Lei de Doação de Alimentos autoriza entrega de excedentes em hospitais, próprios para consumo humano. Instituto de Gestão Estratégica do DF, responsável pelo Base, disse que comida que sobra é entregue aos acompanhantes dos pacientes, mas não respondeu sobre fotos de refeições no lixo. Alimentos jogados em lixeira no Hospital de Base. em Brasília, no DF.

Reprodução

Pães e bolos ainda dentro das embalagens plásticas, e prontos para consumo, foram fotografados dentro de uma lixeira no Hospital de Base, na segunda-feira (15). Segundo funcionários, que preferem não se identificar, o desperdício de alimentos dentro da unidade de saúde "é recorrente".

"É até um constrangimento pegar aquela quantidade de comida e jogar fora. Todos os dias jogam alimentos fora. Anteriormente, quando sobrava, deixavam para o pessoal da enfermagem, limpeza e agora não pode mais", diz uma funcionária.

? Clique aqui para seguir o canal do g1 DF no WhatsApp.

De acordo com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), responsável pelo Hospital de Base, os alimentos que sobram são destinados para os acompanhantes dos pacientes. No entanto, perguntado sobre as fotos da comida embalada nas lixeiras, o Iges não se manifestou (leia nota ao final da reportagem).

Segundo a Lei de Doação de Alimentos, hospitais, supermercados, cooperativas, restaurantes e outras empresas, que preparam alimentos para consumo de trabalhadores e empregados, podem fazer doações de excedentes ainda próprios para o consumo humano (saiba mais abaixo). No entanto, segundo a denúncia, as refeições que não são consumidas pelos pacientes do Hospital de Base, mesmo intactas, são jogadas no lixo, pelas copeiras, por determinação da empresa que fornece a comida.

"Se pegar os alimentos ou deixar para o pessoal da enfermagem, da limpeza, elas podem até ser demitidas. [...] Do segundo até o 11° andar do Hospital de Base tem uma lixeira desta cheia de alimentos", diz uma funcionária do Hospital de Base.

A empresa WB Nutri diz que os alimentos são para os pacientes e que, quando sobram, não podem ser doados para os funcionários por terem contato com o ambiente hospitalar. Segundo a empresa, os funcionários se alimentam no refeitório do próprio hospital. A WB afirmou que os alimentos embalados fotografados na lixeira transitaram pelos quartos dos pacientes e podem estar contaminados (leia nota ao final da reportagem).

Alimentos jogados em lixeira no Hospital de Base. em Brasília, no DF.

Reprodução

Conforme a denúncia, a ordem para jogar o excedente de alimentos no lixo começou há 15 dias. O motivo da proibição da doação dos alimentos não foi informado às copeiras e aos trabalhadores do hospital.

No Hospital de Base são servidas quatro refeições por dia: café da manhã, almoço, merenda e janta. Em cada uma, em média, 10 kits de comida vão parar na lixeira, conforme a funcionária.

Lei de Doação de Alimentos

Segundo a Lei de Doação de Alimentos – lei n° 14.016/20 – hospitais, supermercados, cooperativas, restaurantes e outras empresas, que preparam alimentos para consumo de trabalhadores e empregados, podem fazer doações de excedentes ainda próprios para o consumo humano. Há alguns critérios definidos pela legislação:

Estar dentro do prazo de validade e nas condições de conservação especificadas pelo fabricante

Não ter comprometidas sua integridade e a segurança sanitária, mesmo que haja danos à sua embalagem

Ter mantidas suas propriedades nutricionais e a segurança sanitária, ainda que tenham sofrido dano parcial ou apresentem aspecto comercialmente indesejável

As doações podem ser feitas com a colaboração do governo ou de bancos de alimentos de entidades beneficentes. Os beneficiários devem ser pessoas, famílias ou grupos em situação de vulnerabilidade ou de risco alimentar ou nutricional.

Desperdício de alimentos no mundo

Mais de 1 bilhão de refeições vão parar no lixo diariamente no mundo; número é maior que o de pessoas que passam fome

Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 1 bilhão de refeições vão parar no lixo diariamente no mundo e este número é maior que o de pessoas que passam fome.

