam ser preenchidos.

Os clientes são então classificados com base em seus perfis. Por exemplo, médicos e advogados provavelmente receberão as notas mais altas para ocupação, enquanto trabalhadores de escritório em grandes corporações ficam abaixo disso.

Algumas pessoas acham que esse sistema de classificação é problemático, dizendo que ele é materialista e dá muito valor às posições sociais.

Mas, para Min Jung, encontrar alguém "semelhante" a ela era importante.

Tae Hyung também esperava que as informações que ele deu aos especialistas casamenteiros possibilitassem encontrar alguém compatível com ele.

A agência fez seu trabalho.

Min Jung e Tae Hyung, que trabalhavam em escritórios em Seul, estão agora abrindo mais um novo capítulo em suas vidas: estão se tornando coproprietários de uma loja de vinhos.

"Minha vida teria se tornado monótona como funcionário de escritório, com uma vida rotineira", diz Tae Hyung, enquanto segura a mão da esposa.

"Mas, agora, estou fazendo algo novo e construindo uma vida junto com ela. É muito divertido."

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Crescimento das agências no pós-pandemia

As agências de casamento na Coreia do Sul relatam crescimento da demanda nos últimos anos. Há quase mil operando em todo o país.

"Menos oportunidades de encontros espontâneos durante a pandemia de covid-19 fizeram com que mais pessoas recorram às agências", diz Han Ki Yeol, vice-presidente da N.Noble, uma empresa do setor de alto padrão.

De acordo com ele, o sucesso entre esses clientes da era covid levou a uma "mudança de percepção" que favorece as agências de encontros.

"No passado, os jovens pensavam que essas agências eram só para aqueles que não conseguiam se casar", diz ele.

"Agora, eles as veem como uma maneira de encontrar alguém que corresponda às suas necessidades."

Uma médica de 32 anos que é cliente de uma agência e pediu para não ser identificada diz que muitas de suas amigas já contrataram esse tipo de serviço.

"Eu costumava pensar negativamente sobre essas agências, mas agora parece normal", ela diz.

"Encontros às cegas marcados por amigos eram um fardo muito grande para mim. É difícil recusar alguém quando você tem conhecidos em comum. Os casamenteiros tiram essa pressão."

Min Jung se lembra do dia que contou aos pais sobre se inscrever na agência.

"Foi um pouco constrangedor. A percepção geral de usar uma agência de encontros não é muito positiva", ela diz.

"Por exemplo, pode parecer que as pessoas estão sendo julgadas por seus perfis e se casando sem amor."

E objetivo final, arranjar um namoro ou casamento, tampouco é atingido por todos.

O custo de usar uma agência é outro motivo pelo qual os clientes se sentem pressionados. As taxas variam de cerca de R$ 8,5 mil a R$ 42 mil, o que pode fazer com que alguns pretendentes hesitem a contratar o serviço ou demorem a renovar os pagamentos, em caso de necessidade de encontros adicionais.

Uma professora de 36 anos, que também pediu para permanecer anônima, usou uma dessas agências há dez anos, mas não conheceu ninguém que considerou adequado.

"As pessoas que conheci por meio de casamenteiros eram pessoas com defeitos significativos ou tinham perfis perfeitos, mas exigências muito altas", ela lembra.

"Era muito frustrante."

"E não é romântico. É algo que você quer realizar de forma perfeita, sem erros no caminho."

Encontros promovidos pelo... governo

A queda nas taxas de casamento e natalidade é um problema na Coreia do Sul há muito tempo. Apesar do recente aumento nos serviços de encontros, os números de matrimônios e filhos permanecem em níveis recordes de baixa.

Em 2023, o número de casamentos foi 40% menor em comparação a uma década atrás.

A taxa de fecundidade do país — o número médio de filhos que uma mulher terá em seus anos reprodutivos — atingiu uma baixa histórica de 0,72, a mais baixa do mundo.

Especialistas atribuem esses números às longas horas de trabalho na Coreia do Sul, que em 2017 foram as segundas mais altas do mundo, depois do México.

O equilíbrio difícil entre vida profissional e pessoal, os altos custos de moradia e de gastos com crianças também tornam desafiador para as mulheres retornarem ao trabalho após o parto.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) diz que a taxa de fecundidade de um país precisa estar em torno de 2,1 para manter uma população estável.

Em uma tentativa de aumentar essa taxa, o governo sul-coreano está se movimentando.

Agora, ele está assumindo até o papel de casamenteiro, organizando eventos de encontros para ajudar as pessoas a achar um amor.

Seongnam, uma cidade a sudeste de Seul, recentemente sediou um evento do tipo pela sétima vez este ano. O prefeito de lá, Shin Sang Jin, diz que o interesse por esses encontros está crescendo cada vez mais.

Cem jovens solteiros, com idades entre 27 e 39 anos e morando em Seongnam, reuniram-se em um pub com música, jogos, comida e bebidas.

"Vim aqui sem pensar muito, mas agora estou nervoso", desabafou Mu Jin, participante de 32 anos. "Sinto meu coração batendo forte."

Como muitas pessoas, ele acha difícil encontrar alguém quando entra no mercado de trabalho.

"Meu emprego tem sido muito agitado e, agora que passei dos 30, não há tempo nem lugar para conhecer pessoas novas", conta

"Mas a cidade proporcionou uma boa oportunidade para isso."

Apesar de ser sediado pelo governo, o evento foi animado e casual; os participantes foram encorajados a se movimentar pela sala, cumprimentar-se quando conheciam alguém novo e dar as mãos enquanto conversavam.

O anfitrião dava instruções e sugestões de perguntas para manter as pessoas conversando.

Yoo Sun, na casa dos 30 anos, foi ao evento esperando encontrar um parceiro.

"Quando você tem um grupo grande como esse, com cem pessoas, é um pouco difícil formar conexões profundas, mas é uma ótima chance de conhecer gente", diz ela.

O governo afirma que esses eventos são extremamente bem-sucedidos, com 43% dos participantes já tendo encontrado um par e dois casais subindo ao altar.

Sung Jin, que também participou, diz: "Não é fácil organizar algo assim, mas também mostra que há uma questão social por trás disso."

O governo sul-coreano também vem investindo em estímulos para futuras famílias, com maior suporte em creches e empréstimos imobiliários com juros baixos para recém-casados.

"Nos últimos 20 anos, todas as políticas para aumentar a taxa de natalidade falharam", diz o prefeito Shin Sang Jin.

"É por isso que estamos tentando ajudar os jovens a se conhecerem."

Mas alguns argumentam que o governo está ultrapassando seus limites ao interferir na vida privada das pessoas. Críticos dizem que as autoridades deveriam priorizar o apoio a mães que voltam ao trabalho e medidas para conter os altos custos.

"No final dos nossos 20 anos e início dos 30, estamos construindo carreiras, mas a sociedade nos pressiona a começar famílias até os 35", diz Min Jung.

"Com os desafios no trabalho, como perder empregos após a licença-maternidade, os pedidos para que as pessoas se casem e tenham bebês não parecem convincentes."

"Sem resolver essas questões, apenas dizer que as pessoas devem se casar ou ter filhos parece fora de contexto."

Apesar das pressões sociais, seu marido, Tae Hyung, diz que o casamento foi uma escolha sua.

"Estou vivendo uma vida feliz, passando momentos emocionantes com minha esposa. Me casei porque eu queria, não por causa da pressão social."

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