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Acordo trata sobre vários temas relevantes e visa fortalecer a relação entre os países dos dois blocos. Presidente Lula e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der LeyenTV Globo/ReproduçãoA Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, iniciada na quinta-feira (5), promete resultar em mudanças significativas para o comércio bilateral entre a União Europeia (UE) e os países do bloco sul-americano.Isso porque há a expectativa de que os grupos consigam concluir uma negociação que se arrasta por 25 anos para a associação entre os blocos europeu e sul-americano.O Acordo de Associação Mercosul-União Europeia visa fortalecer a relação entre os países dos dois blocos e, entre outros pontos, facilitar o comércio de bens e produtos entre as duas regiões — tema que segue sendo alvo de debates e discordâncias, entre especialistas e até mesmo entre os países da UE.Entenda nesta reportagem:O que é o Mercosul?O que é o Acordo de Associação Mercosul-União Europeia?O acordo pode ser assinado nesta sexta-feira?Quais são os impactos do acordo para o Brasil?Quais são os próximos passos?Chanceler Uruguaio e presidente da União Europeia sinalizam que acordo Mercosul e bloco europeu está próximoLEIA MAISEntenda o acordo que gera tensão entre a Europa e o agro brasileiroChanceler do Uruguai anuncia que acordo entre Mercosul e UE está quase fechadoA jogada de Macron para tentar brecar acordo Mercosul-UE antes da cúpulaO que é o Mercosul?O Mercosul, sigla para Mercado Comum do Sul, é um bloco econômico regional composto por Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Seu objetivo é gerar oportunidades comerciais e de investimentos para os países-membros no mercado internacional.Além das relações comerciais entre si, o bloco já concluiu uma série de acordos com outros países ou grupos de países pelo mundo, em âmbito comercial, político ou de cooperação.Volte ao início.O que é o Acordo de Associação Mercosul-União Europeia?O Acordo entre Mercosul e União Europeia visa fortalecer a relação entre os países dos dois blocos. Estão previstos tratados em temas importantes, tais como:Cooperação política;Cooperação ambiental;Livre-comércio entre os dois blocos;Harmonização de normas sanitárias e fitossanitárias (que são voltadas para o controle de pragas e doenças);Proteção dos direitos de propriedade intelectual; eAbertura para compras governamentais.Parte dos temas já havia sido resolvida em 2019, quando os dois blocos conseguiram alcançar um acordo inicial. O texto, no entanto, precisava passar por processos de validação, como a ratificação dos parlamentos de todos os países envolvidos. Foi aí que o acordo travou.As negociações foram retomadas apenas nos últimos meses, a pedido da Comissão Europeia. A presidente da entidade, Úrsula Von der Leyen, afirma que o acordo criaria a maior parceria de comércio e investimento que o mundo já viu, beneficiando ambas as regiões e atingindo 700 milhões de pessoas.Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em fevereiro deste ano indicou que o acordo traria benefícios à atividade econômica brasileira, com ganhos de investimentos e na balança comercial. A estimativa é de que as trocas comerciais com a UE provocariam um crescimento de 0,46% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro até 2040 – o equivalente a US$ 9,3 bilhões (R$ 55,7 bilhões), a preços constantes de 2023.Volte ao início.Franceses protestam contra o acordo da União Europeia com o MercosulO acordo pode ser assinado nesta sexta-feira?A chegada da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, ao Uruguai na quinta-feira (5) aumentou as expectativas de que o acordo deve ser assinado na Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul deste ano. Em publicação em sua conta na rede social X, Von der Leyen chegou até mesmo a sinalizar que a conclusão do acordo Mercosul-EU "está à vista"."Pousamos na América Latina. A linha de chegada do acordo UE-Mercosul está à vista. Vamos trabalhar, vamos atravessá-la. Temos a oportunidade de criar um mercado de 700 milhões de pessoas", publicou.Ainda na quinta-feira, o chanceler do Uruguai, Omar Paganini, afirmou que todos os países do Mercosul se mostraram a favor do texto, sinalizando que a confirmação oficial deve vir ainda hoje.???? Debates e discordâncias: apesar do otimismo presente na Cúpula, a oposição de alguns países integrantes da União Europeia ainda pode atrapalhar as tratativas do texto. A França, por exemplo, é um dos países que, há anos, tem se mostrado contra o acordo. Na quinta-feira (e em diversas outras ocasiões), o presidente francês, Emmanuel Macron, classificou o acordo como "inaceitável" em seu estado atual.A França é um dos maiores produtores agrícolas da UE e deve ser bastante prejudicada pelo acordo, já que a América do Sul tem grandes produtores de grãos e alimentos. "A França sempre foi contra o acordo. É o maior país agrícola da Europa e a verdade é que a produção francesa, em muitos produtos, não consegue concorrer ou não tem a mesma eficiência que o mercado brasileiro", explicou Welber Barral, ex-secretário do comércio exterior e sócio-fundador da BMJ Consultores Associados. Além da França, outro país que já se manifestou contra o acordo é a Polônia. Para barrar o acordo, no entanto, a França precisa formar o que a UE chama de "minoria qualificada", que determina que pelo menos quatro países do bloco – que, juntos, representem mais de 35% da população do bloco europeu – se oponham ao tratado.Do lado sul-americano, o acordo também divide opiniões. Apesar do potencial de trazer benefícios para os países do Mercosul, a leitura de especialistas é que o bloco também pode sofrer com a concorrência vinda da Europa."O acordo comercial, qualquer que seja, precisa ser equilibrado em concessões e ganhos, e até mesmo considerar os riscos corridos por quem concede eventuais