Minas Gerais perdeu 47.376 hectares de mata nativa em 2021, segundo o Relatório Anual de Desmatamento no Brasil (RAD), feito pela MapBiomas. Esse número representa um aumento de 88% nas perdas, se comparadocom os dados de 2020, e 2,86% de toda a área desmatada no último ano no Brasil. O Norte de Minas foi a região mais afetada no estado. Segundo o levantamento, Minas está entre os 11 estados brasileiros que superaram a média de 100 hectares desmatados por dia ao longo de 2021. Além de Minas Gerais, Pará, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Bahia, Rondônia, Piauí, Tocantins, Acre e Mato Grosso do Sul estão na lista.O coordenador técnico do MapBiomas, Marcos Rosa, lembra que em Minas há dois biomas afetados: Mata Atlântica e Cerrado. Segundo ele, a maior quantidade de alertas pode ser explicada pelo Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica, mas a área mostra um aumento maior de desmatamento no Cerrado. “O tamanho médio do desmatamento aumentou. Antes eram um pouco menores e agora temos muitos em áreas com mais de 100 hectares.” Em Minas, são 130 hectares por dia de área desmatada e a destinação principal é a agropecuária. “Tem algum desmatamento para a mineração, mais próximo de Belo Horizonte. E um pouco também para a expansão urbana concentrada na Região Metropolitana de BH.” Rosa lembra que nos anos anteriores, principalmente entre 2007 e 2013, quando a fiscalização era mais rigorosa, o tamanho das áreas desmatadas era menor. O objetivo era tentar fugir da fiscalização. “O que chama a atenção é o aumento no tamanho médio do desmatamento, dando a sensação de impunidade e de que as pessoas estão se sentindo mais à vontade para fazerem desmatamentos maiores.” Segundo o técnico, isso pode ser um indício de uma fiscalização menos rigorosa. Entre as unidades de conservação com maior área desmatada estão a Área de Proteção Ambiental Bacia do Rio Pandeiros (15º lugar), com 1.754 hectares desmatados, e a Área de Proteção Ambiental Cochá e Gibão (21º lugar), com 1.012,2 hectares desmatados. Considerando as comunidades remanescentes de quilombos, as com maiores áreas desmatadas são a Gurutuba, em terceiro lugar geral , com 168,2 hectares desmatados, e a comunidade São Sebastião (16º lugar), com 16 hectares desmatados. Dos alertas de desmatamento, 61% não tiveram autorização ou ação de fiscalização do órgão estadual.
DEVASTAÇÃO A cidade de São João do Paraíso, no Norte de Minas, apresentou o maior desmatamento detectado no bioma Mata Atlântica em 2021. Segundo o relatório, 455 hectares de mata foram perdidos na região. O relatório ainda aponta que a ação no Norte do estado não consta na lista de autorizações emitidas pela Diretoria de Fiscalização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e a área já foi alvo de fiscalização em maio deste ano com a suspensão das atividades. “Na divisa entre Mata Atlântica e Cerrado tem sempre uma discussão na tentativa de liberar áreas de Mata Atlântica, conhecidas como matas secas. São áreas que na época da seca perdem as folhas. Então, o processo de conversão dessas áreas de matas nativas para a silvicultura é muito grande. Mas elas continuam abrangidas pela Lei de Proteção da Mata Atlântica e não poderiam ter autorização de desmatamento.” As áreas do Norte de Minas estariam incluídas nesta lei. “É preciso ter bastante cuidado com as autorizações emitidas pelo estado sobre essas áreas na Região Norte de Minas”, defende. Porém, ele ressalta que o governo do estado vem atuando no combate ao desmatamento. “Em 2021, as autoridades atuaram em 50% dos desmatamentos identificados.” Em 2019, a atuação foi em 33% e 40% em 2020. “As ações do governo federal diminuíram muito. Então, hoje, a responsabilização tem que ser mais dos estados. É importante que eles deem transparência sobre as ações de fiscalização e autorizações de desmatamento.”
IMPACTOS A perda dessas áreas desmatadas gera impactos em vários níveis. “Primeiro é a emissão de carbono que contribui para as mudanças climáticas. Segundo a perda de áreas naturais que são essenciais para proteger não só a qualidade mas também a quantidade de água. A retirada da cobertura vegetal degrada o solo e facilita a sedimentação”, diz Rosa. O técnico aponta ainda a questão da biodiversidade. “Muitas vezes, o desmatamento afeta áreas que nunca foram estudadas, com espécies de flora e fauna que ninguém conhece.” E mais: “Vemos que 99% dos produtores não fizeram desmatamento no período”, diz, lembrando que, mesmo seguindo as regras eles terminam penalizados, já que têm custos para demonstrar que não o fazem no mercado internacional que exige que não haja desmatamento na cadeia de produção.
AMAZÔNIA NO TOPO O relatório mostra que o desmatamento no país aumentou 20% em 2021. Segundo a pesquisa, 16.557km² da cobertura de vegetação nativa foram perdidos em todos os biomas brasileiros. A Amazônia corresponde a 59% de todo o desmatamento no país, já o Cerrado contribui com 30%. Segundo o relatório, a agropecuária foi a grande responsável por quase todo o desmatamento do país, com percentuais acima de 97%. Os garimpos, mineração e a expansão urbana são outros vetores relevantes apontados pela RAD. A maior parte das áreas desmatadas estão em Área de Proteção Ambiental (61,6%). Além disso, mais de 99% da área desmatada no Brasil teve pelo menos um indício de irregularidade. O técnico da MapBiomas ressalta que as queimadas podem estar ligadas a este aumento do desmatamento. Segundo Rosa, o desmatamento monitorado não considera queimadas naturais.
Fonte: Estadão