Discurso na última semana de governo é uma tradição entre os presidentes dos Estados Unidos. Biden fez balanço da gestão e demonstrou preocupação com o futuro do país. Presidente Joe Biden faz discurso de despedida na Casa Branca, em 15 de janeiro de 2025
Mandel Ngan/Pool via Reuters
Em discurso de despedida, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, desejou sucesso a Donald Trump e disse que o país enfrenta várias ameaças à democracia. A fala foi feita diretamente do Salão Oval da Casa Branca, na noite desta quinta-feira (15).
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Essa pode ter sido a última chance de Biden de tentar mudar a visão negativa sobre seu mandato. As últimas pesquisas indicavam que a aprovação de Biden estava em torno de 40%, com muitos americanos reclamando sobre problemas relacionados ao alto custo de vida e imigração.
O presidente iniciou o discurso celebrando o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. O plano que será implementado foi elaborado pela equipe de Biden. As negociações para o tratado foram mediadas por Estados Unidos, Catar e Egito.
Ao longo do discurso, Biden elencou alguns feitos da gestão e disse que pavimentou um caminho para que os Estados Unidos continue avançando.
O presidente desejou sucesso a Trump, mas disse que democracia do país enfrenta muitas ameaças. Segundo ele, há perigo a concentração de tecnologia, poder e riqueza na mão de pequenos grupos.
"Hoje, está se formando uma oligarquia nos Estados Unidos, baseada em extrema riqueza, poder e influência, que realmente ameaça toda a nossa democracia, nossos direitos básicos, nossa liberdade e a oportunidade justa de todos progredirem."
Biden afirmou que a democracia dos Estados Unidos se fortaleceu nos últimos quatro anos. Por outro lado, o presidente demonstrou preocupações com o futuro do país diante de acontecimentos recentes.
Ele citou, por exemplo, o fato de empresas sociais interromperem programas de checagens de fatos. Na semana passada, a Meta — dona do Facebook e do Instagram — anunciou que iria encerrar um programa do tipo. A medida foi vista como um aceno a Trump.
Para Biden, os americanos estão "enterrados" em desinformação, e a imprensa livre está desmoronando. O presidente defendeu que as plataformas de redes sociais sejam mais responsabilizadas pelos conteúdos publicados.
Outros pontos
Biden cumprimenta Kamala Harris após discurso de despedida na Casa Branca
Mandel Ngan/Pool via Reuters
O discurso da noite de quarta-feira também encerra a carreira política de Biden, que dura mais de 50 anos. Em 1972, aos 30 anos, ele foi eleito o senador mais jovem dos Estados Unidos pelo estado de Delaware.
Durante a despedida, Biden relembrou parte da trajetória e disse ter sido um privilégio ter servido ao país por cinco décadas.
"Eu entreguei meu coração e minha alma a vocês, e fui abençoado um milhão de vezes em troca com o amor e o apoio do povo americano."
Biden também agradeceu a parceria da vice-presidente Kamala Harris e elencou algumas realizações do governo. O presidente afirmou que criou milhares de empregos e ajudou a recuperar a economia dos Estados Unidos, que foi afetada pela pandemia.
No âmbito internacional, Biden disse que fortaleceu a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que permitiu que a Ucrânia continuasse sendo um país livre mesmo diante da guerra com a Rússia.
Biden também afirmou que as mudanças climáticas nunca foram tão evidentes, dando como exemplo os incêndios dos últimos dias que deixaram mais de 20 mortos na Califórnia. O presidente disse que adotou medidas para proteger o meio ambiente, o que também gerou empregos.
Segundo Biden, "forças poderosas" estão tentando desfazer ações de proteção ambiental por meio de uma "influência descontrolada". Trump prometeu revogar medidas adotadas pelo democrata no âmbito das mudanças climáticas.
"Não devemos ser intimidados a sacrificar o nosso futuro. O futuro dos nosso filhos e netos. Devemos continuar avançando, e de forma mais rápida. Não temos tempo a perder", disse.
Despedida
Joe Biden no dia da posse como presidente, em janeiro de 2021
Patrick Semansky/Pool via Reuters
Biden não está deixando a Casa Branca da maneira como esperava. No ano passado, ele tentou se candidatar à reeleição, mas acabou desistindo diante de pressões e preocupações sobre a idade avançada dele.
Em julho, Biden anunciou que apoiaria a vice-presidente Kamala Harris na corrida à Casa Branca. No entanto, a democrata foi derrotada por Trump. Agora, o presidente se prepara para transferir o poder a alguém que ele descreveu várias vezes como uma ameaça existencial à democracia do país.
Em uma carta divulgada na manhã desta quarta-feira, o democrata reconheceu que parte de suas promessas de campanha não foram cumpridas.
"Concorri à presidência porque acreditava que a alma da América estava em jogo", escreveu Biden. "A própria essência de quem somos estava em jogo. E isso ainda é verdade."
Ainda na carta, o democrata destacou feitos do governo, como tirar o país da pandemia de coronavírus, apoiar a indústria nacional e limitar o custo de medicamentos.
Biden tentou a presidência em 1988 e 2008, antes de se tornar vice-presidente de Barack Obama. Depois de dois mandatos como vice, Biden era considerado aposentado da política.
Contudo, o democrata voltou ao centro do palco como o improvável candidato do partido em 2020. Naquele ano, ele conseguiu derrotar Donald Trump nas eleições presidenciais.
"Em nenhum outro lugar do mundo, um garoto com gagueira e origens modestas de Scranton, na Pensilvânia, e Claymont, em Delaware, poderia um dia se sentar atrás da Mesa Resoluta no Salão Oval como Presidente dos Estados Unidos", escreveu Biden em sua carta.
"Dei meu coração e minha alma à nossa nação. E fui abençoado milhões de vezes em troca com o amor e o apoio do povo americano."
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Fonte: G1