"É lamentável que altas autoridades da República, que apoiavam a Lava Jato, tenham se tornado ferrenhas opositoras da operação da noite para o dia, a ponto de demonizar e perseguir ilegalmente juízes e procuradores quando isto se tornou conveniente para seus projetos pessoais e ambições de poder político", afirma o texto.
Sem citar diretamente o nome de Dantas, a nota do deputado cassado menciona o fato de o presidente do TCU ser hoje cotado para a próxima indicação de Lula (PT) para o STF —"o que deveria levantar sérios e críticos questionamentos da sociedade e da imprensa a respeito de suas motivações ao atacar a Lava Jato e seus agentes."
Em 2018, quando a Lava Jato ainda gozava de amplo respaldo político e jurídico, a relação entre Dantas e Deltan já não era boa.
Em junho daquele ano, por exemplo, o ministro do TCU deu entrevista ao jornal O Globo em que chamou de "carteirada" uma decisão de Sergio Moro, então juiz da operação, que proibia o uso de provas contra empresas e delatores que haviam firmado acordo de leniência com a força-tarefa.
Os arquivos de Deltan vazados posteriormente mostram que o procurador se prontificou à época a fazer uma manifestação pública dura contra Dantas, supostamente a pedido de Moro.
O tribunal de contas avaliava à época que os valores a serem ressarcidos pelos envolvidos eram bem superiores. Em artigo publicado na Folha de S.Paulo no final de 2017, Dantas já havia dito considerar que "o acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de reparar integralmente o dano causado".
Devido a essas conversas de 2018, o hoje presidente do TCU requereu em julho de 2023 acesso completo aos dados da Spoofing, o que foi concedido pelo STF.
Já em 2021, Dantas acatou representação do Ministério Público junto à corte e determinou um pente-fino nos gastos da Lava Jato com viagens e diárias.
Em agosto de 2022, a Segunda Câmara do TCU determinou que Deltan e outros procuradores devolvessem mais de R$ 2,8 milhões ao erário. Deltan conseguiu a suspensão da condenação na Justiça do Paraná. Em junho de 2023, porém, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou recurso de Deltan e confirmou decisão anterior.
Maior investigação sobre corrupção conduzida no Brasil, a Lava Jato iniciou-se em 2014 no Paraná e, sob o comando de Deltan na Procuradoria e Moro como juiz do caso, mostrou a existência de um vasto esquema de corrupção na Petrobras. Acabou sendo determinante, entre outros movimentos, para o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.
Em julho de 2017, Moro sentenciou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão e, em abril de 2018, determinou a sua prisão após a confirmação da sentença na segunda instância.
Com Lula fora do páreo eleitoral, Jair Bolsonaro (então no PSL) derrotou Fernando Haddad (PT) no segundo turno e virou presidente da República. Dias depois, Moro abandonou a magistratura e se tornou ministro da Justiça de Bolsonaro.
A operação sofreu seu maior baque em junho de 2019, quando o site The Intercept Brasil divulgou pela primeira vez mensagens evidenciando uma ação alinhada entre Ministério Público e Moro.
Desde então a operação e seus integrantes perderam sustentação política e no Judiciário e sofreram uma série de reveses, em especial a anulação das condenações contra Lula, a declaração pelo STF de que Moro foi um juiz parcial nos casos do atual presidente e a cassação do mandato de deputado de Deltan.
Fonte: Estadão