Nesta terça-feira (7), série especial do Jornal Nacional sobre reciclagem mostra que a maioria das coisas que os brasileiros jogam fora tem valor de mercado. Entenda a importância dos catadores para a preservação do meio ambiente
O Jornal Nacional apresenta uma série de reportagens sobre a destinação inteligente dos resíduos, um assunto que diz respeito a todo mundo. Na reportagem desta terça-feira (7), o André Trigueiro mostra que a maioria das coisas que os brasileiros jogam fora tem valor de mercado. Mas esses materiais, para chegar até a indústria recicladora, dependem de um trabalho fundamental. Um serviço que ainda é pouco valorizado no Brasil.
Fazemos isso todos os dias. Mas é preciso dar destinação inteligente para aquilo que jogamos fora – e que a maioria nem sabe para onde vai. Os catadores sabem. Embora estejam pelas ruas, não são percebidos por muita gente. Sem eles, tudo seria mais difícil.
"Esse material que está aqui são os catadores que trazem. Vocês já imaginaram tudo isso aqui no planeta? Tudo isso aqui no oceano? Vai acabar com o mundo, vai acabar com o mundo", diz a catadora Laura Cruz.
A Laura da Cruz, da ONG Pimp My Carroça, faz a parte dela para o mundo não acabar. Só perde a paciência quando alguém a chama de catadora de lixo:
"Não existe catador de lixo. Existe catador de reciclagem, que catador não é lixo, não é marginal. E catador não precisa de pena. Ele precisa de dignidade e respeito", afirma.
Laura faz parte de um grupo que soma quase 1 milhão de brasileiros. A maioria trabalha sozinha e é mais facilmente explorada pelos atravessadores que revendem os materiais para a indústria. A situação é menos aflitiva para quem trabalha em cooperativas.
Não adianta separar os recicláveis em casa ou no varejo. Para garantir o retorno dos materiais como matéria-prima para a indústria, é preciso garantir que o preço do quilo de cada reciclável seja interessante para os catadores. São eles que fazem funcionar o negócio da reciclagem no Brasil.
"Eu cheguei aqui e não tinha nada. Hoje, eu tenho até um dinheiro guardado no banco. E é daqui do lixo, do ouro, com muito orgulho. Isso aqui é uma beleza, uma riqueza", conta a catadora Rosa Maria Santana.
André Trigueiro, repórter: Eu estou aqui do lado da catadora mais experiente da cooperativa, Dona Jô, 80 anos recém-completos, cheia de energia. Trabalha há quanto tempo com reciclável, Dona Jô?
Jovelina do Nascimento, catadora: Tem 10 anos.
Repórter: E a senhora gosta do que a senhora faz?
Jovelina: Eu gosto e preciso também. Porque eu moro sozinha e pago aluguel, meu filho. Se eu não trabalhar aqui, não dá para comprar comida.
"Tem mês que a gente tira mais, tem mês que a gente tira menos, porque depende do material que a gente recicla e recebe", conta a catadora Rosa Maria Santana.
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É que nem tudo que vai parar em uma cooperativa tem valor. Tem o rejeito. Rejeito é aquilo que não é reciclável ou é reciclável, mas o custo da reciclagem é economicamente inviável, ou é o reciclável que foi contaminado por matéria orgânica. Portanto, o rejeito é descartado como lixo em aterro. Alguns exemplos de rejeito: esponja de cozinha usada, isopor (até reciclável, mas o custo não vale a pena), qualquer cerâmica descartada como lixo, várias famílias de embalagem com papel aluminizado e vários tipos de plástico como o plástico PVC normalmente acoplado em uma bandeja de isopor - muito comum de se ver no supermercado ou padaria.
40% da coleta seletiva da maior cidade do país passam por uma cooperativa de reciclagem. Mas acredite: São Paulo separa só 6% dos materiais recicláveis.
"A gente está jogando dinheiro fora, destinando para aterro sanitário. A gente precisa do apoio das grandes marcas, fabricantes de embalagens. Nós precisamos de um apoio do governo federal, estadual, municipal, e uma lei que faça com que os catadores sejam contratados e pagos e remunerados pelo serviço ambiental que prestam", afirma Telines Basílio, diretor-presidente da Coopercaps e da Conatrec.
Quando não são, ficam sujeitos a variações do mercado de recicláveis. Mesmo que alguns materiais, como o alumínio, tenham um valor de mercado interessante, a regra geral não é essa. A situação pode se agravar com a possibilidade de os produtos reciclados pagarem os mesmos impostos que os não reciclados. O assunto está em discussão no STF.
"Eles chegam a ser mais caros que um produto virgem. Aí, como uma indústria, ela vai comprar um produto que é mais caro para ela reciclar? Não tem jeito, ela não vai fazer isso. Então, as indústrias continuarão a consumir e a extrair mais materiais do meio ambiente", explica Clineu Nunes Alvarenga, presidente do Instituto Nacional da Reciclagem.
"(A saída para esse problema) É zerar o imposto relacionado ao material reciclado, porque esse material já pagou imposto na sua origem", afirma Adalberto Maluf, secretário Nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental.
"Principalmente os países do Hemisfério Norte, eles dão todo incentivo à reciclagem. A reciclagem é isenta de imposto, e aqui no Brasil é ao contrário", diz Clineu Nunes Alvarenga, presidente do Instituto Nacional da Reciclagem.
Entenda a importância dos catadores para a preservação do meio ambiente
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Uma boa notícia é que a garrafa PET, que até pouco tempo era um resíduo desvalorizado, passou a valer a pena para os catadores. O venezuelano Carlos Eduardo Rodrigues está ligado.
Repórter: O que está dando para coletar e ganhar dinheiro?
Carlos Eduardo Rodrigues: Latinha e PET.
Repórter: Garrafa PET é uma boa?
Carlos Eduardo: Ahã.
Repórter: Você já pegou quantas hoje?
Carlos Eduardo: Um monte, 40.
A engarrafadora líder de mercado passou a pagar mais pelo PET para aumentar a produção de embalagens recicladas.
"Então, aumentou a demanda, aumentou a procura. E isso fez com que o preço dessas garrafas PET quintuplicasse", diz Telines Basilio, diretor presidente da Coopercaps e da Conatrec.
Repórter: É tudo garrafa PET aqui?
Maria Dias, catadora: É, só PET.
Repórter: Nossa! Quanto a senhora acha que vai conseguir com essas duas?
Maria Dias: R$ 30.
Repórter: R$ 30 aqui?
Maria Dias: É.
Repórter: E só garrafa PET?
Maria Dias: É.
E tem garrafa PET tecnológica chegando ao Brasil. A novidade foi testada no Chile, onde 6 milhões de embalagens foram fabricadas com QR code.
"A gente consegue saber quantas idas e voltas a garrafa fez. Quantas vezes, se já está na hora de destiná-la para reciclagem ou não. Mas eu também consigo ver qual a cidade que está mais retornando, qual o supermercado. Acredito que todos como país desejamos um Brasil... Praia, floresta, enfim, sem lixo. Sem resíduo", diz Rodrigo Brito, diretor de Sustentabilidade da Coca-Cola América Latina.
Toda tecnologia é bem-vinda, desde que o trabalho que a gente mal enxerga seja percebido e valorizado.
Na próxima reportagem da série, que volta na quinta-feira (9), você vai conhecer projetos que transformam lixo orgânico em adubo e energia para indústrias e veículos.
RECICLAGEM
Série especial destaca a importância de um ato tão simples para o meio ambiente e para a economia
Fonte: G1