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Do Sertão para o Mundo: produção têxtil de São Bento gera emprego, renda e transcende fronteiras

No Sertão da Paraíba, o som das máquinas de costura tem início antes mesmo do sol amanhecer e repercute como melodia que movimenta a economia de São Bento.


No Sertão da Paraíba, o som das máquinas de costura tem início antes mesmo do sol amanhecer e repercute como melodia que movimenta a economia de São Bento. As linhas se entrelaçam no tear, formando peças que levam o nome da cidade para além das fronteiras do Brasil, conquistando o mercado global. Entre linhas e tecidos, a indústria têxtil da cidade conhecida como a "Capital Mundial das Redes" produz 12 milhões de redes por ano, de acordo com estudo elaborado pelo Plano de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável para os Arranjos Produtivos Locais da Paraíba (Plades)

O segmento foi responsável pela arrecadação de R$17,3 milhões em ICMS, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Fazenda. No mesmo ano, o município somou U$58,5 milhões em exportações dos produtos do segmento para países como Estados Unidos, Hungria, Chile, Guadalupe e Portugal. Este ano, o volume de exportações já alcançou U$35 milhões, de acordo com o sistema Comex Stat, plataforma que reúne dados do comércio exterior brasileiro.

Aos 10 anos, Jeane Patrício aproveitava para costurar escondida na máquina tia, nos momentos em que ela saía de casa. Natural de São Bento, ela cresceu fascinada pelas linhas, tecidos e possibilidades proporcionadas pela costura. O primeiro emprego foi em uma grande indústria da cidade. Atualmente ela trabalha em duas fábricas: uma especializada na confecção de cortinas e colchas e também na GF Têxtil, que fabrica kits de banheiro, tapetes, passadeiras, jogos americano e outros produtos. "São esses empregos que fazem com que eu possa ajudar a minha mãe em casa e melhorar minhas finanças", afirmou.

A GF Têxtil surgiu há 10 anos, a partir do desejo de empreender do casal Gilmara Ramalho e Flávio Gomes. O "start" ocorreu quando Gilmara, que sempre atuou no segmento, engravidar da segunda filha. A trajetória deles no segmento têxtil começou de forma modesta, em parceria com um compadre, produzindo capas de cama. Aos poucos, eles perceberam a oportunidade de expandir para outras linhas de produtos.

"Começamos com um compadre nosso que fazia colchas de cama. Com o tempo, fomos nos afastando desse foco para criar o nosso próprio, que era de conjuntos para banheiro", explicou Flávio. Desde então, a empresa cresceu e diversificou sua produção, incorporando novos produtos como mantas e outras peças têxteis.

"Iniciamos a nossa própria empresa em um quartinho dentro de casa, depois fomos crescendo, nos mudamos para um prédio e graças a Deus hoje estamos em um prédio nosso, e expandindo", contou Gilmara.

No início o casal empreendedor enfrentou dificuldades, principalmente em relação ao capital e à estrutura de produção. "Foi muito difícil. Quando decidimos investir em nossa própria linha, tivemos que começar do zero, inclusive com financiamentos do Crediamigo, do Banco do Nordeste, para comprar os teares necessários. A cada máquina adquirida, o negócio crescia um pouco mais, até que conseguimos estabilizar", relembrou.

Gilmara Ramalho e Flávio Gomes iniciaram a GF Têxtil em um quarto de casa e atualmente vendem para vários estados e para Argentina (Foto: Pauta Real)



O investimento valeu a pena e atualmente a capacidade de produção da fábrica alcança entre 15 a 20 mil quilos de produtos por mês. Flávio ressaltou a importância de adaptar a produção de acordo com a demanda do mercado, destacando que muitos dos insumos, que antes precisavam ser trazidos de outras cidades, como Cajazeiras e Souza, agora são produzidos diretamente em São Bento.

