Região com tradição democrata foi conquistada por Trump em 2016. Depois, Biden conseguiu recuperar parte dos estados e, agora, Kamala e Trump fazem disputa acirrada por esses votos. Trump em comício na Pensilvânia em 9 de outubro de 2024
Reuters/Jeenah Moon
Na corrida à Casa Branca, a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump estão de olho nos votos do chamado Cinturão da Ferrugem, região industrial americana que já foi próspera no passado e há décadas sofre com desemprego, declínio da economia e consumo elevado de drogas, especialmente heroína.
Com 149 dos 538 candidatos do Colégio Eleitoral, esses estados foram decisivos nos últimos pleitos e viraram um campo de batalha entre republicanos e democratas.
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O nome "cinturão da ferrugem" (rust belt, em inglês) faz referência às fábricas hoje abandonadas nessa porção dos Estados Unidos, que abrange partes do Meio-Oeste e do nordeste do país, como Pensilvânia, Ohio, Michigan, Illinois e Wisconsin.
???? De tradição democrata, eles mudaram de lado em 2016 em um voto de protesto e determinaram a vitória de Trump. Na eleição seguinte, em 2020, Joe Biden conseguiu recuperar o domínio democrata. E, agora, mais uma vez, a região pode fazer a diferença nesta eleição presidencial, que promete ser uma das mais acirradas da história recente.
????? No infográfico abaixo, veja como os votos oscilaram nas últimas eleições no Cinturão da Ferrugem. No mapa de 2024, as cores indicam projeções de políticos e analistas.
Disputa eleitoral
O Cinturão da Ferrugem foi o coração da indústria dos Estados Unidos entre os séculos 19 e 20, quando era conhecido como Cinturão do Aço ou Cinturão da Indústria. No entanto, a região passou por uma decadência nos últimos 40 anos, o que resultou em desemprego e fechamento de fábricas.
O avanço tecnológico e a globalização estão entre os fatores que ajudaram a região a perder importância no cenário nacional.
Desde o início dos anos 2000, candidatos democratas costumavam vencer nos estados do Cinturão da Ferrugem. Barack Obama, por exemplo, construiu uma "muralha azul" na região (em alusão à cor do Partido Democrata), nas eleições de 2008 e 2012.
Mas tudo mudou em 2016. Naquele ano, Donald Trump chegou com um discurso mais nacionalista e protecionista. O republicano empolgou eleitores da região, que viram na campanha dele a esperança de que a indústria nos moldes do século 20 ressurgiria nos Estados Unidos.
Revolta e vitória surpresa
O discurso de Trump funcionou. O republicano conquistou muitos eleitores brancos de baixa escolaridade e das classes trabalhadoras que estavam acostumados a votar nos democratas.
O resultado foi uma vitória no Cinturão da Ferrugem, que terminou com Donald Trump eleito à Casa Branca.
Parte da imprensa classificou a vitória de Trump como surpresa porque as pesquisas de opinião colocavam a então candidata democrata Hillary Clinton como favorita na eleição presidencial.
De fato, Hillary acabou sendo a mais votada naquele ano. Foram 3 milhões de votos a mais do que Trump. No entanto, como as eleições nos Estados Unidos são decididas no Colégio Eleitoral e não pelo voto popular, os democratas saíram derrotados.
Trump tomou dos democratas os estados de Iowa, Ohio, Wisconsin, Michigan e Pensilvânia — nos três últimos por uma margem inferior a 1%. Hillary teria sido eleita se tivesse conseguido manter o domínio democrata na região.
No caso de Ohio e Iowa, por exemplo, a influência de Trump fez com que os territórios deixassem de ser considerados estados-chave, passando a ter claro domínio republicano.
À época, o movimento ficou conhecido como "Revolta do Cinturão da Ferrugem". Embora parte dos analistas considerem o fenômeno um mito, os candidatos passaram a olhar diferente para a região depois de 2016.
Revanche de Biden e desafio para Kamala
Biden discursa na Pensilvânia durante campanha em 2020
Kevin Lamarque/Reuters
Nas eleições de 2020, Joe Biden conseguiu recuperar o domínio democrata no Cinturão da Ferrugem. Ele venceu no Wisconsin, no Michigan e na Pensilvânia, algo que seria essencial para derrotar Trump.
Naquele ano, muitos eleitores disseram ter se decepcionado com a forma como Trump estava conduzindo o enfrentamento à pandemia. Algumas promessas sobre a indústria também não tinham sido cumpridas.
Mesmo antes das eleições, pesquisas indicavam que Biden liderava com pequena vantagem em estados do Cinturão da Ferrugem. A campanha democrata resolveu apostar alto e concentrou esforços em conquistar eleitores na região.
O pleito deste ano não está sendo diferente. Tanto Kamala Harris quanto Donald Trump têm feito com frequência eventos de campanha nesses estados.
Pesquisas apontam que Kamala e Trump estão tecnicamente empatados na Pensilvânia, Michigan e Wisconsin. A democrata, no entanto, tem uma pequena vantagem numérica.
Um trunfo da campanha de Trump é o seu candidato a vice, J.D. Vance, que vem de uma área de Ohio. Aos 40 anos, ele tem a imagem de "self-made man" e uma história de superação pessoal envolvendo pobreza e abuso de drogas dentro da família.
J.D. Vance, candidato a vice de Trump, em evento em 17 de julho de 2024
Anna Moneymaker/Getty Images via AFP
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