O sargento Exército Luis Marcos dos Reis alegou, nesta quinta-feira (24/8), que as movimentações atípicas registradas em sua conta, reveladas pelo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), foram decorrentes de consórcios realizados entre amigos militares e a venda de um carro, no valor de R$ 74 mil, para o tenente-coronel Mauro Cid. A declaração ocorreu durante depoimento da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro.
De acordo com o Coaf, houve uma movimentação de R$ 3,3 milhões na conta bancária do sargento, e parte desse valor teria sido repassado para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e então chefe de Reis. Segundo o militar, existia uma relação de amizade entre ele e coronel, na qual um emprestava dinheiro para o outro e, por isso, aparecem nos extratos bancários depósitos e transferências.
“A fonte do dinheiro, dos R$ 70 mil, foi quando eu anunciei o carro pela OLX, um Yaris branco. O carro foi comprado pelo coronel Cid, o carro era dele, único dono, e eu anunciei o carro para vender”, disse Reis. O sargento explicou que o valor do carro era de R$ 74 mil, mas constavam algumas multas e foi descontado cerca de R$ 2 mil do total. Com isso, a compradora transferiu para ele R$ 72 mil e foram devolvidos para Cid R$ 70 mil, já que ele teria autorizado o depoente a ficar com uma pequena parte do montante como pagamento por ter feito a intermediação da compra.
“É aquela coisa, às vezes eu pagava alguma coisa para ele. Estava em um avião, eu pagava um lanche, comprava um presente, e depois ele me devolvia o dinheiro. Então, essa é a fonte do dinheiro do coronel Cid”, disse o depoente. Segundo o Coaf, também houve uma outra transação entre os militares, no valor de R$ 11 mil. Sobre isso, o sargento alegou que foi por uma troca de pneus e manutenção de um outro carro de Mauro Cid.
Ainda de acordo com os esclarecimentos prestados por Luis Reis na CPMI, os valores que aparecem no relatório do Coaf estão duplicados e, por isso, resultaram no montante de mais de R$ 3 milhões. Segundo ele, a somatória real seria de aproximadamente R$ 500 mil.
Parte desse dinheiro teria sido recebido como pagamento por serviços prestados enquanto militar. Ao ir para a reserva, o militar explicou que recebeu cerca de R$ 170 mil e esse montante teria sido movimentado com transferências feitas para um investimento dele mesmo, em outra instituição financeira destinada, exclusivamente, a aplicações.
Aparecem no relatório ainda, transferências entre a madeireira Cedro do Líbano e o dono da empresa, que é investigado pela Polícia Federal por movimentações financeiras atípicas, que somaram R$ 32 milhões, e teriam sido realizadas para pagar despesas de Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Sobre isso, o sargento disse que os valores movimentados, cerca de R$ 49 mil, foram em decorrência de um consórcio.
A relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), ressaltou que, o depoimento e as explicações sobre as movimentações financeiras entre Reis, a empresa Cedro do Líbano e o coronel Cid, é “para entender quem irrigou o 8 de janeiro, de onde veio o dinheiro que irrigou o 8 de janeiro”.
“Todo esse questionamento é porque o senhor é militar, o senhor estava na ajudância de ordens do presidente da República do Brasil e o senhor tem movimentações que são absolutamente estranhas, com empresas que fizeram convênios com o Governo Federal”, destacou a senadora.
“É uma madeireira [Cedro do Líbano], mas que fez convênio com o Governo Federal para venda de equipamentos agrícolas. Ou seja, há uma coisa absolutamente confusa e estranha nesse conjunto. O senhor era uma pessoa absolutamente próxima a Mauro Cid e no celular de Cid havia uma minuta de golpe. Há, de fato, muita confusão nesse emaranhado de transações financeiras”, declarou a parlamentar.
Fonte: Estadão