A produção é vendida para vários estados do Brasil todo e exportada também para a Argentina. Hoje, a empresa emprega diretamente 18 pessoas e, de forma indireta, outras 20, especialmente na parte de acabamento. "Nossa mão de obra não só garante o brilho dos nossos produtos, mas também gera renda para muitas famílias aqui na cidade e nas regiões vizinhas", destacou o empresário em entrevista ao Pauta Real.

Para o futuro, o casal projeta continuar expandindo a produção, investindo em novas linhas como mantas para sofá e cobertor e atender pedidos personalizados dos clientes.

Autonomia na empregabilidade: "Antes de amanhecer, as máquinas já estão funcionando"

São Bento produz 12 milhões de redes por ano (Foto: Wellington Farias/Pauta Real)



"Antes de amanhecer, as máquinas já estão funcionando", comentou o prefeito de São Bento, Jarques Lúcio, em entrevista ao Pauta Real. O gestor enfatizou o espírito trabalhador e a dedicação do povo da cidade ao setor têxtil e destacou que, mesmo situada a 400 km de João Pessoa, a cidade vive uma realidade de pleno emprego, a ponto de faltar mão de obra para atender à demanda crescente.

"No primeiro ano, entregamos o Shopping das Redes à população, e agora ele será reformado e ampliado", explicou Jarques, detalhando que o projeto inclui a climatização do auditório e a expansão das instalações do shopping, cuja licitação está em andamento. Além disso, o prefeito anunciou a construção de um novo mercado, previsto para 2024, que abrigará não apenas a produção de redes, mas também de outros produtos fabricados na cidade, como mantas, toalhas e bonés.

A partir da próxima quinta-feira (5), até sábado (7), São Bento promove a Expotêxtil, uma feira que ocorre anualmente em setembro, coincidindo com o Dia do Redeiro, comemorado no dia 6 do mesmo mês. Serão mais de 60 estandes na feira, que já é realizada desde 2017 e este ano conta com a parceria do Sebrae, Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) e Empreender Paraíba.

"Mostrando toda a força empreendedora da nossa São Bento", destacou o prefeito, acrescentando que a partir das novas parcerias e investimentos, a cidade continuará crescendo e se consolidando como um exemplo de desenvolvimento e inovação no setor têxtil.


Incentivos fiscais fortalecem a indústria têxtil e geram oportunidades

Produção têxtil garante emprego para moradores de São Bento e cidades vizinhas (Foto: Wellington Farias/Pauta Real)



O secretário de Estado da Fazenda, Marialvo Laureano, destacou o fato de a cidade de São Bento ser conhecida por sua forte presença na indústria têxtil, especialmente na produção de redes de dormir e outros produtos têxteis. Ele ressaltou que a cidade tem uma tradição consolidada nesse setor, o que gera muitos empregos e sustenta a economia local.

"Recentemente, houve uma extensão dos benefícios fiscais oferecidos pelo governo estadual para todo o setor têxtil na região, incluindo São Bento e outras áreas que vão do Sertão de Patos até o limite da Paraíba. O benefício inclui um crédito de aproximadamente 2%, o que é considerado um incentivo significativo para atrair e manter indústrias na região", afirmou o secretário.

Ele ainda explicou que a razão para essa política é proteger a indústria têxtil local da concorrência internacional, como a produção em massa e os preços baixos das indústrias chinesas. "Esses benefícios fiscais são vistos como uma forma de promover a competitividade, manter empregos e gerar mais renda na região, fortalecendo a economia local contra os desafios globais", avaliou Laureano.

O secretário de Estado do Turismo e Desenvolvimento Econômico, Miguel Ângelo, frisou que a indústria têxtil de São Bento é um dos pilares econômicos mais importantes da Paraíba e tem um papel fundamental no desenvolvimento do estado, que se destaca como o mais competitivo do Nordeste e o sexto mais competitivo do Brasil, com uma economia diversificada e em expansão.

