Projeto investiga o efeito da nanomolécula de carbono no solo e na planta, com foco na recuperação de áreas degradadas e impactadas pelo desmatamento. Projeto Nanorad's investiga o efeito da nanomolécula de carbono no solo e na planta
Já imaginou uma área degradada ser reflorestada com uso de nanomoléculas de carbono? Com uso da castanheira, árvore nativa da Amazônia, este é ponto de partida do Projeto "Nanorad's", que investiga a possibilidade de reflorestar áreas desmatadas mais rápido por meio da tecnologia.
Com um investimento de R$ 4 milhões, o projeto é uma parceria da Shell Brasil com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e busca usar a arbolina - uma nanomolécula de carbono da Startup Krilltech.
A arbolina é utilizada como um biofertilizante para aumentar a tolerância das plantas ao estresse provocado pela baixa disponibilidade de nutrientes das áreas degradadas. O projeto foi implantado nos nove estados da Amazônia Legal, que sofrem com o desmatamento e queimadas.
Projeto Nanorad's investiga o efeito da nanomolécula de carbono no solo e na planta.
Gato Júnior/Rede Amazônica
Como nessas áreas as condições são desfavoráveis, o processo de recuperação do solo é desafiador. Segundo o coordenador de de Baixo Carbono Shell, André Cavalcante, o projeto vai investigar como a nanotecnologia pode potencializar o crescimento das árvores nesses espaços.
"A gente quer entender esse processo para acelerar a recuperação de áreas degradadas, entender como a gente pode otimizar o aceleramento de reflorestamento no bioma da Amazônia. [...] Essa molécula tem uma aplicação folhear, que ela visa acelerar o crescimento dessa planta, no caso, estamos falando da castanheira e também trazer mais resiliência. Então ela vai fazer que a castanheira aguente períodos mais longos sem precisar de água", explicou o coordenador, ao g1.
Inicialmente, castanheira foi escolhida como a árvore-chave para dar início ao projeto. O pesquisador do Inpa responsável pelo projeto, José Francisco, afirmou que a espécie é capaz de se adaptar em áreas degradadas.
Além disso, a castanheira atende os requisitos do Nanorad's, como aguentar uma exposição maior ao sol e a altas temperaturas.
"Nós selecionamos a castanheira, não só pela importância econômica da castanheira, mas também porque ela é uma planta que é capaz de suportar esses estresses", explicou o pesquisador.
Projeto Nanorad´s em Manaus
Projeto planta mudas de castanheiras em áreas degradadas.
Bianca Fatim/g1
Em Manaus, a primeira a área que começou a receber as mudas do projeto foi um terreno no Instituto Federal do Amazonas (Ifam) Campus Zona Leste, que também aderiu ao Nanorad´s. O espaço que será reflorestado é próximo ao Parque das Castanheiras, área com grande quantidade de árvores da espécie na capital amazonense.
No entanto, os pesquisadores contaram que a área em que o projeto foi implantado em Manaus não foi a primeira a ser cogitada. Inicialmente, um outro ponto do Ifam foi citado nas discussões dos pesquisadores.
Castanheiras foram as árvores escolhidas.
Bianca Fatim/g1 AM
O professor do Ifam Manoel de Jesus, coordenador do Projeto Nanorad's no Amazonas, contou que ao fazer uma análise do solo, a equipe encontrou pequenos artefatos. Além disso, a terra apresentou uma coloração mais escura do que o normal. O local foi identificado como um sítio arqueológico.
"Fizemos um comunicado para o Instituto de Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Iphan), para mandar a análise do solo e foi feita uma perfuração para verificar se tinha mesmo os artefatos. E realmente foi identificado que era um sítio arqueológico", contou o professor.
Após a ideia inicial ter sido descartada, o Ifam disponibilizou um novo espaço para o projeto ser implementado em Manaus. O instituto também cedeu uma área em Humaitá, cidade situada no Sul do Amazonas, região que lidera os desmatamentos no estado.
Nos locais de implantação do projeto, a arbolina é pulverizada em três métodos:
Plantio puro - somente com castanheira;
misto - castanheiras com outra árvore do bioma local;
agroflorestal - castanheiras combinadas com outras espécies frutíferas.
Além disso, um sensor é implantado nos caules para mensurar, em tempo real, as características das árvores como circunferência e índices de estoques de carbono na biomassa e acima do solo.
O objetivo é que o "laboratório vivo" documente a dinâmica da restauração florestal e compreenda o potencial impacto da arbolina nos custos de projetos de reflorestamento.
Padronização do projeto
Arbolina é arborizada em árvores da castanheira.
Divulgação
Para obter resultados positivos, os pesquisadores tiveram que criar um padrão no projeto nos nove estados da Amazônia Legal.
A padronização das mudas e similaridade dos espaços em todas as fases do processo é essencial para que o Projeto Nanorad's identifique se a nanomolécula é uma alternativa eficaz para acelereação do reflorestamento.
"Essa padronização foi bem desenhada desde do início, para que a gente tenha tanto mudas padronizadas, quanto áreas degradas padronizadas. Porque o projeto visa recuperar essas áreas na Amazônia legal. Essa padronização vem desde dessa etapa de seleção da área, coleta dos solos, adubação, corviamento, até chegar o plantio", disse a gestora do projeto na Amazônia Legal, Josiane Celerino.
Iniciada em 2022, a pesquisa deve durar três anos. A Shell Brasil financia o projeto com recursos oriundos da cláusula PD&I da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que estabelece que concessionárias destinem de 1% da receita bruta em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no Brasil.
Vídeos mais assistidos do Amazonas
Fonte: G1