Segundo mensagem de professora enviada à família do aluno, ele não conseguiu socializar quando o prefeito João Campos (PSB) compareceu à inauguração da escola. Educadora denuncia exclusão de criança neuroatípica em escola pública do Recife
Comemorações escolares em homenagem ao Dia das são experiências que habitualmente guardamos na memória pelo resto da vida. Apresentações ensaiadas, cartazes com tinta guache e músicas sobre amor fazem parte das lembranças comuns da infância, mas não foi assim para o garoto Artur Gabriel, de 6 seis anos, este ano (veja vídeo acima).
Artur Gabriel é uma criança neuroatípica que estuda na escola Doutor Antônio Correia, da Rede Municipal do Recife. Na quinta-feira (9), a mãe dele, Raphaela Powell, recebeu uma mensagem por WhatsApp de uma professora recomendando que ele não comparecesse à comemoração do Dia das Mães no dia seguinte porque a situação seria "perigosa" para ele.
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O caso foi denunciado pela educadora Rayza Bazante através de um vídeo publicado em sua conta pessoal no Instagram. Nele, Rayza mostra a mensagem enviada pela escola à mãe de Arthur Gabriel e pede explicações à Secretaria de Educação do Recife e ao prefeito João Campos (PSB) sobre o ocorrido.
No texto enviado pela professora à mãe de Arthur Gabriel, a docente menciona uma situação em que o prefeito João Campos foi à inauguração da escola e alega que o garoto não teria conseguido socializar. Com esse argumento, foi recomendado que Arthur não comparecesse em dias festivos. Confira o texto da mensagem:
"Boa tarde, com relação a amanhã é um dia letivo, porém é um dia de festividade. E a professora [suprimido] sente que esse momento de festividade com muita gritaria, com som alto e pessoas desconhecidas num ambiente escolar é perigoso. Não sei se a senhora lembra quando houve a inauguração da escola, quando o prefeito veio, Arthur não conseguia socializar e nem responder aos comandos. Então por essa questão, a professora [suprimido] orienta que em dias de festividade ele não venha", dizia o texto.
Em contato com o g1, a avó de Arthur, Silvana de Melo, contou que, pouco depois das aulas na escola terem começado, a família já havia sido recomendada a buscar o menino uma hora antes do fim da aula, com a justificativa de que ele ficava muito inquieto. Desde então, ele sempre larga uma hora mais cedo.
"Ele estava na escola onde ele não conhecia ninguém, nem coleguinhas, nem professora, como outra criança qualquer. Ele estranhou, ele ficou recuado. Aí a professora conversou com ela [a mãe], o horário dele era para largar às 11:30, mas como depois das 10h ele ficava estressado, não parava quieto, porque foi isso que ela disse, ela pediu para a gente pegar ele antes", contou.
Ainda de acordo com Silvana, embora Arthur realmente possua dificuldades de socialização, ele não tem problemas com música alta, pelo contrário, adora dançar e se divertir. Segundo ela, a mensagem recomendando que ele não participasse da comemoração surpreendeu a família.
"Ele estava muito animado pra ir porque, se tem uma coisa que ele é louco, é pela mãe dele. Ele é animado, ele gosta de dançar, então não tem esse problema com som alto, nem nada. O problema dele é, como toda outra criança, que vai estranhar no ambiente", comentou.
Direito à educação
No vídeo em que a educadora Rayza denuncia o caso, ela reforça que todas as crianças têm direito à educação e que, no caso de crianças neuroatípicas, existe ainda o direito ao acompanhamento pedagógico, essencial para que o aluno também seja socializado e tenha suas necessidades especiais atendidas.
Segundo Rayza, Arthur não compareceu à atividade, como recomendado, e a situação causou muita angústia à família do garoto, da qual ela é próxima. No dia seguinte, ainda de acordo com Rayza, a escola chegou a encaminhar os vídeos das atividades das quais Arthur foi privado de participar, à mãe, Raphaela.
Mãe recebeu vídeos da homenagem da qual seu filho não pôde participar
Reprodução/WhatsApp
O g1 entrou em contato com a prefeitura do Recife questionando qual o posicionamento da gestão municipal sobre a exclusão de Arthur Gabriel das comemorações escolares; se a professora foi autorizada pela direção da escola a recomendar que a criança não comparecesse; e se houve alguma punição ou retratação a respeito do caso.
Em nota, a Secretaria de Educação do Recife disse que:
Repudia toda e qualquer situação discriminatória em relação a estudantes da Educação Especial;
Em nenhum momento repassou orientação para a professora relacionada à exclusão do aluno das atividades;
Abriu um processo administrativo disciplinar para apurar o caso;
Em janeiro de 2023, instituiu por meio de decreto a Política Pública de Educação Especial Inclusiva para estudantes da rede municipal.
O prefeito João Campos também postou em sua conta pessoal do Instagram, na tarde desta quinta, um vídeo comentando o caso. Ele classificou a situação como "completo absurdo" e prometeu uma apuração rigorosa do ocorrido.
A avó de Arthur, Silvana de Melo, afirmou que a família foi convidada para uma conversa no gabinete do prefeito, também na tarde desta quinta.
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Fonte: G1