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Folha de São Paulo - Geral

Há 20 anos, Folha entrevistou Paul Auster em NY sobre obra "O Livro das Ilusões"

A campainha da casa de tijolo aparente na Segunda Avenida do Brooklyn, em Nova York, toca duas vezes na tarde fria da última terça.


Foto: Academia.edu

A campainha da casa de tijolo aparente na Segunda Avenida do Brooklyn, em Nova York, toca duas vezes na tarde fria da última terça. Paul Auster, um dos principais escritores americanos da atualidade, autor da premiada "Trilogia de Nova York", corre para atender à porta.


Está acompanhado do vira-lata Jack, que ele salvou da rua há oito anos e batizou em homenagem ao personagem principal de "O Viajante sem Sorte" ("The Unfortunate Traveler"), um dos primeiros romances escritos em inglês, em 1594, por Thomas Nashe.


É o próprio Auster quem recolhe e pendura o casaco do repórter da Folha e o conduz para a mesa da cozinha. No terceiro andar de sua casa de móveis muito escuros e fotos muito antigas nas paredes, trabalha sua mulher, a também escritora Siri Hustvedt; ele prefere o porão, onde não escuta o barulho do dia-a-dia.


Agora, quem faz barulho é a faxineira Insi, que lava louça ao lado. Fumando cigarrilhas e bebendo café, Auster senta-se na cabeceira da mesa. Vamos falar de seu mais recente romance, "O Livro das Ilusões", o décimo, que chega no dia 17 ao Brasil.


Nele, o personagem David Zimmer, que já havia dado as caras em "Palácio da Lua", reaparece como um acadêmico que acaba de perder a mulher e os filhos num acidente de avião e é salvo do suicídio e do alcoolismo ao ver por acaso parte de um curta-metragem mudo na televisão.


A comédia chama sua atenção, tira-o do estado semicatatônico em que se encontra e o leva a investigar a história de seu diretor, o fictício argentino Hector Mann, que dirigira curtas nos anos 20 para um dia sumir de vez de Hollywood, sem deixar traços.


O escritor conta que Hector Mann apareceu de uma vez em sua cabeça há 12 anos, já com o sotaque espanhol e o terno tropical. Auster não aparenta seus 55 anos. Com olhos saltados e traços árabes, fala sibilando e ilustra cada resposta com uma história.


Como a de Jorge Luis Borges. Digo a ele que o romance lembra um pouco os labirintos literários do escritor argentino (1899-1986), e se seria apenas uma coincidência ele ter escolhido a Argentina como terra natal de seu personagem. Ele então se levanta e pega um livro em sua biblioteca.


"Estive na Argentina no ano passado, para o lançamento de um livro", conta. "Foi minha primeira vez na América do Sul, uma experiência incrível, 2.000 pessoas na noite de autógrafos."


No fim do dia, um leitor lhe deu um livro, "La Kabbale", de 1843, cujo subtítulo é "A Filosofia Religiosa dos Hebreus". Na primeira página, numa letra miúda, a assinatura: "Este livro pertence a Jorge Luis Borges -1953". "Não é muita coincidência?", comenta.


Para então responder à pergunta inicial: "Se há alguma referência à literatura borgiana em "Ilusões", não é consciente, embora ele tenha me influenciado".


Aí, começamos a entrevista.

Leia mais (05/01/2024 - 01h16)

Folha de São Paulo

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