reduções", diz o ex-ministro da Fazenda e ex-embaixador Rubens Ricupero.A expectativa é que os setores industriais, químicos e automobilísticos do bloco sul-americano possam sentir o peso da concorrência vinda da Europa. (entenda mais baixo)Volte ao início.Quais são os impactos do acordo para o Brasil?O principal efeito para o Brasil, em termos econômicos, viria dos temas que tratam do comércio de bens. Segundo Welber Barral, apesar de o Mercosul provavelmente não conseguir a cláusula de livre-comércio total, produtos de maior peso na balança comercial entre os blocos – como carnes e alguns grãos – devem conseguir uma cota alta de exportação."Além disso, algumas demandas do Brasil referentes às compras governamentais ainda estavam pendentes na última rodada de negociações. [Se aprovadas, essas medidas] devem ter um grande potencial para fazer políticas públicas", acrescenta o especialista.A ideia é que as medidas atualizadas tragam maior flexibilidade às cláusulas do tema que, no acordo anterior, limitavam as políticas de desenvolvimento industrial do governo brasileiro ."Esse era um ponto bastante criticado porque o acordo anterior tornava impossível reservar as licitações do governo apenas para produtores locais. É esperado que esse ponto seja atendido", diz Ricupero.De todo modo, a leitura é que o acordo pode ter tanto efeitos positivos quanto relativamente negativos para o Brasil. ????Efeitos positivos: a facilitação do comércio e a eliminação gradual das tarifas de importação para a maioria dos produtos comercializados entre os blocos tende a aumentar o acesso do Brasil ao mercado europeu.Segundo Barral, o acordo é bastante positivo tanto para a Europa quanto para os países do Mercosul nesse sentido, incluindo o Brasil. "Os países do Mercosul vão ganhar mais acesso a um bloco que é um grande importador de alimentos. Isso sem contar que a Europa é um 'mercado premium', que tem uma exigência maior de qualidade e que também paga os melhores preços, principalmente nas importações agrícolas", explica o especialista.Na prática, isso poderia aumentar as oportunidades de exportação do Brasil para a Europa e possibilitar um aumento significativo de investimentos nas terras brasileiras, trazendo efeitos diretos no país.Dados do Ipea, por exemplo, indicam que o acordo anterior poderia aumentar os investimentos no Brasil em 1,49% em comparação ao cenário sem a parceria.Além disso, o tratado também poderia trazer um ganho de US$ 302,6 milhões (R$ 1,8 bilhão) para a balança comercial brasileira. O número é maior do que o benefício esperado para os demais países do Mercosul, de US$ 169,2 milhões (R$ 1 bilhão). O estudo também aponta que a importação brasileira em função do acordo teria um aumento mais expressivo nos primeiros anos, chegando a um pico de US$ 12,8 bilhões (R$ 76,6 bilhões) em 2034 e desacelerando para US$ 11,3 bilhões (R$ 67,6 bilhões) até 2040.Já as exportações tenderiam a aumentar continuamente entre 2024 e 2040, até alcançarem um ganho acumulado de US$ 11,6 bilhões (R$ 69,4 bilhões). Isso, segundo o Ipea, seria resultado de três possíveis efeitos:A queda das tarifas de importação na UE; O aumento das quantidades exportadas em alguns setores, em função das cotas de exportação concedidas pela UE; e A redução do custo doméstico de insumos e de bens de capital propiciado pela queda das tarifas no país, tornando os produtos brasileiros mais baratos e competitivos no mercado internacional.Além disso, outras áreas abordadas pelo acordo também poderiam trazer benefícios para o Brasil, como a facilitação do acesso de empresas brasileiras a serviços europeus e da participação de pequenas e médias empresas aos benefícios do acordo, por exemplo.????Efeitos negativos: apesar do potencial de benefícios, a leitura dos especialistas é que setores específicos da economia devem sentir mais intensamente o impacto da concorrência europeia.Enquanto o Brasil exporta muitas commodities e matérias primas para a Europa, as importações vindas dos países europeus são principalmente focadas em produtos manufaturados – o que pode pressionar a indústria brasileira."Se o acordo for assinado, haverá um longo prazo de implementação. Nesse meio tempo, a indústria brasileira vai ter que analisar quais são as oportunidades e quais são os riscos", diz Barral.Os especialistas citam como problema, por exemplo, o alto custo de logística no país. "Alguns setores vão ter que enfrentar uma concorrência maior e devem precisar aumentar eficiência, digitalização e escala para enfrentar a competitividade europeia", completa Barral.Ricupero reitera, no entanto, que ainda é necessária a divulgação do texto completo, atualizado com os novos termos de negociação, para uma leitura mais certeira de potenciais impactos positivos ou negativos para o país.Volte ao início.Quais são os próximos passos?Apesar de a negociação do acordo ter caminhado na Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul desta semana, os especialistas destacam que ainda há uma série de procedimentos a serem seguidos antes de o texto entrar em vigor.Na prática, mesmo que seja assinado nesta sexta-feira, o acordo ainda não terá efeito prático nem imediato. O texto ainda precisará passar por uma revisão jurídica e por um processo de tradução para 20 línguas diferentes. Passados esses procedimentos, o texto precisará do aval dos parlamentos europeu dos países do Mercosul, além de ser aprovado pelo Conselho da União Europeia. Nesse último caso, para serem as provadas, as decisões requerem a chamada "maioria qualificada" – que significa o aval de 55% dos países que compõem o grupo e que representam pelo menos 65% da população total da UE. "Além disso, depois de o acordo entrar em vigor, ele tem um prazo de desgravação, que é o prazo no qual as alíquotas vão caindo e que pode chegar a até 15 anos. No geral, é um longo prazo de implementação", conclui Barral.Volte ao início.