Faltou combinar
O plano de recuperação fiscal de Zema foi feito à luz da legislação vigente, ainda do governo passado de Bolsonaro. O atual governo prometeu mudanças, migrando para um regime menos duro, mas até agora não as formalizou junto ao Congresso Nacional. Duas questões ainda pairam sobre o futuro do RRF de Minas. A primeira é a aprovação da adesão de Minas, de acordo com o plano de aperto fiscal preparado, pelos deputados estaduais mineiros. A segunda é a avaliação que fará dele o próprio governo federal, avesso, em tese, a privatizações e ao sacrifício dos servidores públicos em nome do ajuste das contas públicas.
Reposição de 3%
O plano de Zema poderá apresentar também uma compensação de 3% no vencimento dos servidores, como reposição inflacionária dos últimos doze meses. A medida buscaria atenuar o impacto de impedimento de reajustes por nove anos.RRF passa; referendo, não
Se os argumentos de déficit público e contas no vermelho favorecem a aprovação da adesão de Minas ao Regime de Recuperação Fiscal, por outro lado, é menos garantido o aval ao fim do referendo. O governo Zema não tem maioria dos votos para questões complexas e impopulares. O referendo trata-se de consulta popular sobre decisões de estado que Zema receia ser reprovado, como as privatizações dos patrimônios públicos (empresas estatais). Zema que tirar isso do texto da Constituição Estadual. Está lá, consagrado por maioria parlamentar, a consulta popular sobre venda de empresas estatais. Em termos de democracia, a retirada do dispositivo é um retrocesso, já que retira um direito constitucional de participação popular. Quem é contra sabe que o que pretende não seria aprovado pela maioria. Ignorar a sabedoria popular também é um risco solitário, além de antidemocrático.
Empresas e ditadura militar
Repressão a movimentos grevistas, ameaças a trabalhadores, policiais infiltrados em fábricas: essas são algumas práticas de grandes empresas que colaboraram com a ditadura militar. O resultado de pesquisas que investigam a atuação de três grandes empresas, entre 1964 e 1985, foi apresentado na Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia. Em comum, segundo essas pesquisas, a Fiat, Mannesmann (atual Vallourec) e a Belgo-Mineira (incorporada pela ArcelorMittal) teriam colaborado com os governos militares. A intenção era reprimir movimentos grevistas e perseguir trabalhadores filiados a sindicatos. “A repressão à classe trabalhadora não tem outro objetivo senão reprimir qualquer tentativa de modificar o status quo”, afirmou a pesquisadora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Tayara Lemos.
Arapongas da Usiminas
Antes mesmo de a ditadura ser instalada, a Usiminas (Vale do Aço) havia recorrido, entre os anos de 60 a 70, a arapongas que vasculharam a vida de trabalhadores da empresa e produziram um relatório minucioso de como era o mundo do trabalho na região no período.
Estadão