De 2012 a 2019, o país caminhava lentamente para o avanço da qualidade de vida da população. Com a pandemia, nos dois anos seguintes, a evolução foi interrompida. Uma pesquisa das Nações Unidas sobre o desenvolvimento do Brasil, de 2012 a 2021, mostrou um avanço pequeno em educação, mas perdas de renda e de expectativa de vida, especialmente para as mulheres negras.
Cleonice Feitosa é catadora, faxineira e nunca teve emprego formal.
"Faz um bico aqui, e outro ali, sempre passa dificuldade", relata.
Ela vive com os oito filhos em um dos endereços mais pobres da capital e conta com o dinheiro do Bolsa Família.
"Eu nasci negra, então se eu vou em uma entrevista de emprego e tem cinco pessoas brancas, eu não sou selecionada", explica Cleonice.
O Brasil tem 60 milhões de mulheres negras, quase 30% da população; 48 milhões estão em idade ativa recebem apenas o equivalente a 10,7% da renda total do trabalho no país. É o que revela o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (Pnud), divulgado nesta terça-feira (28).
48 milhões de mulheres negras em idade ativa recebem apenas 10,7% da renda total do trabalho no país.
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De 2012 a 2019, o Brasil caminhava lentamente para o avanço da qualidade de vida da população, quase em linha reta. Com a pandemia, nos dois anos seguintes, a evolução foi interrompida. As três áreas importantes para o desenvolvimento humano - educação, expectativa de vida e renda - caíram, puxando o índice geral para baixo.
O indicador varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o nível de desenvolvimento humano. Na década inteira, o Brasil quase não avançou, passou de 0,746 para 0,766. O índice do Distrito Federal recuou, mas continuou sendo o melhor desempenho: 0,814. E o do Maranhão, embora tenha avançado, continua sendo o pior do país: 0,676.
A renda per capita do brasileiro caiu de R$ 759 reais em 2012 para R$ 723 em 202. E a expectativa de vida caiu de 74,48 anos pra 74,16 anos nesse mesmo período.
A coordenadora da Unidade de Desenvolvimento Humano no PNUD Brasil, Betina Ferraz Barbosa, chama a atenção para a necessidade de uma política específica para os grupos mais vulneráveis.
"Há uma evidência clara no relatório que quando a população negra passa a ter melhores indicadores de educação, o IDH brasileiro se manifesta de forma positiva rapidamente. Ou seja, aqui precisamos ter atenção específica para uma política pública para esses segmentos populacionais, como as mulheres negras e seus filhos, os homens negros também e seus filhos nesses domicílios", comenta ela.
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Fonte: G1