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Rio de Janeiro

Defensoria quer avaliar impactos de operações policiais no Rio

O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) da Defensoria Pública do Rio do Estado do Rio de Janeiro busca informações para avaliar o impacto causado pelas interrupções de serviços públicos durante as operações policiais no Conjunto de Favelas da Maré, zona norte do Rio.


O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) da Defensoria Pública do Rio do Estado do Rio de Janeiro busca informações para avaliar o impacto causado pelas interrupções de serviços públicos durante as operações policiais no Conjunto de Favelas da Maré, zona norte do Rio.

Além de organizar ontem (25) uma reunião com a participação de representantes de 16 associações de moradores daquele território, e de nove ministérios que podem integrar ações coordenadas pela Secretaria Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas da Secretaria-Geral da Presidência da República, com o objetivo de atender as demandas da população da comunidade para promoção de direitos em diferentes áreas, o Nudedh tem procurado o judiciário.

Na última sexta-feira (20), por meio de uma petição, o Nudedh pediu para a Justiça encaminhar ofícios às Secretarias estadual e municipal de Educação e de Saúde, para buscar esclarecimentos sobre os prejuízos provocados pelas operações policiais na Maré. De acordo com a Defensoria Pública do Rio, o Nudedh quer reunir dados sobre o impacto da violência sobre os estudantes e sobre a saúde mental dos moradores do conjunto de favelas da Maré. Ainda conforme o órgão, apenas entre 9 e 18 de outubro, ocorreram sete dias úteis de incursões de forças de segurança.

"Hoje a gente está muito focado não só nas operações policiais, mas no impacto da violência urbana nos serviços públicos", afirmou a subcoordenadora do Nudedh, defensora Maria Júlia Miranda em entrevista à Agência Brasil.

De acordo com a defensora, não só as escolas e unidades de saúde municipais e estaduais localizadas em comunidades têm o funcionamento interrompido durante operações policiais como forma de garantir mais segurança aos funcionários, alunos e pacientes como também universidades federais tiveram as aulas suspensas.

No pedido, o Nudedh observou que além da participação das Polícias Civil e Militar do Estado do Rio de Janeiro, às ações de repressão ao crime no território foram reforçadas por agentes da Força Nacional de Segurança Pública, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Federal. "Vêm provocando a suspensão na prestação de serviços essenciais como funcionamento de escolas e postos de saúde", apontou a Defensoria Pública.

A participação das forças de segurança federais, no entanto, conforme tem sido dito pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, não é de policiamento ostensivo dentro de comunidades. Segundo ele, os agentes da PRF e da Guarda Nacional atuam em apoio às polícias do estado nas estradas federais e, agora, estarão também em portos e aeroportos. Já a Polícia Federal opera nas ações de inteligência. A defensora disse que inicialmente o que chegou a ser divulgado era que as forças federais participariam das operações de forma integrada, mas que o discurso mudou ao longo deste mês de outubro.

A Defensoria informou que o ajuizamento realizado na última sexta-feira foi no âmbito da ação civil pública que desde 2015 tramita na 6ª Vara de Fazenda Pública, chamada de ACP da Maré, para impedir violações de direitos durante operações. A ACP já resultou em uma decisão liminar, confirmada pela 2ª Câmara Cível, que determinou, "entre outras providências, que as secretarias de Polícia Militar e de Polícia Civil informem previamente as autoridades de educação e de saúde, bem como o Ministério Pública, sobre operações naquele território."

Nos questionamentos às secretarias de educação e de saúde, o Nudedh quis saber se as pastas foram comunicadas previamente sobre a realização das operações, para que adotassem medidas para preservar a vida e integridade física, tanto de estudantes, quanto de usuários dos serviços oferecidos na Maré.

"Da educação, a coordenação do núcleo quer saber se foram baseadas viaturas policiais nas entradas e nas proximidades de escolas; se as operações policiais aconteceram em horário de entrada e saída de alunos; por quantos dias as aulas e quantas crianças e adolescentes foram afetados; e se há plano de reposição dos dias letivos", informou a Defensoria.

"Da saúde, os pedidos são relativos à presença de viaturas nas imediações das unidades de atendimento; quais serviços e postos foram afetados; quantos usuários prejudicados; planos de reagendamento de atendimentos suspensos; e, especificamente, se há informações quanto ao impacto da violência sobre a saúde mental dos moradores do conjunto de favelas da Maré", completou o órgão.

Maria Júlia Miranda disse que na Maré a preocupação da Defensoria em relação à educação e à saúde é em torno de reposição de aula e se tem análise sobre o impacto da violência nos alunos, se tem algum levantamento ou algum tipo de acompanhamento. "Da mesma forma na saúde, porque a gente sabe, por exemplo, que pessoas que tinham exame marcado para fazer diagnóstico e inclusive fechar diagnóstico de câncer tiveram os exames desmarcados porque o serviço foi suspenso e a gente quer saber se essas pessoas vão ser realocadas de forma preferencial nas agendas ou se vão aguardar mais seis meses para a realização de exame", concluiu na entrevista, destacando que de acordo com a ONG Redes da Maré cerca de 13 mil alunos foram impactados pela falta das aulas.

Para o Nudedh, os números são alarmantes, mas é certo que estão subestimados e notícias apontam que "só em 2023, dos 208 dias letivos previstos nas Unidades Escolares Municipais, os estudantes da Maré já perderam cerca de 9% delas por conta de violência e operações policiais, sem qualquer previsão de reposição."

O funcionamento do projeto da Prefeitura do Rio, Prato Feito Carioca, para o fornecimento diário de 280 refeições, inaugurado uma semana antes do início das operações, também foi suspenso. "É um programa de segurança alimentar que precisou ser suspenso", comentou Maria Júlia.

O Nudedh compara as operações na Maré, com a que foi realizada pela Polícia Federal na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, na qual foram apreendidos 47 fuzis e os vizinhos "não foram importunados, seus filhos não perderam aulas e atendimento médico, demonstrando que ações de alta eficácia no combate ao crime organizado podem ser feita sem prejuízo aos direitos dos moradores". O Núcleo lembrou ainda uma outra operação da PF, no último dia 19, para a prisão de policiais civis e um advogado envolvidos em corrupção e tráfico de 16 toneladas de maconha, ocorreu sem violência.

A Agência Brasil pediu informações às secretarias estaduais e municipais de educação e saúde, e somente a Secretaria de Estado de Educação retornou ao pedido. "A Secretaria de Estado de Educação informa que o Colégio Estadual João Borges e o Ciep 326 Professor César Pernetta, que ficam na região da Maré, tiveram suas atividades suspensas preventivamente, por 4 dias, afetando aproximadamente 850 alunos."

Entre as secretarias de Estado de Polícias Militar e Civil, apenas a Militar respondeu. "Sua demanda foi encaminhada para a comunicação do Palácio Guanabara, responsável pelas demandas a respeito da Operação Maré".

Brasília

Em outra frente, o Nudedh acompanhou a ONG Redes da Maré em uma reunião, em Brasília, com o secretário-executivo Ricardo Cappelli, na terça-feira (17). No encontro foi discutida, especificamente, as incursões das forças de segurança no território da Maré.

Agencia Brasil

Defensoria Pública Rio De Janeiro Operações Policiais Conjunto De Favelas Da Maré Geral

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