Câmera corporal flagrou o momento em que o PM da Rota disse ter deletado imagens do celular de um frentista. Allan Morais dos Santos, conhecido como 'Príncipe do Crime', morreu após ser baleado durante a ação policial em Santos (SP). PM diz ter apagado vídeo de testemunha após morte do 'Príncipe do Crime'
Um vídeo, obtido pelo g1 neste sábado (7), mostra um PM da Rota confessando que apagou imagens do celular de uma testemunha da abordagem de Allan Morais dos Santos, o 'Príncipe do Crime' que foi baleado e morto durante a ação policial em Santos, no litoral paulista.
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Allan Morais, de 36 anos, foi baleado no bairro Saboó, no dia 10 de fevereiro deste ano. Ele era roupeiro do Jabaquara Atlético Clube e, na ocasião, havia acabado de sair de um jogo. A abordagem aconteceu enquanto ele voltava para casa.
A confissão do agente foi gravada pela Câmera Operacional Portátil (COP) de um outro policial que estava na ação. Eles prestavam apoio às equipes que abordaram Allan na Avenida Martins Fontes e pararam em um posto de combustíveis a alguns metros de distância.
Nas imagens, é possível ver o policial se aproximando de um frentista que estava ao lado de um cliente. Ele parece dar uma ordem e, momentos depois, o funcionário do posto mostra um celular.
PM da Rota alega ter apagado vídeo de frentista que testemunhou morte do 'Príncipe do Crime'
Reprodução
Pouco mais de um minuto depois, o agente da Rota retorna em direção aos colegas e avisa que alguém havia gravado o caso, mas reforça que as imagens tinham sido apagadas.
"Quem fez vídeo?", perguntou um dos homens.
"O frentista", respondeu o agente, que complementou: "Já apaguei, já apaguei" .
As imagens foram obtidas pela TV Tribuna, afiliada da Globo, junto com vídeos de outros policiais envolvidos na ocorrência. Os conteúdos foram usados pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) para denunciar dois agentes por homicídio qualificado. A Justiça acatou a manifestação do órgão e tornou réus os policiais Diogo Souza Maia e Glauco Costa.
O MP-SP informou que os policiais envolvidos no episódio "já respondem na Justiça como réus". Ainda de acordo com o órgão, as condutas que podem configurar como 'ilícitos' estão sendo investigadas.
A equipe de reportagem não localizou a defesa do agente que aparece no vídeo até a publicação desta matéria. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) não se manifestou sobre o caso.
Imagens
Câmeras de PMs mostram abordagem a 'Príncipe do Crime', morto durante Operação Verão
As imagens das COPs dos policiais Glauco Costa e de outros agentes que estavam na ocorrência foram obtidas pela TV Tribuna, afiliada da Globo. Na denúncia do MP-SP, porém, não constam os vídeos do equipamento do tenente Diogo Souza Maia, que, segundo o órgão, estava descarregada.
Maia foi denunciado por efetuar quatro disparos de fuzil à curta distância contra Allan. Ele, o PM Costa e outros agentes estavam na mesma viatura, que contou com o apoio de outras equipes policiais.
No vídeo, é possível ver a viatura dos réus emparelhando com o automóvel da vítima às 17h38m50s. De acordo com o MP-SP, Maia desembarcou e, em apenas cinco segundos, disparou quatro tiros de fuzil a curta distância de Allan.
Após os tiros, o carro da vítima se movimentou, e Costa, que também desceu da viatura, atirou na direção do automóvel. Segundo o MP-SP, não houve aceleração do veículo de Allan, que se deslocou lentamente, o que indica que ele soltou o freio.
Ainda segundo a promotoria, às 17h39, a vítima já havia levado seis tiros. Seis segundos depois, a câmera de um policial em outra viatura flagrou Maia se aproximando da lateral do carro da vítima e mexendo em algo.
Às 17h39m20s, ele permaneceu no local e, oito segundos depois, a COP, com o som de um agente distante, registrou o som semelhante ao de dois disparos. Em seguida, o parceiro de Maia, Glauco Costa, recolheu uma pistola prateada do chão, como se fosse do suspeito.
Os promotores apontaram na denúncia que Maia efetuou disparos de dentro do carro de Allan, simulando a troca de tiros. Em seguida, ele pediu ao parceiro que recolhesse o armamento, como se tivesse desarmado a vítima.
Ainda segundo o órgão, os policiais usaram as viaturas para cercar o carro de Allan e esconder a movimentação perto do automóvel. Além disso, um agente chegou a andar de costas para evitar que a câmera registrasse o veículo.
Veículo da vítima é cercado por quatro viaturas da Rota
Reprodução
Os promotores do MP-SP, ao analisarem as imagens, notaram a ausência de cápsulas deflagradas no interior do carro de Allan, o que, segundo o órgão, reforça a tese da simulação.
Segundo a promotoria, o PM Costa foi visto abrindo o porta-malas do automóvel da vítima e olhando por cima do banco traseiro, sem encontrar nada. No entanto, minutos depois, às 17h58m40s, Maia apareceu nas imagens apontando para o veículo e sugerindo que Costa realizasse uma nova vistoria. Foi então que uma cápsula foi encontrada no assoalho.
Durante a nova vistoria, Costa abriu o porta-malas e encontrou um fuzil. Com base nos registros, o MP-SP acredita que tanto a cápsula deflagrada quanto o fuzil foram plantados, já que não havia policiais com COPs por perto.
Versão dos agentes
Na versão dos PMs, quatro agentes averiguavam uma denúncia sobre um homem transportando armas em um carro Jeep Compass. Ele foi baleado após desobedecer a uma ordem de parada e jogar o carro contra a viatura.
Ainda segundo os PMs, Allan teria disparado com uma pistola contra os policiais e levava um fuzil no porta-malas. Um agente teria respondido à suposta agressão com quatro tiros de fuzil e outro com quatro tiros de pistola.
Allan foi socorrido e levado até a Santa Casa, mas já chegou morto ao hospital.
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