Relíquia do século XVII, o relógio destruído no 8 de janeiro foi parar na Suíça para ser reconstruído. O objeto virou um símbolo de resiliência da democracia. Obras de arte destruídas por vândalos voltam, restauradas, para o Palácio do Planalto
As obras de arte destruídas por vândalos voltaram nesta quarta-feira (8), restauradas, para o Palácio do Planalto.
Despedaçado, mas ainda batendo. .Às 15h30 daquele 8 de janeiro, o relógio caiu pelas mãos do vandalismo. Chegou a ser reerguido. Mas não escapou de outro ataque. E o histórico relógio ficou destruído.
O tempo se encarregou do resto: um dos vândalos que destruíram o objeto foi condenado a 17 anos de prisão. E a relíquia do século XVII, trazida ao Brasil pela família real portuguesa, em 1808, recebeu tratamento à altura. Três séculos depois, retornou à Europa e foi restaurado na Suíça.
Relíquia do século XVII, o relógio destruído no 8 de janeiro foi parar na Suíça para ser reconstruído. O objeto virou um símbolo de resiliência da democracia
Jornal Nacional/ Reprodução
Tratado como um símbolo de valor, delicadeza e resiliência da democracia, o relógio do século XVII foi totalmente reconstruído. Reparos que exigiram pesquisa, tecnologia e muita precisão. O casco de tartaruga, o bronze revestido em ouro, os vidros abaulados, e o maquinário refeito devolveram vida ao marcador do tempo.
"Precisou da excelência, mas também da criatividade e do jeitinho suíço-brasileiro. Funcionou", diz Pietro Lazzeri, embaixador da Suíça no Brasil.
"Memória é um antídoto contra as tentações autoritárias. Por isso, preservar nosso patrimônio histórico é tão importante, para sempre nos lembrarmos daquilo que fomos e dos caminhos que devemos trilhar para construirmos um amanhã em que todos os brasileiros tenham vez e voz", destaca a primeira-dama Janja da Silva, madrinha do trabalho de restauração.
Memória que inspirou artistas no STF - Supremo Tribunal Federal. Transformaram destroços em arte, com um personagem em comum: democracia.
Já as obras do Palácio do Planalto atraíram um mutirão de 50 restauradores.
"O primeiro momento foi o momento do impacto. O momento do susto. Momento de encontrar tudo absolutamente vandalizado. E, hoje, o momento da felicidade. O momento do retorno de tudo aquilo que foi vandalizado em condições de ser devolvido ao povo brasileiro", afirma Rogério Carvalho, diretor curador dos palácios presidenciais.
A ânfora italiana, espatifada em mais de 180 pedaços. Um quebra-cabeças para professores, estudantes e especialistas em restauração.
"Quando eu cheguei e vi a quantidade de pedaços que tinha, eu disse assim: 'Não sei se eu consigo'. Mas eu tive uma equipe maravilhosa, que me ajudou a fazer o que eu sei fazer melhor: restaurar", pontua Keli Cristina Scolari, conservadora e restauradora - UFPel.
'As Mulatas', de Di Cavalcanti: valor incalculável
Jornal Nacional/ Reprodução
A obra "As Mulatas", de Di Cavalcanti, de valor incalculável, e que sofreu sete violentas feridas, passou por um processo cirúrgico. Perfeitamente cicatrizado, mas ainda guardando as marcas da sombria tentativa de golpe, o quadro voltou a embelezar o Palácio.
"A arte é salvadora, e através da arte a gente consegue, então, chegar até as pessoas, e a arte muda o mundo", diz Andrea Bachettini, coordenadora do projeto de restauração.
Os galhos da escultura de Frans Krajcberg, quase podados pelo vandalismo, retomaram suas formas. Assim como outras 17 obras de arte, carregadas de história, arrancadas, machucadas. Mas reerguidas e com o peso da memória de um dia que não pode se repetir.
Escultura de Frans Krajcberg
Jornal Nacional/ Reprodução
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Fonte: G1