Negociações da cúpula estavam previstas para terminarem mais cedo, perto das 11h da manhã no horário de Brasília, mas só na noite desta terça-feira (12) que o documento final acordado pelos 198 países-membros da conferência foi divulgado. Uma sombra é refletida perto do logotipo da COP 28

AP Photo/Rafiq Maqbool

A 28ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 28, divulgou na noite desta terça-feira (12) o tão aguardado texto final das negociações climáticas de Dubai, horas após a previsão oficial de duração da cúpula.

???? O g1 já teve acesso ao documento e atualizará esta reportagem com detalhes do texto.

Mais cedo, o representante dos EUA para questões climáticas, John Kerry, destacou o progresso do novo acordo, quando ele ainda estava em elaboração, enfatizando uma abordagem mais incisiva em relação aos combustíveis fósseis.

"Sim, está mais enfática [a linguagem sobre o tema]", garantiu.

Na parte da manhã, um representante da presidência da COP também havia informado que um primeiro rascunho, publicado na segunda (11) e bastante criticado por ambientalistas pela ausência dos termos "eliminação gradual" em relação à produção de energia proveniente de fontes poluentes, tinha apenas o objetivo de "estimular as conversas".

Ao ser questionado sobre se a presidência poderia ser responsabilizada caso as negociações fracassassem, Majid Al Suwaid, diretor-geral da cúpula, disse que estava confiante no sucesso da conferência.

"Ao divulgarmos nossa primeira versão do texto, conseguimos que as Partes [os países e territórios que participam das negociações] nos procurassem rapidamente", afirmou.

[Então] passamos a última noite conversando, absorvendo o feedback, e isso nos colocou em posição de redigir um novo texto.

O que estava em jogo

A renúncia aos combustíveis fósseis figurava como uma das questões mais relevantes em pauta este ano. No entanto, o debate sobre o tema gerou muitos entraves, principalmente agora nas últimas horas de negociação. Entenda o que aconteceu:

Os combustíveis fósseis são os grandes vilões do aquecimento global. Isso é algo inegável pela ciência. Por isso, muita gente esperava algum tipo de compromisso para eliminar gradualmente o carvão, o petróleo e o gás pela primeira vez numa cúpula do clima da ONU.

Surpreendendo muitos analistas, o primeiro rascunho do balanço global -o texto mais importante de Dubai- NÃO mencionava diretamente a eliminação dos combustíveis fósseis (do inglês, phasing out). Em vez disso, trazia até mesmo retrocessos.

Isso porque o texto destacava a proposta de eliminar gradualmente os subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis (apoios financeiros ou compensações fiscais que impedem o investimento em fontes de energia limpa), ao contrário da posição mais ampla na COP 26, há dois anos, que buscava a eliminação de todos os subsídios, um termo mais amplo.

Para muitos países e ambientalistas, essa linguagem não bastava. Segundo uma análise do Climate Action Network-International (CAN), por exemplo, uma das maiores organizações ambientais do mundo, cerca de 130 partes pressionaram esse ano por termos mais fortes em torno do tema.

O problema é que para que um item de negociação seja acordado, como o texto do balanço, todos os 198 países da COP devem entrar em consenso.

E segundo a agência Reuters, o presidente da COP 28, Sultan Ahmed Al Jaber, foi pressionado pela Arábia Saudita, líder da OPEP, a evitar mencionar qualquer tipo de menção ao termo combustíveis fósseis no texto.

Por isso, as negociações simplesmente travaram. O documento final da COP 28 era pra ser publicado na manhã desta terça-feira, o que não aconteceu.

Logo após a publicação do primeiro rascunho, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reagiou: "Fizemos uma proposta que aumentava a ambição e indicava um processo estruturado para um roteiro de eliminação dos combustíveis fósseis. Isso desapareceu em termos de linguagem".

Licypriya Kangujam, uma ativista climática indígena da Índia, segura uma faixa com os dizeres "Acabem com os combustíveis fósseis. Salvem nosso planeta e o nosso futuro", em um protesto durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de Dubai, a COP 28.

REUTERS/Thomas Mukoya

Entenda a questão dos combustíveis fósseis

Em sua 28ª edição, a cúpula do clima da ONU teve a presença de cerca de 2.400 pessoas ligadas às indústrias de carvão, petróleo e gás.

???? Os ambientalistas denunciam que esse é um número recorde de pessoas pressionando para evitar medidas pela eliminação dessas fontes poluentes, pauta fundamental para o combate às mudanças climáticas.

Isso porque o aquecimento global é causado pelos gases de efeito estufa que retêm o calor do nosso Sol na atmosfera. Esses gases, como o CO2 (gás carbônico), são liberados quando queimamos combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, algo que não fazíamos antes da Revolução Industrial, pelo menos em larga escala.

Desde então, a quantidade de CO2 na atmosfera aumentou mais de 50% - e continua crescendo. Como consequência disso, o aquecimento global está fazendo o nosso planeta ficar mais quente, o que por sua vez causa uma série de problemas e intensifica fenômenos naturais, como incêndios, secas e tempestades cada vez mais frequentes pelo mundo.

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Fonte: G1