Países europeus, Rússia e Ucrânia se chocam sobre provimento de energia a dias de contrato de fornecimento de energia expirar. Atitude de primeiro-ministro eslovaco seria tentativa de abertura de 'segunda frente energética' da guerra, afirmou o presidente ucraniano. Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (à esquerda), e o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
REUTERS/Alina Smutko/File Photo/Maxim Shemetov
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou neste sábado (28) o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, de abrir uma "segunda frente energética" da guerra contra a Ucrânia a mando da Rússia, à medida que se intensifica a disputa sobre o trânsito de gás entre os dois países.
A Ucrânia transporta gás natural russo através de seu território para vários países europeus, incluindo a Eslováquia, mas espera interromper o fluxo quando o atual acordo de trânsito —assinado antes da invasão da Ucrânia pela Rússia— expirar no final do ano.
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"Parece que Putin deu a Fico a ordem para abrir a segunda frente energética contra a Ucrânia às custas dos interesses do povo eslovaco", escreveu Zelenskiy na rede social X.
Fico, que visitou o presidente russo Vladimir Putin em Moscou no início desta semana, disse na sexta-feira que a Eslováquia consideraria medidas recíprocas contra a Ucrânia, como a interrupção do fornecimento emergencial de eletricidade, caso Kiev interrompa o trânsito de gás a partir de 1º de janeiro.
Desde o final de 2022, a Ucrânia foi forçada a importar eletricidade de vários vizinhos, já que a Rússia começou a atacar sua rede elétrica, danificando ou destruindo grande parte de sua capacidade de geração não nuclear. A Rússia havia cortado o fornecimento de gás que provia à Ucrânia ainda em 2014, quando os países tiveram desavenças econômicas e também militares sobre o território da Crimeia.
A Ucrânia afirmou que não assinará nenhum novo acordo de trânsito de gás com Moscou devido à invasão lançada pela Rússia em território ucraniano em fevereiro de 2022. Com isso, o contrato de fornecimento de energia entre a Europa e a empresa de energia russa Gazprom, assinado antes da invasão russa, não será renovado.
Com a chegada do inverno na Europa, essa situação acirra ainda mais as tensões. Caso não haja uma mudança no cenário, haverá o desligamento total das exportações de gás russo, que passam pela Ucrânia em direção a países da Europa como Eslováquia, Áustria, Hungria e Itália.
Também neste sábado, a Rússia avisou que parará de fornecer energia para a Moldávia a partir de 1º de janeiro. O governo moldávio acusou a Rússia de usar o gás como uma arma política. (Leia mais abaixo)
A Eslováquia deseja manter o fornecimento de gás russo via Ucrânia, argumentando que rotas alternativas aumentariam os custos e prejudicariam suas operações de trânsito, causando uma perda de 500 milhões de euros em taxas.
Zelensky afirmou que a Eslováquia atualmente representa 19% das importações de eletricidade da Ucrânia e que Kiev está trabalhando com seus vizinhos da União Europeia para reforçar o fornecimento.
"A Eslováquia faz parte do mercado único de energia europeu, e Fico deve respeitar as regras comuns europeias", escreveu Zelensky, acrescentando que cortar o fornecimento de energia para a Ucrânia privaria a Eslováquia de 200 milhões de dólares por ano.
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia afirmou em comunicado que Fico está se alinhando a Putin ao fazer "ameaças sem sentido" de cortar as importações de energia da Ucrânia.
Desde que assumiu o cargo em 2023, Fico tem sido um dos mais críticos na União Europeia em relação à ajuda militar do bloco à Ucrânia.
Após suas conversas em Moscou, Fico disse que Putin confirmou a disposição da Rússia de continuar fornecendo gás à Eslováquia, embora isso seja "praticamente impossível" após o vencimento do acordo de trânsito de gás.
Rússia interromperá fornecimento de gás à Moldávia
A gigante russa de energia Gazprom anunciou neste sábado que suspenderá as exportações de gás para a Moldávia a partir das 2h de 1º de janeiro devido a uma dívida não paga pelo país, que se prepara para severos cortes de energia.
A empresa afirmou que se reserva o direito de tomar quaisquer medidas, incluindo a rescisão do contrato de fornecimento com a Moldávia.
A suspensão do fornecimento é um prelúdio para o desligamento total das exportações de gás russo via Ucrânia para a Europa, onde o gás segue para países como Eslováquia, Áustria, Hungria e Itália, após o término do atual contrato de trânsito com a Ucrânia em 31 de dezembro.
A Moldávia será a mais afetada pelo desligamento.
A Rússia fornece à Moldávia cerca de 2 bilhões de metros cúbicos de gás por ano através da Ucrânia. Esse gás é canalizado para a região separatista da Transnístria, que o utiliza em uma usina para gerar energia barata, posteriormente vendida ao restante da Moldávia.
A Rússia, crítica do governo central moldavo com inclinação pró-Ocidente, afirmou que a Moldávia deveria pagar uma dívida por fornecimentos anteriores, que, segundo os cálculos russos, chega a US$ 709 milhões. A Moldávia afirma que sua dívida é de US$ 8,6 milhões.
Em 2022, a Transnístria e o governo em Chisinau concordaram que todo o gás russo recebido pela Moldávia seria direcionado para a região separatista, que tradicionalmente não paga pelo combustível.
Sem o fornecimento de gás, a usina geradora de energia pode parar de funcionar, e tanto a Moldávia quanto a Transnístria enfrentariam longos apagões, semelhantes aos que a Ucrânia tem que suportar devido aos ataques da Rússia contra sua infraestrutura energética durante a guerra.
A população da Moldávia, de 2,5 milhões de pessoas, tem se preparado para cortes de energia prolongados desde que o governo ucraniano informou que não renovará seu contrato de trânsito com a Gazprom.
Moldávia e Transnístria declararam estados de emergência devido à ameaça de interrupção do fornecimento de gás.
Na sexta-feira, a Moldávia anunciou que restringirá as exportações de energia e introduzirá medidas para reduzir o consumo em pelo menos um terço a partir de 1º de janeiro.
A presidente da Moldávia, Maia Sandu, acusou a Gazprom de provocar uma crise energética, alegando que a empresa se recusa a fornecer gás por uma rota alternativa.
Fonte: G1