Grupo Cinza das Horas foi criado há 21 anos por um grupo de amigos que sentiu a necessidade de fazer um 'desfecho à altura' para a folia da cidade. Bloco se despede do carnaval com ritual jogando as 'cinzas' da festa no Rio Capibaribe
Os momentos finais do carnaval do Recife são cercados de simbolismo e rituais de despedida. Um deles foi realizado pelo bloco A Cinza das Horas, que há 21 anos joga as "cinzas" da folia pernambucana no Rio Capibaribe (veja vídeo acima).
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O cortejo começou por volta das 23h, na Rua da Guia, de onde o grupo seguiu até a margem do rio levando velas colocadas na boca de garrafas. As cinzas foram despejadas, pontualmente, à meia-noite desta Quarta-feira de Cinzas (14).
Segundo a historiadora Rita de Cássia, que participa da organização do bloco, a agremiação foi fundada numa mesa de bar por um grupo de amigos que sentiu a necessidade de criar um "desfecho à altura" para o carnaval do Recife.
"Veio o desejo de querer fechar o carnaval com um ritual, assim como se fazia na Europa. Queimar as fantasias e alegorias, como um sinal de sorte, de renovação de um ciclo. A gente foi juntando esses elementos e criando uma brincadeira nossa", conta a foliona.
'Cinzas' do carnaval no Bairro do Recife
Rafael Souza/g1
Outra integrante do bloco, a também historiadora Sylvia Couceiro, disse que o ritual começou como uma homenagem ao poeta Manuel Bandeira, que é autor de um poema dedicado à "quarta-feira ingrata", intitulado "Poema de uma Quarta-feira de Cinzas".
"No início, fazíamos declamação de poemas dele, mas o público do bloco cresceu muito, e ficamos sem condições de manter. (...) Não é uma cinza pesada, porque temos o desejo de que tudo melhore, aquela ansiedade de coisas boas. O nosso bloco veio para fazer uma passagem animada para a quarta-feira", afirma Couceiro.
O diretor artístico da agremiação, que se intitula como clube, Augusto Ferrer, explica que as cinzas são vegetais. "Não é a morte do Carnaval, é a passagem. As cinzas simbolizam o tempo que passa", diz.
Além do ritual peculiar, o bloco mantém algumas diferenças em relação a outras agremiações, de acordo com a antropóloga Mônica Franch, que também costuma acompanhar o cortejo todo ano.
"Temos cores que remetem à mortalidade. A gente evita tocar frevo. Passamos a incluir outros ritmos, como cumbia, salsa, marchinhas, mambo, um solo de jazz. Muitas pessoas compraram a ideia. Compram velas, jogam as cinzas, fazem pedidos, lembram de um amor que não deu certo", declara a foliona.
Estandarte do Cinza das Horas, no Bairro do Recife
Rafael Souza/g1
Segurando com orgulho e alegria o estandarte do Cinzas das Horas, Tetê Cavalcanti diz que a sensação é emocionante: "Eu choro muito, todos os anos".
Já a psicóloga Adriane Marjorie afirma que aquele é um momento importante de uma espécie muito característica de luto. "É um final feliz", enfatiza Adriane.
No momento mais simbólicos, o de jogar as cinzas no Rio Capibaribe, logo após o desfile-cortejo, emoção e celebração.
A caixa com o material é aberta e a diretoria do clube, banda, porta-estandarte e demais participantes da folia jogam as cinzas no rio, em meio a agradecimentos ao carnaval e até a votos de "feliz ano novo".
"Hoje a gente inicia o ano novo do recifense. É hora de pedir paz e proteção, é uma oração. Estar aqui é um marco de passagem, uma virada de chave", fala, emocionada, a professora Lucélia Albuquerque.
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Fonte: G1