G1
Bloqueio deve atingir gastos não obrigatórios do governo, reduzindo ainda mais verbas para custeio e investimento. Teto de gastos limita despesas da União à inflação do ano anterior. Depois de estourar teto de gastos, governo anuncia bloqueio de R$ 6,7 bilhões do orçamentoO Ministério da Economia anunciou nesta sexta-feira (22) um bloqueio adicional de R$ 6,74 bilhões no Orçamento deste ano. Na prática, a medida reduz ainda mais as verbas destinadas aos ministérios. A restrição total nos gastos já chega a R$ 12,74 bilhões.O termo técnico para o bloqueio é "contingenciamento", e o anúncio desta sexta representa o terceiro corte deste ano. O governo adota a medida para cumprir a regra do teto de gastos, que limita as despesas da União à inflação do ano anterior.O bloqueio adicional servirá, principalmente, para o governo encaixar no orçamento os custos da Lei Paulo Gustavo e o piso salarial dos agentes comunitários de saúde, que entraram em vigor no primeiro semestre deste ano (veja abaixo).A informação sobre o novo bloqueio consta do "Relatório Bimestral Avaliação das Receitas e Despesas" publicado em edição extra do "Diário Oficial da União".O documento avalia, entre outros itens, se é necessário um bloqueio de verba para cumprimento das regras fiscais.Enquanto o governo anuncia o bloqueio dos recursos alegando que precisa cumprir o teto de gastos, o Executivo vem liberando – fora do teto – verbas bilionárias para turbinar programas sociais só até o final do ano. As medidas fazem parte do pacote pré-eleitoral criado pela PEC Kamikaze, promulgada pelo Congresso na semana passada.O gasto criado pela emenda chega a R$ 41,2 bilhões e corresponde a um incremento no Auxílio Brasil, no Auxílio-Gás e no programa Alimenta Brasil, bem como inclui repasses aos estados por incentivos tributários ao etanol e para garantir o transporte público de graça para idosos.O novo bloqueio foi necessário porque houve aumento na estimativa dos gastos obrigatórios sujeitos ao teto de gastos, mesmo diante dos recordes recentes de arrecadação com impostos e contribuições. O bloqueio deve atingir principalmente as chamadas despesas discricionárias, isto é, nos gastos não obrigatórios. O governo pode cortar esses gastos para cumprir o teto. Trata-se de dinheiro disponível para investimento e custeio da máquina pública.Ana Flor: Bloqueio de recursos do orçamento deve ser acima de R$ 5 biCultura e piso salarial da saúdeO bloqueio de R$ 6,74 bilhões feito em gastos opcionais servirá para o governo bancar, principalmente, duas novas despesas obrigatórias: incentivos à cultura e o piso salarial dos agentes comunitários de saúde.O governo também fez um remanejamento para liberar os R$ 2,5 bilhões que estavam bloqueados no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).Como o Congresso derrubou o veto à Lei Paulo Gustavo, o governo federal vai gastar R$ 3,9 bilhões em repasses a estados e municípios para socorrer o setor cultural por perdas relacionadas à pandemia.O governo ainda vai repassar a estados e municípios outros R$ 2,24 bilhões para atender ao piso salarial dos agentes comunitários de saúde. O Congresso alterou a Constituição em maio para fixar um piso de dois salários mínimos para a categoria.O Ministério da Economia não informou se o bloqueio de R$ 6,74 bilhões atingirá também o chamado "orçamento secreto" – emendas parlamentares de livre indicação.O detalhamento de quais ministérios sofrerão a restrição de verbas será divulgado no decreto do governo que programa a execução do Orçamento. Esse texto precisa ser publicado no "Diário Oficial da União" até a próxima sexta-feira (29).Terceiro bloqueio no anoO contingenciamento anunciado nesta sexta é o terceiro realizado neste ano.O primeiro, em março, foi de R$ 1,72 bilhão sobre as emendas de relator, conhecidas como "orçamento secreto".O segundo bloqueio, em maio, foi de R$ 6,96 bilhões, abaixo dos R$ 8,2 bilhões inicialmente anunciados.Na ocasião, o governo desistiu de manter uma reserva que seria para pagar parte do reajuste aos servidores do executivo federal. O governo acabou desistindo de dar o reajuste.Entre maio e julho, o governo conseguiu liberar cerca de R$ 2,68 bilhões para os orçamentos dos ministérios. Com isso, o valor total bloqueado estava em cerca de R$ 6 bilhões.O terceiro bloqueio anunciado nesta sexta – de R$ 6,74 bilhões – faz com que a restrição total ao Orçamento chegue aos R$ 12,74 bilhões.