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Circo Voador faz 40 anos cheio de histórias de amor, perrengue, luta e música

Por Jr Blitz 15/01/2022 às 06:04:49
Há quatro décadas, Circo mudou de casa, passou por dois fechamentos e encara momento de pandemia. Circo Voador em 2004, perto da reabertura.

Leonardo Aversa /Agência O Globo

Há 40 anos, em uma sexta-feira, o Circo Voador fazia seu primeiro pouso. A data: 15 de janeiro de 1982, no Arpoador.

MPB, funk, samba, punk, teatro e passaram por lá, nas mais de 5 mil atrações que já estiveram na lona, entre voos pelo Arpoador e a Lapa, com escalas no Maranhão, em Fortaleza, em Pernambuco e no México.

Mas o Circo é muito mais que as atrações nos palcos. Milhares de histórias se cruzam e têm o Circo Voador como cenário. Esta matéria contra quatro delas.

Veja fotos de grandes artistas se apresentando no circo ao final da matéria.

CIrco voador abriga grandes momentos de estrelas da música. Nesta foto, Caetano e Cazuza trocam um beijinho em 1983.

Roberto Garzon

Circo, coisa de família

Desde que nasceu, Gaby Morena vive o Circo Voador

Arquivo pessoal

A história da Gaby Morena, de 38 anos, com o Circo Voador, começa quando ela nasceu — por pouco, o parto não foi no palco, ela brinca. Sua mãe, a produtora Maria Juçá, trabalhava no Circo Voador e estava produzindo um festival de punk rock enquanto estava grávida.

"Eu nasci nesse noite punk, muito louca, e os maiores punks foram para a maternidade. O Circo era o meu quintal de casa, ia muito lá na minha infância, adolescência. Já trabalhei com tudo: servi chope, vendi ingresso, servi, produzi", conta ela, que, hoje, é coordenadora de projetos e produtora da casa e já atravessou, junto com o Circo passar por muitos altos e baixos.

"Quando eu tinha 13 anos, o Circo fechou e minha família lutou cegamente para reabrir o Circo. Eu morei em várias casas de amigas da minha mãe porque a gente ficou totalmente sem dinheiro, ela passou 8 anos desempregada, empenhada nessa batalha pela recuperação, chegou a fazer greve de fome", diz ela, que tem mil histórias para contar e fala com amor do trabalho.

O fechamento aconteceu em 96 quando o prefeito eleito Luiz Paulo Conde resolveu comemorar a vitória da eleição no local. O público e a banda Ratos de Porão estranharam a presença e quase viraram o carro do chefe do executivo municipal. César Maia, que ainda era prefeito, mandou fechar o circo - o espaço era cedido pela cidade.

Maria Juçá empreendeu uma longa luta, de 8 anos, para conseguir recuperar o local. Em 2004, o Circo abriu as portas ao público de novo.

Mais recentemente, foram os filhos de Gaby que tiveram o privilégio de ter o Circo como quintal de casa, durante o isolamento devido à pandemia de Covid-19. O momento vem sendo um desafio para todo o setor da cultura, inclusive o Circo, que ficou fechado de março de 2020 a outubro de 2021 e vem encarando a retomada com muita cautela por conta do momento e do recente aumento de casos de Covid-19.

Verão de 82: série do RJ lembra os 40 anos do Circo Voador e da explosão do rock brasileiro

Decolagem

Fundador do Circo Voador, ator e produtor Perfeito Fortuna

Arquivo pessoal

Se Gaby quase nasceu dentro do Circo, o Circo Voador nasceu, primeiro, dentro da cabeça do ator e produtor Perfeito Fortuna. Integrante do grupo de teatro Ardrúbal Trouxe o Trombone, sentiu surgir com os companheiros a necessidade de um lugar físico para propor ideias, formas e conteúdos. E esse lugar acabou se materializando no Arpoador, em 82, e foi batizado por Fortuna.

"O lugar mais caro do Rio foi invadido por uma tribo de jovens enlouquecidos com a possibilidade de criar, de fazer coisas. Nunca pensei que fosse chegar a isso, a ser chamado para falar dos 40 anos daquele acontecimento intergaláctico lá na ponta do Arpoador", diz Perfeito Fortuna.

