Um dos seguranças alega que foi vítima de racismo. Polícia Civil investiga os casos, que aconteceram no último domingo (4), em um camarote de uma empresa privada no pré-carnaval de João Pessoa. Empresa responsável pela segurança teve o contrato rompido. Marcas no braço de uma das mulheres que denunciaram agressão em camarote privado durante pré-carnaval em João Pessoa
Duas mulheres denunciaram que foram agredidas por seguranças em um camarote particular na Avenida Epitácio Pessoa, durante as prévias carnavalescas de João Pessoa. O caso aconteceu no domingo (4), durante o bloco Virgens de Tambaú. Um dos seguranças alega que foi vítima de racismo na ocasião.
Em contato com o g1, Maria Eduarda do Nascimento, de 25 anos, contou que estava acompanhada da esposa, Lara Barreto, também de 25 anos, de um primo e da cunhada, no camarote. Ela disse que em determinado momento da noite, o grupo se encaminhou para a saída do local, mas as quatro pessoas foram barradas por seguranças na saída.
Ela disse que o grupo iria para casa naquele momento, mas os seguranças começaram a agredi-las, após tumulto gerado porque várias pessoas queriam sair do local naquela hora.
"Os seguranças vieram em cima da gente, nos empurrando com agressividade, na hora me subiu a raiva e empurrei de volta pra tentar me defender e foi aí que eles começaram a me agredir com murros e empurrões. Lara (esposa) foi pra frente tentar me defender e apanhou também, está com os braços roxos e o rosto dos murros que levou. João Vitor (primo) do mesmo jeito", disse.
Eduarda contou ainda que somente a cunhada dela não foi agredida pelos seguranças, porque ela começou a chorar quando tudo aconteceu. A mulher disse que outras pessoas foram autorizadas a sair do local, ao contrário do que ocorreu com elas.
Mulher relata agressões de seguranças durante evento do pré-carnaval em João Pessoa
Maria Eduarda do Nascimento
No relato, depois das agressões, a mulher explicou que procurou um dos responsáveis pelo camarote para cobrar atitudes e também tentar saber os nomes dos seguranças que teriam agredido o grupo de pessoas. De acordo com Eduarda, dois homens e uma mulher foram os agentes que agrediram as pessoas.
Após procurar o organizador do camarote, Eduarda disse que teve a denúncia minimizada. "Um dos responsáveis apareceu lá na hora e disse que não podia fazer nada e que era pra gente esquecer e ir pra casa", contou.
Além disso, a mulher disse que após a resposta negativa da organização do camarote, procurou também a Polícia Civil, na 10ª Delegacia Distrital, localizada em Tambaú. O g1 teve acesso ao Boletim de Ocorrência feito por ela e pela esposa.
Também foi protocolado junto a polícia um pedido de exame de corpo de delito com a própria Eduarda e também com a esposa, Lara. As mulheres já realizaram o exame e ainda aguardam o resultado.
A mulher ainda disse que se sentiu vulnerável com a situação ocorrida no camarote e também acredita ter passado por um processo de coação junto aos organizadores e responsáveis da festa.
"Me senti extremamente vulnerável. Não tive apoio nenhum na hora, não prestaram nenhuma ajuda, inclusive até o chefe da segurança se negou a dar os nomes dos agressores, a equipe não nos deu suporte nenhum, pelo contrário. Isso me revoltou ainda mais. Os organizadores do evento apenas falavam pra eu esquecer o que tinha acontecido, que se eu fosse adiante com a queixa não ia me levar a lugar algum, tentando me coagir de alguma forma para não sujar a reputação deles", ressaltou.
O g1 procurou o delegado Francisco Azevedo, titular da 10ª Delegacia Distrital de Tambaú, responsável pela investigação do caso. O delegado afirmou que os trâmites em relação às agressões estão em fase preliminar e vão se desenrolar nos próximos dias.
Segurança diz ter sofrido racismo
Segurança fez B.O. por caso de racismo e agressões de uma das mulheres que estavam no camarote
Vitor Depaiva
Um dos seguranças da equipe da empresa terceirizada que prestava serviço no camarote na Epitácio Pessoa, no domingo (4), disse que sofreu racismo do grupo que denunciou as agressões. Em Boletim de Ocorrência que o g1 também teve acesso, feito pelo segurança identificado como Marcos Antônio da Silva, ele afirma que uma das mulheres o chamou de "macaco" e "nego safado" no momento da confusão para saída do local.
Um dos sócios da empresa Like, responsável pelo camarote, Vitor Depaiva, contou ao g1 uma versão diferente do que teria acontecido naquela noite. Segundo ele, quem teria começado a confusão ao sair do local foi a mulher, descumprindo orientações da organização sobre sair do camarote no momento em que os trios elétricos estivessem passando em frente ao local.
"Todo camarote do Folia de Rua pode proibir o livre acesso do público, porque a pessoa compra o ingresso, pega pulseira, e pode entrar e sair. No entanto, avisamos aos clientes que quando os trios fôssem passar, fecharíamos o camarote, com os seguranças fazendo uma barreira", disse.
Na versão de Vitor, no momento em que um dos trios do bloco das Virgens passava em frente ao camarote da Like, a mulher teria ficado inconformada com o bloqueio e partido para cima dos seguranças.
"A entrada estava fechada e, nesse momento, de acordo com pessoas que estavam lá, inclusive clientes, ela se exaltou, disse que pagou o ingresso, que poderia entrar e sair a qualquer momento. Mas tomamos essa medida para garantir a segurança dos foliões. Ela vendo que uma pessoa do marketing saiu, porque estava trabalhando, aí ela perguntou se quem tinha saído era melhor do que quem não podia sair, e nesse momento ela voou em cima do segurança, chamando ele de macaco, de acordo com pessoas que estavam lá", disse o sócio.
Sobre ambas as alegações, tanto da agressão do segurança quanto do suposto caso de racismo, a organização responsável pelo camarote, a Like, informou que rompeu o contrato com a empresa de segurança terceirizada e que espera que a culpa seja apurada e os responsáveis penalizados pelo que aconteceu.
Sobre a acusação de racismo, Maria Eduarda negou as acusações e disse que "a esposa e o primo não fariam isso". Ela categoriza o boletim de ocorrência feito pelo segurança como "uma tentativa de reverter a situação a favor deles".
"Eu acho muito baixo da parte deles. Até porque, eu como uma mulher negra, jamais iria cometer esse crime, assim como minha esposa e primo [também não]. E ainda se eu não fosse negra, também não faria isso. Eles estão colocando uma questão que não tem nada relacionado para tentar mudar o foco", alegou.
O delegado titular da Delegacia Especializada de Crimes Homofóbicos, Raciais e de Intolerância Religiosa de João Pessoa, Marcelo Falcone, disse ao g1 que ainda não recebeu o caso de racismo com o B.O. para analisar e tomar providências.
Ele explicou que como a denúncia aconteceu durante o plantão da polícia, esses casos só chegam dias depois nas mãos dos delegados especializados.
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Fonte: G1