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Letícia Nunes da Silva e Luiz Guilherme Barboza vão responder em liberdade por maus-tratos e omissão de socorro. Perícia apontou agressões como causa de graves lesões cerebrais em criança de 3 anos. Sophia da Silva Fernandes, de 3 anos, morava com a mãe, Letícia Nunes da Silva, e com o padrasto, Luiz Guilherme Braga Barboza, em Ribeirão PretoReprodução/EPTVA Justiça aceitou denúncia do Ministério Público e tornou réus mãe e padrasto acusados dos maus-tratos que resultaram na morte da menina Sophia da Silva Fernandes, em Ribeirão Preto (SP), em agosto deste ano. Por outro lado, o pedido do MP de prisão preventiva contra Letícia Nunes da Silva e Luiz Guilherme Braga Barboza, de 20 e 29 anos, respectivamente, foi negado.Análises da perícia apontaram que a "síndrome do shaken baby (ou bebê sacudido)" é a causa mais provável das graves lesões cerebrais que resultaram na morte da criança, que tinha 3 anos (veja abaixo detalhes).Apesar de negar o pedido de prisão, a Justiça entendeu que a mãe deve responder por maus-tratos agravados por meio cruel e por ser contra descendente e o padrasto, também por maus-tratos agravados por meio cruel e por ser contra menor de 14 anos, e omissão de socorro.Com isso, foram determinadas as seguintes medidas cautelares ao casal:Deve manter endereço atualizado;não se ausentar da região de Ribeirão Preto por mais de oito dias sem autorização judicial;comparecer a todos os chamados da Justiça.O crime foi qualificado como crime preterdoloso, em que não houve uma intenção inicial de matar, mas que os abusos culminaram na morte da vítima.O que diz a defesa?Em nota, os advogados do casal, Gabriela Rodrigues e Douglas Marques, disseram que não desconhecem a gravidade das acusações, mas ressaltaram que os acusados compareceram a todos os atos processuais, e, por isso, compreendem ser descabida a prisão neste momento.Reforçaram, ainda, que acreditam que o indeferimento do pedido de prisão é uma decisão acertada, uma vez que a medida caracterizaria uma antecipação da pena."Por fim, é necessário que a sociedade compreenda que responder a um processo em liberdade não é sinônimo de impunidade, mas sim um direito assegurado pela Constituição Federal", conclui o comunicado.O que apontou o laudo do IML?O laudo do Instituto Médico Legal (IML) descartou que um acidente motivou as lesões em Sophia, como alegou a mãe, e indicou a possibilidade de que elas tenham sido causadas por agressões. O documento aponta que:Acidentes por queda doméstica de crianças pequenas envolvem "baixa energia por apresentarem baixa velocidade e pelo peso das crianças", o que não seria o caso;há "desproporção entre a criança e um adulto que seria o provável agressor" e que o trauma foi "por meio cruel";a morte ocorreu por causa externa, tendo como mecanismo um edema encefálico grave após hematoma subdural agudo por traumatismo crânio encefálico."O hematoma subdural agudo após trauma crânio encefálico é uma causa frequente de apresentação de abuso físico em crianças", diz o laudo.O que a polícia concluiu?Em setembro, a delegada responsável pelo caso, Patrícia de Mariane Buldo, explicou por que os indícios correspondem à síndrome do bebê sacudido. "A criança pequena, quando ela é chacoalhada com essa violência, normalmente os pais seguram pelo braço, a cabeça da criança chacoalha. Como o cérebro da criança ainda não está maduro, ela sofre diversas lesões, inclusive essa característica do shaken baby, que é uma lesão no fundo do olho. E essa criança [Sophia] tinha essas lesões, o que nos leva a crer, sem sombra de dúvidas, que ela foi vítima de maus-tratos", disse.Ainda de acordo com Buldo, todos os indícios levantados pela investigação apontam para o envolvimento de Letícia e de Luis Guilherme no crime. "É um apartamento pequeno. A agressão deve ter causado ruído, os dois estavam juntos e os dois mantêm a versão de acidente doméstico. Acredito eu que um inocente diria a verdade. Sendo assim, ambos mantêm uma versão totalmente descartada pela perícia, entende-se que os dois participaram do crime em conluio ou um protegeu o outro de alguma forma", afirmou. A delegada também disse que a mãe de Sophia apresentou comportamento frio ao comparecer à delegacia para prestar esclarecimentos. LEIA TAMBÉM:O que se sabe sobre a morte da menina Sophia em Ribeirão PretoHospital da Clínicas aciona polícia após laudo apontar morte violenta de meninaMãe nega agressões após suspeita de maus-tratos em morte de menina de 3 anosA morteSophia foi levada pela mãe e pelo padrasto à UPA no dia 1º de agosto. Letícia, de 20 anos, disse que colocou a menina para tomar banho por volta das 7h e que foi à cozinha preparar um café. A porta do banheiro ficou aberta. Alguns instantes depois, Luis Guilherme viu a menina caída no chão.Segundo a mãe, a filha estava com a cabeça encostada do lado direito e sentada de frente para a porta.O casal contou que pediu um carro de aplicativo e seguiu para a UPA. Eles não chamaram uma ambulância porque pensaram que o socorro poderia demorar. Segundo o casal, a menina ainda respirava normalmente, não falava, mas dava sinais de que queria vomitar.Aos médicos, Letícia alegou que Sophia sofreu uma queda enquanto estava sozinha no banheiro. A mulher disse que a menina não tinha o hábito de permanecer só durante o banho.A criança foi transferida em estado grave para a Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE), onde a polícia foi acionada. Segundo o boletim de ocorrência, ela tinha um "quadro agudo grave de rebaixamento de nível de consciência e descerebração".Sophia foi submetida a uma cirurgia de emergência para aliviar a pressão do cérebro por causa de um grande hematoma intracraniano. No entanto, foi necessária uma amputação do encéfalo.O diagnóstico médico foi de hemorragia subdural aguda devido a traumatismo, que é quando há acúmulo de sangue entre o crânio e o cérebro causado por um impacto na cabeça. Uma análise oftalmológica também apontou que Sophia tinha hemorragia na retina dos dois olhos, sugestivas de trauma de grande energia.A menina teve a morte encefálica confirmada no dia 9 de agosto.Sophia da Silva Fernandes, de 3 anos, morreu no HC-UE em Ribeirão Preto, SP, após 9 dias de internaçãoArquivo pessoalVeja mais notícias da região no g1 Ribeirão Preto e FrancaVÍDEOS: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região