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Eleitores muçulmanos podem ser a chave para Kamala Harris e Donald Trump. A cidade de Dearborn, no Michigan, pode ter um papel fundamental na eleição presidencial dos Estados Unidos neste ano. Com uma forte presença de imigrantes árabes, a opinião dos eleitores desta região pode definir quem será o vencedor: Kamala Harris ou Donald Trump.Esta reportagem faz parte da série "O Sonho Americano". A equipe da TV Globo percorreu estados-chave nas eleições presidenciais dos EUA para descobrir o que está impactando os eleitores neste ano. O sexto capítulo é sobre os EUA e o mundo.O SONHO AMERICANOEpisódio 1, Democracia: Crianças arrecadam US$ 1 milhão para construir parquinho e incluir alunos com deficiência em escola dos EUAEpisódio 2, Economia: 'Cheeseheads': Como o queijo virou símbolo de Wisconsin e o que isso revela sobre a economia americanaEpisódio 3, Inflação: Das casas ao 'tailgate': como a inflação tem distanciado os jovens do sonho americano nos Estados UnidosEpisódio 4, Aborto: 'Janes de Chicago': conheça a rede secreta de mulheres que ajudou a mudar a história do aborto nos EUAEpisódio 5, Racismo: 'Preferiria morrer a confessar um crime que não cometi': a história do homem negro que passou 46 anos preso injustamenteEpisódio 6, EUA e o mundo: Dearborn: como uma cidade de 100 mil habitantes pode definir a eleição presidencial dos Estados UnidosDearborn: como uma cidade de 100 mil habitantes pode definir a eleição presidencial dos Estados UnidosJornal Nacional/ ReproduçãoDearborn tem cerca de 100 mil habitantes e está localizada em um dos estados-chave das eleições deste ano. A cidade tem a maior mesquita dos Estados Unidos e o único museu árabe do país."A comunidade árabe está aqui há décadas. Muitos vieram trabalhar nas montadoras de carros. E uma vez que estavam aqui as famílias começaram a vir também", comenta Diana Abouali, diretora do museu.Atualmente, Michigan tem 300 mil descendentes de imigrantes do Oriente Médio, principalmente libaneses, e muito deste movimento geográfico aconteceu graças às oportunidades de trabalho criadas muitos anos atrás pelas várias fábricas espalhadas pelo estado e que agora estão abandonadas.Entre esses descendentes, a religião varia entre o islamismo e o cristianismo, mas sempre com um denominador em comum: a comida.É na cozinha que as pessoas conseguem se conectar com a cultura longínqua e reencontram o pertencimento de seus lares originais. Muitos são americanos, mas se sentem libaneses ou palestinos, especialmente durante o momento trágico que os dois países vivem.Americanos envolvidos na guerraOs Estados Unidos são os maiores aliados de Israel. O apoio começou durante a criação do Estado, em 1946, mas hoje em dia se estendeu a ponto dos americanos atuarem como aliados militares na região, sendo responsáveis por 16% do orçamento de defesa israelense.A questão é histórica, vista como política de estado, e com as eleições norte-americanas se aproximando, a tensão no Oriente Médio parece longe de melhorar.Israel classifica o atentado terrorista do Hamas, de 7 de outubro de 2023, como o seu 11 de setembro. E, desde então, o comando israelense tem movido suas forças para aniquilar completamente o Hamas e o Hezbollah.Dentro da comunidade de descendentes do Líbano e da Palestina, duas nações que estão na mira de Israel, a reação é vista como desproporcional."Nesse momento sua nacionalidade não importa. O que importa é se você é humano ou não", diz Lubna Faraj, moradora de Dearborn. Seu filho, Zayn Faraj, tem sentido na pele a hostilidade contra o seu povo: "É difícil viver num país que é claramente contra as pessoas que você ama."A situação fica ainda mais crítica com a chegada das eleições, especialmente considerando que Dearborn é fundamental dentro deste quebra-cabeça.Dearborn na mira dos candidatosAs eleições norte-americanas são definidas por estado, cada um deles vale um número específico de pontos. Para vencer, um candidato precisa somar 270.Neste momento, a maior parte dos estados já sabe quem vai sair como vencedor, principalmente pela tradição de voto democrata ou republicano.Entretanto, alguns estados mudam a cada eleição, o que influencia diretamente o resultado.Michigan é um deles.Donald Trump venceu no estado em 2016 por apenas 10 mil votos de diferença, enquanto Joe Biden venceu em 2020 com 150 mil votos de diferença.A comunidade de famílias provenientes do Oriente Médio é enorme, a ponto de eleitores registrados como muçulmanos somarem sozinhos 200 mil votos. Desses, a maioria foi para Biden na última eleição.Mas o jogo não está ganho para democratas em 2024."Nós sempre fomos eleitores democratas muito fiéis, mas é óbvio que agora não somos mais. Nós nos tornamos eleitores que têm apenas uma prioridade: acabar com o sofrimento e o genocídio. É questão de humanidade", diz Lubna Fraj.Muitos desses eleitores pretendem votar na candidata do Partido Verde, chamada Jill Stein, que tem apenas 1% da intenção de votos nas pesquisas."É uma tentativa de colocar alguém a mais no jogo, porque as eleições sempre são com as mesmas pessoas", justifica Khaldon Masri, morador da cidade.Isso significa que a perda de apoio dos árabes em Dearborn pode acabar custando uma eleição para o partido democrata.Enquanto isso, para os residentes da cidade que possuem origens libanesas ou palestinas, a comida segue sendo um fio invisível de contato com compatriotas que estão sofrendo na guerra. É o jeito de não perder a conexão com as origens e também a forma encontrada de passar adiante o sonho americano que só se vive em Dearborn, ainda inalcançável para quem está na frente de guerra."Meu sonho é que meu filho se sinta bem sendo quem ele é. Com o que quiser aprender e a religião que queira. Aqui nos Estados Unidos é importante que a gente continue seguindo em frente e nunca volte atrás."