Principal corte do país afirmou nesta sexta (6) que todo o processo eleitoral precisará ser refeito. Documentos do principal conselho de segurança da Romênia citam 'ataques híbridos agressivos russos' contra o pleito. Calin Georgescu
REUTERS/Andreea Campeanu
A Justiça da Romênia anulou o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais do país e afirmou que todo o processo eleitoral precisará ser refeito, nesta sexta-feira (6).
O candidato de extrema direita Calin Georgescu e a líder centrista pró-União Europeia Elena Lasconi iriam se enfrentar no segundo turno, previsto para acontecer neste domingo (8), e a votação já havia começado em seções eleitorais fora do país. Agora não se sabe quais serão as datas para o novo processo eleitoral.
A ida de Calin Georgescu, que é pró-Rússia e aparecia com apenas um dígito nas pesquisas antes da primeira rodada presidencial em 24 de novembro, para a segunda etapa da disputa surpreendeu e já havia levantado questionamentos.
A decisão do Tribunal Superior da Romênia vem depois que o principal conselho de segurança da Romênia, na quarta-feira, divulgou documentos que indicavam que o país foi alvo de "ataques híbridos agressivos russos" durante o período eleitoral.
Mas quem é Calin Georgescu?
Calin Georgescu é um autoproclamado outsider de extrema direita, crítico da OTAN e que quer acabar com o apoio de seu país à vizinha Ucrânia.
Passar a se envolver com a Rússia em vez de desafiá-la e mudar a posição pró-Ucrânia de longa data da Romênia é uma de suas promessas.
Falando à Reuters esta semana - antes da votação ser anulada - ele disse que estava planejando interromper as exportações de grãos ucranianos pela Romênia e proibir mais ajuda militar a Kiev. Ele também disse que Bucareste não era obrigada a cumprir os compromissos de gastos de defesa da Otan.
"Como eu poderia concordar com isso? É impossível. A Romênia e o povo romeno vêm em primeiro lugar. É inimaginável que haja uma guerra aqui perto, no meio da Europa, então uma prioridade será definitivamente que essa guerra na Ucrânia seja imediatamente interrompida", disse Georgescu.
Um diplomata sênior da União Europeia disse à Reuters, após o primeiro turno das eleições, que seria um "desastre" para o bloco se Georgescu vencesse a presidência, destacando a fronteira compartilhada da Romênia com a Ucrânia e o fato de ser um dos maiores países do bloco europeu.
Também é motivo de preocupação para os aliados europeus que Georgescu descreva como heróis nacionais e "mártires" Ion Antonescu, o líder de fato da Romênia na Segunda Guerra Mundial - condenado à morte por sua participação no Holocausto da Romênia - e Corneliu Zelea Codreanu, um líder da Guarda de Ferro antes da Segunda Guerra Mundial, um dos movimentos antissemitas mais violentos da Europa.
O diplomata da UE disse que as opiniões de Georgescu sobre a dupla, bem como sobre a OTAN, aumentariam as tensões tanto em casa quanto no exterior se ele chegasse ao poder:
"Imagine as discussões no Conselho (Europeu), imagine a polarização que ele traria para casa".
Semelhante à campanha eleitoral do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, Georgescu fez uma campanha como um insurgente independente, não dependente de partidos centristas no poder, que tiveram que lutar contra a inflação, a mais alta da Europa Central e Oriental .
Os temas da campanha de Georgescu no TikTok e no YouTube se concentraram na importância dos valores familiares, da tradição, da Igreja Ortodoxa Cristã e da conexão com a Terra.
Outros vídeos enfatizam suas habilidades esportivas: o homem de 62 anos é faixa preta em judô e corre maratonas.
Apesar de se declarar um outsider, Georgescu já ocupou vários cargos governamentais, inclusive como alto funcionário público nos ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores. Também trabahou como relator especial das Nações Unidas sobre o impacto dos resíduos tóxicos nos direitos humanos no exterior.
O partido político de oposição de extrema direita Aliança para a União dos Romenos (AUR) chegou a considerá-lo para primeiro-ministro, mas ele deixou o AUR em 2022 depois que membros seniores disseram que sua postura pró-Rússia e anti-Otan prejudicou a imagem do partido.
Em uma entrevista de 2021, ele chamou o escudo de defesa contra mísseis balísticos da OTAN localizado na cidade romena de Deveselu de uma "vergonha da diplomacia" e disse que a aliança do Atlântico Norte não protegerá nenhum de seus membros caso sejam atacados pela Rússia.