Kamala pode se tornar a 1ª mulher presidente, mas são republicanos que trazem a questão do gênero para o debate. Pesquisa mostra que 55% das mulheres apoiam a democrata. 'Guerra dos sexos' marca corrida eleitoral nos EUA
Na reta final para a eleição dos Estados Unidos, que acontece no dia 5 de novembro, o comício do candidato republicano Donald Trump em Nova York foi assunto na imprensa mundial por declarações polêmicas e propagação do discurso de ódio.
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Entre afirmações racistas, xenofóbicas e misóginas no evento, apoiadores republicanos chamaram Kamala Harris de "anticristo", "diabo", "burra" e "prostituta que destruirá o país com seus cafetões".
Esta não é a primeira vez que comentários misóginos chamam a atenção na disputa. Neste ano, a corrida para a Casa Branca é marcada por uma "Guerra de Sexos".
Além de se tratar de uma candidata disputando contra um homem, Kamala Harris também pode se tornar a primeira mulher a assumir a presidência dos EUA. Não é a democrata, no entanto, que traz a questão de gênero para campanha eleitoral.
Kamala tem evitado dar declarações desse tipo, se colocando como a "melhor pessoa" para ocupar o cargo e a "mais preparada". Foram Donald Trump e o companheiro de chapa, JD Vance, que fizeram a eleição toda sobre gênero.
Comentários machistas
Trump x Kamala no debate
Reuters e AFP
Os republicanos, em diversas ocasiões, fizeram comentários machistas e produziram alguns dos momentos mais memoráveis da campanha, nos quais dispararam insultos, já reconhecidos por diversas mulheres, contra a democrata.
Em um post de agosto nas redes sociais, por exemplo, Trump alegou que a Kamala já havia usado sexo para avançar na carreira. A publicação, feita originalmente por outro usuário, apresentava fotos de Kamala e Hillary Clinton ao lado do comentário: "Engraçado como os boquetes impactaram as carreiras de ambas de maneira diferente".
Em outro momento, em julho deste ano, JD Vance defendeu um comentário que fez em 2021 sobre "mulheres com gatos e sem filhos" no comando do país, o que gerou reações imediatas dos eleitores.
Na época, em entrevista à Fox News, Vance se referiu à vice-presidente Kamala Harris como uma das "mulheres sem filhos que têm gatos" que estão "infelizes com suas próprias vidas e escolhas que fizeram e por isso querem tornar o resto do país miserável também".
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Famosos
Celebridades apoiam Trump e Kamala
Reprodução
Eleitores e celebridades, como a atriz Jennifer Aniston, reagiram imediatamente nas redes sociais. Em um post no Instagram, Aniston escreveu: "Eu realmente não posso acreditar que isso venha de um potencial vice-presidente dos EUA".
A atriz, que costuma ser discreta sobre sua vida pessoal, falou publicamente sobre sua jornada de fertilidade e criticou a posição de Vance em relação aos direitos reprodutivos.
"Tudo o que posso dizer é
Sr. Vance, rezo para que sua filha tenha a sorte de um dia ter seus próprios filhos", escreveu Aniston. "Espero que ela não precise recorrer à fertilização in vitro como segunda opção. Porque você também está tentando tirar isso dela", afirmou.
Logo após o debate entre Kamala e Trump, no dia 10 de setembro, a cantora americana Taylor Swift se posicionou na corrida eleitoral depois de muita expectativa.
Em um post no Instagram, Taylor declarou o voto em Kamala Harris e assinou o texto como "Childless Cat Lady", fazendo referência à frase de Vance. O post estava acompanhado de uma foto da cantora com seu gato, gesto que diversas mulheres adotaram para protestar contra o insulto nas redes sociais.
A chapa democrata também recebeu apoio de nomes como Oprah Winfrey, Beyoncé, Meryl Streep e Julia Roberts. Além disso, Kamala viralizou nas redes sociais – principalmente no TikTok – com montagens feitas por eleitores da candidata ao som de músicas feministas, fazendo passos de dança e dizendo frases cômicas ao longo da carreira.
Trump e Vance, por outro lado, abraçaram uma "hipermasculinidade" na campanha eleitoral. Os republicanos se aproximaram de nomes como do famoso empresário do mundo da luta Dana White, Elon Musk e Kanye West, que já deram diversas declarações machistas.
Na Convenção Republicana, Donald Trump caminhou ao som de "This is a man's world" ("Este é um mundo masculino", em tradução livre), e o lutador aposentado Terry Gene Bollea, mais conhecido como Hulk Hogan, rasgou a camisa em frente ao público e chamou o ex-presidente de "gladiador".
Opinião pública
Ao observar a disparidade na corrida, especialistas avaliam que Kamala Harris personifica o poder feminino e tenta se concentrar na experiência como promotora para manter suas posições de maneira firme, calma e até debochada, enquanto Trump e Vance tratam este poder como uma ameaça.
A questão do aborto também é um ponto crucial para entender essa "batalha de gêneros". Atualmente, Trump defende que os estados devem decidir a própria legislação sobre o tema. O republicano, no entanto, tem dificuldade em encontrar uma mensagem consistente para os direitos reprodutivos.
Trump já mudou diversas vezes de posição e deu respostas vagas e contraditórias a perguntas sobre a questão, que se tornou uma grande vulnerabilidade para os republicanos nesta corrida.
O candidato tenta se aproximar das eleitoras, principalmente depois de ter nomeado três juízes do Supremo Tribunal que ajudaram a derrubar, há dois anos, a legislação conhecida como "Roe vs. Wade", que garantia o direito nacional ao procedimento.
Em um comício na Pensilvânia, Trump prometeu às mulheres que ele seria o "protetor" delas e as salvaria do medo e da solidão – e foi alvo de críticas. "Vocês não vão mais pensar em aborto", afirmou.
Os números não deixam dúvidas sobre a guerra de sexos entre eleitores. Enquanto 55% das mulheres apoiam a candidatura de Kamala Harris, 41% das americanas votam em Trump.
Por outro lado, 56% dos eleitores masculinos apoiam Trump, enquanto o número de homens que apoiam a democrata chega a 40%. É o que mostra uma pesquisa da NBC News divulgada em outubro.
A campanha democrata está preocupada com o alcance que tem entre o público masculino, principalmente entre os homens negros. Enquanto faz campanha para Kamala, uma das tarefas do ex-presidente Barack Obama tem sido atrair o eleitorado em discursos públicos na reta final da corrida.
O apelo tem tido efeito. Uma nova pesquisa da NAACP mostrou que o apoio de Donald Trump entre os jovens negros diminuiu desde agosto, enquanto o de Kamala Harris cresceu. Os dados foram colhidos entre 11 e 17 de outubro.
Cerca de 21% dos homens negros com menos de 50 anos declararam apoio ao ex-presidente, número menor que os 27% registrados em agosto. Já o apoio a Kamala entre este grupo cresceu de 51% para 59% no mesmo período.
O cargo de presidência também é visto como uma ocupação masculina. Cerca de 30% dos americanos acham que o gênero de Kamala Harris vai prejudicar as chances de vitória da democrata, e apenas 8% acreditam o mesmo sobre Trump, de acordo com a publicação britânica "The Economist".
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Fonte: G1