Rebeldes anunciaram neste domingo (8) que presidente deixou a capital Damasco. Caso se confirme a queda do regime, chega ao fim dinastia iniciada pelo pai dele há cinco décadas. Bashar al-Assad chegou ao poder após a morte do pai, em 2000.
JOSEPH EID / AFP
Grupos rebeldes anunciaram neste domingo (8), segundo agências internacionais, que o ditador sírio Bashar al-Assad, no poder há 24 anos, deixou a capital Damasco e tem destino desconhecido.
Caso se confirme a queda do regime, será o fim de uma dinastia de cinco décadas que governou o país.
Em uma ofensiva iniciada há apenas 10 dias, forças rebeldes lideradas por extremistas islâmicos reacenderam a guerra civil que dura 13 anos e tomaram as principais cidades do país até chegar a Damasco. Os relatos publicados pela imprensa internacional apontam que as tropas do Exército sírio se renderam em muitos locais.
Não há informações de que a Rússia e o Irã, principais aliados de Assad, tenham se envolvido de forma direta na nova escalada do conflito.
A Síria vive uma guerra civil desde 2011. O conflitou esteve adormecido nos últimos anos e voltou a ganhar força de forma repentina.
Rapidamente, combatentes liderados pelo movimento extremista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), ou Organização para a Libertação do Levante, invadiram e tomaram Aleppo e Homs. Por fim, entraram em Damasco. O Hayat Tahrir surgiu como uma filial da Al Qaeda, grupo por trás dos atentados do 11 de Setembro.
A guerra civil da Síria começou há 13 anos com a repressão de protestos durante a Primavera Árabe, movimento de contestação de regimes autoritários que varreu o Oriente Médio e o norte da África.
Numa primeira fase, o conflito envolveu terroristas ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico, curdos apoiados pelos Estados Unidos e forças apoiadas pela Turquia. Com suporte da Rússia, do Irã e da milícia libanesa Hezbollah, Assad conseguiu conter seus opositores, manteve-se no poder e assegurou o controle da maior parte do território.
Agora, suas tropas aparentemente sucumbiram ante a nova ofensiva.
Trajetória
Bashar al-Assad tem 59 anos e sucedeu no poder o pai, Hafez a-Assad, que morreu 2000 após governar a Síria por três décadas. Seu regime foi fruto de um golpe de Estado em 1971.
A família Assad é alauita, uma minoria religiosa xiita na Síria.
Nascido em 11 de setembro de 1965, em Damasco, estudou medicina e se especializou em oftalmologia. Em Londres, cursou uma pós-graduação.
Em 1994, Basil, seu irmão mais velho e sucessor natural de Hafez, morreu num acidente. Com isso, Bashar tornou-se o herdeiro do poder na família.
Em 10 de junho de 2000, ele foi declarado presidente pelo parlamento após um referendo popular no qual recebeu uma aprovação de 97,29%. Naquele momento, Bashar tinha 34 anos.
Em 2007, renovou seu mandato por outros sete anos em um referendo no qual obteve 97,62% dos votos. Em 2014, foi reeleito para um terceiro mandato de sete anos. A guerra civil síria já estava em curso e a votação foi realizada nas áreas controladas pelo governo.
A família Assad governa a Síria há mais de cinco décadas.
Na ofensiva pela tomada do poder, os rebeldes derrubaram estátuas de Hafez al-Assad por onde passaram.
Cabeça de estátua de Hafez al-Assad, ex-presidente da Síria e pai do atual presidente Bashar, é rebocada por caminhão em Hama, cidade tomada por rebeldes, em 6 de dezembro de 2024.
Muhammad Haj Kadour/AFP
Por que Assad perdeu força?
A explicação está em outros conflitos internacionais. Rússia e Irã, principais aliados do ditador, estão agora envolvidos em outras guerras: a Rússia invadiu a Ucrânia, e o Irã vive um conflito com Israel. O Hezbollah, por sua vez, perdeu seus principais comandantes neste ano, mortos em ataques israelenses.
Para os analistas, essa situação faz com que nem Putin nem o regime iraniano estejam dispostos a entrar de cabeça em mais uma guerra.
O cientista político Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas, diz que não é uma coincidência a ofensiva rebelde ter sido lançada agora.
"Aqueles que eram os três principais aliados do governo Assad, Hezbollah, Irã e Rússia, estão meio que fora desse envolvimento direto com o conflito, o que abriu uma oportunidade para que os rebeldes tentassem retomar certas posições estratégicas dentro do país."
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