Circo Voador nasceu no Arpoador

Ricardo Chaves / Editora Abril

O Circo Voador recebeu autorização do prefeito Julio Coutinho para ficar no Arpoador, quando o Bairro estava em obra. Mas a vizinhança não gostou.

"Naquele lugar muito nobre da cidade, a gente apareceu e colocou um cirquinho, as pessoas foram dormir e acordaram com aquele lugar onde acontecia música, aula, essa mistura deu em um momento encantado! A gente brilhou ali e continua até hoje", diz Perfeito Fortuna que, hoje, não tem mais relação com o Circo Voador e assumiu a Fundição Progresso.

O Circo, conta Fortuna, fez escala no Maranhão, em Fortaleza, em Pernambuco e no México e pousou na Lapa de vez ainda em 82, em outubro, mas não perdeu seu espírito itinerante.

"Fazer parte do Circo Voador me engrandece, apesar de eu não ter mais relação com o circo, mas o circo é mais do que eu, a obra extrapola o autor", diz.

Um palco e um casamento

Circo foi transformado para uma cerimônia de casamento

Arquivo pessoal

A produtora Bia Araújo, de 39 anos, e seu marido Ayrton Torturelle, de 33, tiveram um privilégio para poucos: o casamento dos dois, em 2017, teve o Circo Voador como cenário.

O espaço não pode ser alugado para cerimônias, mas Bia já havia trabalhado no Circo e tinha amigos lá e acabou sendo presenteada com a locação para a cerimônia. O Circo ficou irreconhecível para o grande dia do casal.

Circo Voador mudou totalmente de visual para receber um casamento.

Arquivo pessoal

"A gente foi se organizando para casar e era tudo muito caro e eu ganhei o Circo de presente e é uma onda, né? Quando penso que casei no Circo acho demais. Era o lugar que eu conhecia tanto, mas transformado, ficou demais", conta ela.

Ayrton queria porque queria que o palco carioca emblemático, onde tantas estrelas já passaram, fosse utilizado durante o casamento.

"A gente não tinha grana para uma atração. Mas eu conversei com o pessoal do [bloco Cordão do] Bola Preta, chorei o preço, pedi desconto, e contratei o bloco, sem ninguém saber", lembra.

Os músicos apareceram de surpresa, no meio do casamento e foi inesquecível para o Ayrton, para o pai de Bia, apaixonado pelo Bola Preta, e, claro, para todos os convidados. "Eu me senti em casa, mas em um sonho", diz.

Romance voador

Luciano e Eliane se conheceram em uma festa no Circo Voador e nunca mais se separaram.

Arquivo pessoal

E por falar em amor, uma certa noite dois desconhecidos saíram de casa para o evento de 10 anos da Fest Ploc, no Circo Voador, em 2015. Uma filha e muitos shows depois, este ano o casal completa 7 anos juntos.

Luciano Corrêa, de 43 anos e Eliane Oliveira de Miranda, de 44, nunca mais se desgrudaram depois daquela noite e, além de casados, trabalham juntos.

"O show já tinha terminado e ficamos batendo papo com o pessoal que estava com a Silvana, um amigo meu bêbado estava dando em cima dela, e, como eu vi que ele estava sendo inconveniente, eu a chamei para conversar", conta ele.

O papo foi tão longo que os dois acabaram sendo expulsos do Circo, que já havia ficado vazia. O primeiro beijo rolou na esquina. O casal voltou muitas outras vezes juntos ao Circo.

"E toda vez que completamos anos eu paro para Assistir o DVD afinal nem todo mundo tem registrado o seu último dia de solteiro", conta o empresário.

A propósito, a amizade entre ele e o amigo continua.

Legião Urbana se apresenta no Circo em 1983

Maria da Piedade Moraes

Blitz no Circo Voador, em 1984

Maria da Piedade Moraes

Paulinho da Viola, Beth Carvalho e Caetano Veloso no evento Tancredance, em 1985

André Durão

Chico Buarque no evento Tancredance em 1985

André Durão

Cássia Eller no palco, em 1991

Julio Cesar Guimarães / Agência O Globo

Zeca Pagodinho se apresenta em 2008

Acervo Cirvo Voador

– Luedji Luna no show de reabertura do Circo, em 2021

Michelle Castilho

Tim Maia e Vitória Régia em 1983

Licia Nara

Fonte: G1

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