Os repórteres Ana Carolina Raimundi e Emílio Mansur acompanharam durante seis meses a jornada de pacientes e familiares que contaram com essa rede de cuidados pra atravessar o momento mais desafiador da existência. Reportagem especial mostra como Cuidados Paliativos podem ser aliados no tratamento de doenças incuráveis
Ana Claudia Quintana é médica geriatra e especialista em cuidados paliativos. Ela viajou liderando um grupo disposto a refletir sobre o tempo, o envelhecimento e a finitude. A doutora compara uma viagem ao deserto ao caminho para o envelhecimento e ao fim da vida.
"Quando você tem um diagnóstico de uma doença que ameaça a sua vida, você tem a experiência da chegada no deserto. Você tem uma aridez muito grande, você se sente mal com o tratamento. É a mesma metáfora. Como que você vai viver o oásis aqui? Através das pessoas que te apoiam", afirma.
O Fantástico deste domingo (20) acompanhou algumas pessoas em seus desertos particulares. Veja no vídeo acima.
Coragem e cuidado
Sandra Gonçalves descobriu um câncer aos 43 anos
Reprodução/TV Globo
Na Casa do Cuidar, fundada pela doutora Ana Claudia, pacientes com doenças sem cura e suas famílias recebem acolhimento. Esse é o caso da Sandra Gonçalves. Aos 43 anos, ela descobriu um câncer de mama, que foi tratado, mas voltou e atingiu os ossos.
"Sou metastática desde o final de 2015 e sou paciente paliativa desde então. O meu tratamento não tem cura", conta.
Eu acredito muito em Deus e eu sei que só vai acontecer o que tiver que acontecer. Quando a morte chegar vai me encontrar vivendo", relata.
Sandra, que recebe assistência no SUS e apoio psicológico voluntário na Casa, também atua como coordenadora de um grupo de acolhimento.
"Isso me cura todo dia", reflete.
Encarando a finitude
Priscila dos Santos, paciente com câncer, de Suzano (SP)
Reprodução/TV Globo
Outra história contada pela reportagem foi a de Priscila dos Santos, mãe de três filhos pequenos. Em 2021, ela descobriu e tratou um câncer de mama, mas, em 2023, a doença voltou e se espalhou pelos ossos, pulmões e no cérebro.
"Quando eu li no meu laudo, eu olhei para o meu pai e falei: 'pai, acho que eu tenho pouco tempo de vida, né?'", relata.
Com a ajuda médica, Priscila conseguiu manter as dores controladas. Os cuidados permitiram a Priscila pensar no futuro. Com ajuda psicológica, ela criou estratégias para para alimentar a memória dos filhos.
"Eu tenho alguns planos de fazer cartas, em determinadas fases da vida deles. Tipo, o aniversário ou dia das mães para eles lerem os três juntos", conta.
Ela também organizou questões práticas, como o testamento vital.
"Eu não quero gerar sofrimento para mim e para minha família. Bateu a hora, deixa ir. Vai em paz, com calma", afirma.
"Eu estou nomeando minhas duas irmãs como tutoras. É uma manifestação de vontade. Até o dia do meu velório, eu estou programando isso tudo já. Estou tentando levar na melhor, no jogo de cintura", completa.
"Estou viva hoje. Eu não quero ser aquela pessoa carregada, amargurada, não. Eu quero leveza", relata Priscila.
O fim da jornada
Sandra se tornou uma espécie de "sentinela" para Priscila, acompanhando-a em seus últimos momentos e até atendendo a pedidos simples, como pintar suas unhas. No último domingo (13), Priscila faleceu em casa, cercada de amor e cuidado.
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Fonte: G1