"A região de São Bento é central nesse processo. A indústria têxtil local não só gera emprego e renda, mas também posiciona a Paraíba como um ator relevante no mercado global. Estamos prontos para continuar expandindo nossos horizontes e explorar ainda mais o potencial de exportação dos nossos produtos, que são de altíssima qualidade", afirmou.

Miguel frisou que os produtos fabricados em São Bento são reconhecidos pela alta qualidade e conforto, o que diferencia a produção na cidade das redes comuns encontradas no mercado.

"As redes produzidas em São Bento não são simples artigos têxteis, mas verdadeiras obras de arte, comparáveis aos tapetes persas pela qualidade de acabamento e design refinado. Quando recebemos turistas na Paraíba, fazemos questão de mostrar essas redes, que impressionam pela qualidade e pelo conforto. Elas são um símbolo do nosso estado e representam a excelência do que produzimos aqui", ressaltou o secretário.

Apoio do Banco do Nordeste e Sebrae garantem consolidação do segmento têxtil, mas informalidade é alta

São Bento é a capital mundial das redes (Foto: Michelle Farias/Pauta Real)



São Bento é uma cidade que, ao longo da sua história e apesar das crises que o Brasil enfrentou, conseguiu manter-se em crescimento constante, gerando emprego e renda não só para a população local, mas também para as cidades ao seu redor. Essa é avaliação do superintendente do Sebrae Paraíba, Luiz Alberto Amorim, que ressaltou o papel da entidade em garantir qualificação e orientações aos empreendedores da região.

"O Sebrae teve um papel crucial em todo esse processo, levando a São Bento o que é essencial para o sucesso de qualquer empresa: inovação e qualificação. Com o tempo, a principal competição enfrentada pela cidade foi a chegada dos produtos chineses, como redes feitas de nylon, mais baratas, que inundaram o mercado. Para enfrentar essa concorrência, São Bento inovou, aplicando design e criando produtos mais sofisticados e valorizados, como as redes de luxo", pontuou.

Ele relembra que a entidade ajudou a levar conhecimento, informação e técnicas para que os empresários locais pudessem inovar e competir, o que significou mais mercado, mais renda, investimentos e, consequentemente, mais empregos e qualidade de vida.

"Hoje, quando se chega a São Bento, é possível perceber como o padrão de vida melhorou, e isso se deve à evolução econômica e às oportunidades criadas pela indústria têxtil local. Importante destacar que São Bento é tanto industrial quanto comercial, e talvez tenha a maior rede de distribuidores individuais de redes de dormir do mundo. Quando um morador não está produzindo, está vendendo. Eles viajam o Brasil e vão até além das fronteiras nacionais, mostrando a importância de São Bento para a Paraíba e para o Brasil", completou o superintendente.

Somente o Banco do Nordeste aplicou R$18,6 milhões no setor têxtil da cidade no ano passado, entre microcrédito rural e urbano, além de empresas de maior porte. A linha de crédito mais utilizada é o Microcrédito CrediAmigo, que conta com uma unidade de apoio ao atendimento dos clientes em São Bento.

Apesar dos investimentos e incentivos, a informalidade ainda é alta no segmento têxtil de São Bento. Quase 85% dos 354 produtores ainda atuam na informalidade, segundo dados do Sebrae.

O dado se reflete também nos atendimentos do BNB, onde a maioria dos clientes ainda trabalha na informalidade, em atividades têxteis fracionadas, em especial redes de dormir, a exemplo de fios, tecidos, punhos, varandas e outros apetrechos que trazem diferenciação ao produto. Além dos clientes informais, empresas de todos os portes compõem outras carteiras de negócios da agência do Banco do Nordeste de Catolé do Rocha, que atende o município de São Bento.

A entidade ainda ressaltou que a atividade têxtil aquece e transforma a cidade de São Bento. Da mesma forma, os demais municípios da região sofrem forte influência desse setor, que alarga suas atividades para todo o Sertão da Paraíba.

Assista - "São Bento: a cidade paraibana que conquista o mundo com redes de qualidade"



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