O país vive uma série de crises desde o início da guerra de 2011, quando opositores ao regime de Bashar al-Assad iniciaram protestos por democracia. Entenda como o país está dividido. Rebeldes sírios avançam contra o regime de Bashar al-Assad
Omar Haj Kadour/ AFP
Grupos rebeldes dominados por islamistas radicais do noroeste da Síria assumiram o controle de dezenas de localidades e duas das principais cidades do país em 10 dias, em uma ofensiva relâmpago que enfraqueceu ainda mais o regime de Bashar al-Assad.
O avanço, facilitado pela retirada do Exército sírio em várias regiões, marca um ponto de virada na guerra da Síria, que começou em 2011 com a repressão de protestos pró-democracia.
??O ditador sírio Bashar al-Assad, no poder há 24 anos, conta com o apoio de aliados influentes e poderosos na região, como Rússia, Irã e o grupo extremista Hezbollah. Apesar disso, o momento turbulento na política internacional não favorece a Síria. Irã e Hezbollah estão enfraquecidos pelo conflito com Israel e a Rússia trava guerra com a Ucrânia que já dura dois anos.
Após 13 anos de um conflito sangrento que fragmentou o país, quem são os principais atores envolvidos e quais territórios eles controlam?
Islamistas radicais
Liderados pelos islamistas do Hayat Tahrir al Sham (HTS), uma facção derivada do antigo braço sírio da Al Qaeda, os rebeldes no norte da Síria lançaram uma ofensiva relâmpago em 27 de novembro. Primeiro, eles tomaram Aleppo, a segunda principal cidade do país, com exceção dos bairros de maioria curda controlados por combatentes curdos.
Eles partiram de Idlib, no noroeste do país, na época o principal reduto da oposição armada.
Depois de capturar Aleppo, eles avançaram em direção a Hama (centro), a quarta maior cidade da Síria, que conquistaram na quinta-feira e da qual as forças do governo anunciaram que haviam se retirado.
A coalizão rebelde chegou às imediações de Homs, localizada a 150 quilômetros da capital Damasco.
Forças do governo
Após o início do conflito em 2011, o Exército sírio perdeu a maior parte de seu território para facções da oposição, combatentes curdos e, mais tarde, jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI).
A intervenção da Rússia em 2015 reverteu a situação. Com o apoio militar da Rússia, do Irã e do movimento islamista libanês Hezbollah, o regime recuperou o controle de dois terços da Síria.
Agora, ele controla apenas a ameaçada província de Homs, a capital Damasco e grande parte do litoral.
No oeste da Síria, a Rússia tem a base aérea de Hmeimim e uma base naval no porto de Tartus.
Rebeldes no sul
Aproveitando o colapso das forças do regime, os rebeldes locais anunciaram que assumiram o controle da província de Daraa, no sul, juntamente com a cidade de mesmo nome.
Eles também conquistaram um posto de fronteira com a Jordânia, que fechou sua fronteira com a Síria.
A volátil província de Daraa, o berço da revolta de 2011, voltou ao controle do governo sírio em 2018, graças a um acordo de cessar-fogo negociado pela Rússia que permitiu que os rebeldes mantivessem suas armas pequenas.
Os rebeldes na área também alegaram ter conquistado a província de Sweida, um reduto da minoria drusa na Síria, após a retirada das forças do governo.
Sweida tem sido palco de protestos contra o governo no último ano e meio. O exército sírio confirmou no sábado que estava se retirando das províncias de Daraa e Sweida.
Combatentes curdos
Aproveitando o enfraquecimento do regime após o início da guerra, os curdos estabeleceram uma "administração autônoma" em partes do norte e do leste do país, após a retirada do regime de grande parte das regiões no início do conflito.
Com o apoio de Washington, as Forças Democráticas da Síria (SDF), dominadas pelos curdos, expandiram progressivamente seu território, obtendo vitórias consecutivas contra o Estado Islâmico.
Elas agora controlam o nordeste da Síria e parte da província de Deir Ezzor no leste, especialmente a margem leste do Eufrates.
Na sexta-feira, anunciaram que haviam se deslocado para a margem oeste do rio, após a súbita retirada das forças do governo e de seus grupos aliados pró-iranianos.
As forças dos Estados Unidos, posicionadas como parte de uma coalizão internacional anti-EI, estão estacionadas em várias bases no território curdo, inclusive na província de Deir Ezzor.
Elas também estão presentes no sul, na base estratégica de al-Tanf, perto das fronteiras da Jordânia e do Iraque.
A Turquia e as facções
As forças turcas e seus aliados sírios controlam uma faixa descontínua de território entre Afrin e Ras al Ain, no noroeste, ao longo da fronteira turca.
Paralelamente à ofensiva em Aleppo, esses grupos tomaram Tal Rifat, controlado pelos curdos.
Desde 2016, os militares turcos lançaram várias operações militares no norte da Síria, visando principalmente os combatentes curdos.
Jihadistas do EI
Depois de conquistar vastas áreas na Síria e no Iraque em 2014, o grupo jihadista sofreu sucessivas derrotas até perder todos os seus territórios na Síria em 2019.
Os combatentes que se refugiaram no deserto sírio continuam executando ataques violentos contra civis, forças do regime e combatentes curdos.