No mesmo planeta em que a fome atinge mais de 780 milhões de pessoas, 1 bilhão de refeições são desperdiçadas a cada dia. Isso dá uma média de 132 kg de comida jogados no lixo por pessoa a cada ano.

Segundo o relatório, o custo da perda e do desperdício de alimentos é de aproximadamente US$ 1 trilhão por ano. O equivalente a quase metade do PIB brasileiro. Do total de alimentos desperdiçados no mundo, 60% aconteceram dentro de casa, 28% nos restaurantes, bares e lanchonetes e 12% em supermercados, hortifrutis e feiras livres.

O que diz o IGES-DF

"Em relação às questões levantadas sobre a possibilidade de doação de alimentos do hospital, gostaria de esclarecer alguns pontos importantes.

Quando se trata de doações de alimentos provenientes do ambiente hospitalar para pessoas, famílias ou grupos em situação de vulnerabilidade, as diretrizes e regulamentos sanitários são rigorosamente seguidos e monitorados. Todos os processos relacionados à manipulação, armazenamento e transporte dos alimentos são supervisionados de perto para garantir a segurança alimentar.

No Hospital de Base, não fazemos doação de alimentos diretamente do interior do hospital, uma vez que são destinados ao consumo imediato dos pacientes.

No entanto, é importante destacar que direcionamos os alimentos, não consumidos por algum motivo e que estão próprios para consumo aos acompanhantes dos pacientes no ambulatório, e orientamos consumo imediato.

No que diz respeito às preocupações levantadas sobre o desperdício de alimentos, é importante ressaltar que o descarte dos alimentos em nosso hospital é feito dentro da área da cozinha e é realizado o descarte para os alimentos que já não estão mais próprios para o consumo, seguindo os procedimentos e protocolos propostos pela Vigilância Sanitária

Agradecemos a oportunidade de esclarecer esses pontos e reiteramos nosso compromisso com a segurança alimentar e o bem-estar dos pacientes e da população em geral."

O que diz a WB Nutri

"A WB Nutri, antiga Salutar, responsável pelo fornecimento de alimentos nos hospitais públicos do Distrito Federal, vem por meio desta esclarecer os questionamentos levantados pelo G1 sobre o desperdício de alimentos.

Conforme a política do instituto, não há doação de alimentos aos funcionários do Hospital de Base, pois os alimentos são destinados ao consumo dos pacientes.

Por outro lado, há as "sobras impróprias para consumo", que retornam para a cozinha. No entanto, não é possível doar esses alimentos devido ao risco de contaminação.

A WB Nutri fornece refeições limpas, saudáveis e de excelente qualidade aos funcionários dentro do refeitório do próprio hospital.

Em relação aos alimentos no lixo, a WB destaca que são refeições que foram oferecidas aos pacientes e voltaram. Então não tem como doar alimentos para os funcionários, pois já tiveram contato hospitalar.

São alimentos que passaram pelos leitos, que tiveram acesso a pacientes doentes. Por mais que estejam embalados, eles já transitaram por esses quartos de pacientes e podem estar contaminados. Se os alimentos forem fornecidos aos funcionários, eles correm risco de infecção.

Não tem como assegurar e confirmar que esses alimentos têm uma segurança para serem consumidos posteriormente. O que retorna, que já passou pelos quartos, que já foi para os pacientes e voltou está impróprio para consumo, porque teve contato com o ambiente hospitalar.

Uma vez que o alimento perde a temperatura, não está em uma temperatura ideal para consumo, pode estar suscetível à bactéria, pode fazer mal ao funcionário. Esses alimentos perderam a temperatura ideal para consumo, não podem ser oferecidos, doados e muito menos consumidos, por isso retornam a cozinha para o descarte."

LEIA TAMBÉM:

DESPERDÍCIO DE COMIDA: Mais de 1 bilhão de refeições vão parar no lixo diariamente no mundo

DESPERDÍCIO NO BRASIL: Brasil desperdiça quase oito vezes mais comida do que o necessário para acabar com a fome

Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.

Fonte: G1