G1
Dadas as falhas ocorridas nas recentes execuções por injeção letal, três estados aprovaram o uso do nitrogênio. Até esta semana, no entanto, o método nunca tinha sido utilizado. EUA: homem que sobreviveu a tentativa de injeção letal será asfixiado com gás nitrogênioAntes da quinta-feira (25), Kenneth Eugene Smith já sabia o que era caminhar em direção à morte e entrar em uma câmara de execução. Aconteceu em novembro de 2022. Ele deveria ter recebido uma injeção letal, mas o procedimento foi adiado após falhas.? Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsAppO caso de Smith foi uma das três tentativas fracassadas de administração de injeção letal desde 2018 nos Estados Unidos.Mas o seu caso abriu caminho para o uso de um novo e controverso método de execução que as Nações Unidas consideram "cruel, desumano e degradante".Trata-se de hipóxia por nitrogênio, um procedimento de execução usado pela primeira vez na quinta-feira para cumprir a sentença de pena de morte de Smith.Nos últimos dias, Smith e sua equipe jurídica tentaram interromper o processo com vários recursos. Na quarta-feira (24), eles tentaram, no 11º Tribunal de Apelações do Circuito dos EUA, refutar a legalidade do protocolo de execução com gás nitrogênio estabelecido pelo estado do Alabama.Chegaram a pedir a intervenção da Suprema Corte em duas instâncias, mas todos os pedidos foram rejeitados. A execução aconteceu na quinta-feira.Nitrogênio em vez de oxigênioSmith foi condenado pelo assassinato, em 1988, de Elizabeth Sennett, esposa de um pastor. Sennett foi esfaqueada e espancada até a morte em um assassinato encomendado por seu marido para receber o seguro de vida, segundo a decisão do tribunal que analisou o caso.No julgamento, Smith admitiu ter estado presente quando a vítima foi assassinada, mas afirmou não ter participado do ataque. O júri o considerou culpado por decisão quase unânime (11 a 1) e recomendou prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional, mas o juiz o condenou à morte.Mais de 30 anos depois, Smith se tornou a primeira pessoa a ser executada por hipóxia de nitrogênio nos Estados Unidos e, segundo o Centro de Informações sobre Pena de Morte, no mundo.Este método controverso funciona ao privar o corpo de oxigênio por meio da respiração de nitrogênio puro.ONU denuncia possível torturaA ONU expressou sérias preocupações sobre este caso por meio do seu Gabinete de Direitos Humanos.O órgão exigiu que o estado do Alabama suspendesse a execução de Smith, considerando que poderia resultar em tortura."Estamos preocupados que a execução de Smith nestas circunstâncias possa violar a proibição de tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, bem como o seu direito (de pessoa condenada) a soluções eficazes", disse Ravina Shamdasani, porta-voz do Escritório de Direitos Humanos.Lembrou que ambos os direitos estão incluídos em dois tratados internacionais de direitos humanos assinados pelos Estados Unidos: o Pacto sobre os Direitos Civis e Políticos e a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes.A representante das Nações Unidas argumentou que, segundo "evidências periciais", a execução por hipóxia de nitrogênio pode causar "dor e sofrimento" ao condenado.O Gabinete dos Direitos Humanos da ONU também está preocupado com o fato de o Alabama não contemplar no seu protocolo o fornecimento de um sedativo ao prisioneiro antes de executá-lo."Mesmo a Associação Médica Veterinária Americana recomenda a administração de um sedativo a animais de grande porte quando os sacrificamos dessa maneira, enquanto o protocolo do Alabama para execução por asfixia com nitrogênio não prevê sedação", disse Shamdasani.Além disso, criticou o fato da utilização de um método nunca antes utilizado e reiterou a posição da ONU contra a pena de morte em geral."Em vez de inventar novas formas de aplicar a pena capital, instamos todos os Estados a estabelecer uma moratória sobre a sua utilização, como um passo em direção à abolição universal", disse ela.LEIA MAIS:REFEIÇÃO COM CARNE E FALA SOBRE HUMANIDADE: as últimas horas do prisioneiro executado por asfixia com nitrogênio nos EUAFalta de evidência científicaKenneth Smith, homem condenado à pena capital no estado do Alabama, nos EUAReutersAlguns profissionais médicos alertaram que a hipóxia por nitrogênio poderia causar uma série de acidentes catastróficos, desde convulsões violentas até a sobrevivência em estado vegetativo.Observou-se também que poderia haver risco para as demais pessoas presentes na sala, embora no caso de Smith não tenha havido vazamentos. O próprio prisioneiro disse à BBC que sofria "ataques de pânico regulares" por medo de ser executado por um método não testado.O Alabama tem uma das taxas de execução per capita mais altas dos Estados Unidos e tem 165 pessoas atualmente no corredor da morte. Desde 2018, o estado é responsável por três tentativas fracassadas de injeção letal, nas quais os condenados sobreviveram.Isso levou à aprovação, juntamente com Oklahoma e Mississipi, de um método alternativo de execução, já que as drogas utilizadas em injeções letais se tornaram mais difíceis de encontrar, contribuindo para o declínio do uso da pena de morte em todo o país.