Kiev concordou com proposta dos Estados Unidos para pausar os combates por 30 dias, mas o Kremlin ainda não deu aval à proposta. Putin questionou pontos do texto e colocou suas próprias condições para que a t´regua entre em vigor. Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (à esquerda), e o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
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REUTERS/Alina Smutko/File Photo/Maxim Shemetov
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Pouco mais de três anos após o início dos combates, uma proposta de cessar-fogo pode levar à primeira pausa na guerra entre Ucrânia e Rússia. O texto, de autoria dos Estados Unidos, propõe uma trégua de 30 dias e foi aprovado pela Ucrânia, após uma reunião com as delegações de Washington e Kiev, na Arábia Saudita.
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A posição da Rússia, no entanto, ameaça fazer com que a porposta não saia do papel.
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Um assessor de Trump para assuntos internacionais, Steve Witkoff, viajou a Moscou na quarta (12), um dia após o aval ucraniano, para tentar conseguir a aprovação do Kremlin. A resposta de Putin, no entanto, veio com algumas condicionantes.
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Na quinta-feira (13), o presidente russo disse que aceitaria a interrupção do conflito, mas colocou uma série de condições.
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Putin questionou, por exemplo, se a Ucrânia continuará recebendo armas durante a trégua de 30 dias, se usaria o tempo para treinar seus militares e como o cessar-fogo seria monitorado ao longo de 2 mil quilômetros de fronteira e o que aconteceria com a região russa de Kursk onde suas tropas agora cercam soldados ucranianos.
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Além disso, Putin exige concessões importantes de Kiev. Veja quais são elas:
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Reconhecimento dos territórios ucranianos invadidos como pertencentes à Rússia
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Proibição de entrada da Ucrânia na Otan, a aliança militar do Ocidente
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Proibição da entrada de tropas de paz estrangeiras no território ucraniano
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As exigências do Kremlin tocam em pontos delicados das relações entre os dois países, e até mesmo da relação entre Moscou e a Europa.
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Putin condiciona cessar-fogo com a Ucrânia a exigências, como manter territórios que invadiu
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Território ucraniano
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A Rússia anexou cerca de um quinto do território da Ucrânia, avançando por regiões do leste do país. A Ucrânia tentou avançar também em terras russas, e chegou a controlar uma pequena região da província de Kursk, mas suas tropas estão sendo rapidamente repelidas no local.
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A disputa pelo desenho das fronteiras já dura mais de dez anos: em 2014, a Rússia anexou, com o auxílio de separatistas pró-Moscou, a península da Crimeia e partes das províncias de Donetsk e Luhansk. Embora controle essas regiões, elas não são reconhecidas como parte da Rússia pela comunidade internacional.
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Desde o início da guerra, em 2022, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem afirmado que não aceitaria nenhum tipo de acordo de paz que desfizesse a integridade territorial do país.
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Nesta semana, porém, o presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu que a cessão de regiões para a Rússia está na mesa de negociações — e inclui até mesmo a usina nuclear de Zhaporizhzhia, a maior da Europa.
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"Estamos discutindo com a Ucrânia territórios que serão mantidos e perdidos, e todos os outros elementos de um acordo de cessar-fogo. Tem uma usina de energia envolvida, uma usina muito grande, então que é que vai ficar com a usina, com isso, com aquilo, não é um processo fácil", disse o presidente dos EUA.
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Ataque russo com míssil mata mulher e fere 5 pessoas na região central da Ucrânia
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Serviço Estatal de Emergência da Ucrânia/Divulgação via Reuters
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Entrada na Otan
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A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é uma aliança militar entre países do Ocidente criada em 1949, durante a Guerra Fria para se contrapor à antiga União Soviética. O pilar da organização é o seu Artigo 5º, que considera a agressão a um dos membros como uma agressão a todos os países que fazem parte da aliança.
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Com o afrouxamento das tensõas da Guerra Fria após a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a queda da União Soviética, em 1991, acreditava-se que a Otan pudesse se tornar obsoleta.
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Durante o processo de reunificação da Alemanha, em 1990, o então secretário de Estado dos EUA, James Baker, teria prometido verbalmente ao líder soviético, Mikhail Gorbachev, que a Otan não avançaria "nem uma polegada" para além da Alemanha em direção a Moscou no futuro.
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Nos anos 1990, alguns acordos de entendimento da Otan com a Rússia de Boris Yeltsin também foram firmados, alegando que as pertes não se viam como inimigas —a organização, no entanto, nunca deixou de ser vista com desconfiança por Moscou.
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Nenhum acordo formal, porém, impediu que a organização aceitasse novos países próximos ao território russo como membros. Nos anos seguintes, países do antigo bloco socialista, como Polônia e Hungria, e até ex-membros da União Soviética, como Lituânia e Letônia, entraram na organização.
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Atualmente, a Ucrânia almeja integrar o bloco, mas é considerada apenas um país parceiro. Conforme as relações com a Rússia começaram a se tornar mais tensas, a cooperação entre o país e a aliança aumentou.
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Moscou sempre demosntrou que consideraria a entrada de Kiev na aliança como um ato de agressão. A Ucrânia, no entanto, considera oficialmente o ingresso na Otan como um objetivo estratégico, o que consta na sua Constituição desde 2018.
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Primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, recebe presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em sua residência presidencial em Londres em 1º de março de 2025.
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Peter Nicholls/Pool Photo via AP
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Tropas de paz
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A ideia de enviar tropas estrangeiras para garantir o respeito ao cessar-fogo veio dos países europeus, receosos com o retorno de Donald Trump à Casa Branca e o futuro da Otan.
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Desde sua volta ao poder, Trump tem dado declarações provocativas em relação à soberania de países aliados, como o Canadá (que Trump tem chamado de "51º estado americano") e a Dinamarca (com as ameaças de anexação da Groenlândia).
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Em fevereiro, num momento em que Trump passou a atacar a Ucrânia e Zelensky pela recusa em assinar um acordo de exploração de recursos minerais, as potências europeias realizaram uma reunião de cúpula em Paris.
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Os países decidiram colocar em marcha um plano de investimento militar e rearmamento para reduzir a dependência em relação aos EUA na área de Defesa e para se contrapor aos projetos expansionistas da Rússia, bem como para seguir apoiando a Ucrânia na guerra.
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Alguns países, como o Reino Unido, se dispuseram a enviar tropas uma vez que houvesse um cessar-fogo em vigor, para garantir a interrupção dos combates, numa estratégia de "paz por meio da força".
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Com um plano de rearmamento diretamente planejado para se contrapor a Moscou, a Rússia vê com ceticismo o posicionamento de soldados de potências europeias perto de suas fronteiras.
Fonte: G1.