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Estudo prevê futuro tórrido até para áreas amenas de BH

Relacionada às ondas de calor que vêm castigando o centro do Brasil, a sensação de que os dias estão mais quentes por mais tempo em Belo Horizonte é um aviso alarmante para regiões da capital mineira que ainda não são as mais quentes.



Relacionada às ondas de calor que vêm castigando o centro do Brasil, a sensação de que os dias estão mais quentes por mais tempo em Belo Horizonte é um aviso alarmante para regiões da capital mineira que ainda não são as mais quentes. Bairros onde não se formavam ilhas de calor poderão estar entre os mais afetados pelas altas temperaturas dentro de sete anos. É o que mostram as projeções do estudo "Vulnerabilidade a Ondas de Calor 2030", encomendado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH)) e que mapeou 63 bairros mais expostos ao aquecimento até 2030.
Na tentativa de controlar a elevação das temperaturas, informa a PBH, a administração municipal vem investindo em estudos como esse – abordado pelo Estado de Minas desde sua edição de ontem (5/9) –, e em ações para reduzir a sensação de calor e seus impactos sobre a população.
Na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, a arborização e a proximidade com áreas de boa circulação de ventos e parques ajudam a amenizar os efeitos do calorão. Contudo, vilas e favelas dessa região estão entre os locais que mais podem ser afetados até 2030 se forem mantidas as condições atuais e as mudanças climáticas prosseguirem.
Pelo mapeamento das áreas mais vulneráveis a ondas de calor até 2030, a regional Centro-Sul aparece como uma ilha cercada de áreas quentes principalmente das regionais Noroeste e Leste. Mas apresenta pequenas manchas de altas temperaturas em locais como as vilas Estrela, Santa Rita de Cássia, Acaba-Mundo, Fazendinha e São Lucas, que despontam como áreas de maior vulnerabilidade.
Nesses espaços, a ocupação de cada metro disponível para as construções de habitações suprimiu as árvores e criou uma intricada rede de vias estreitas, vielas e becos de asfalto e cimento, sobrando, algumas vezes, apenas as margens de córregos poluídos ainda usados para o despejo do esgoto doméstico que corre pelas vias.
"Os segmentos mais frágeis e vulneráveis da população, notadamente crianças de até 5 anos e idosos acima de 65 anos, serão seriamente afetados. Além disso, as populações mais pobres possuem um maior déficit de adaptação às mudanças climáticas devido ao pouco acesso aos recursos financeiros e às precárias condições de moradia", indica o estudo.
Na Regional Barreiro, uma das mais amenas da capital devido à arborização, parques, regime de ventos e a proximidade de áreas preservadas e altas como o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, o aquecimento pode bater à porta de alguns bairros em 2030 e incluí-los entre os mais vulneráveis da capital mineira. De acordo com o mapeamento do estudo encomendado pela PBH, a vulnerabilidade poderá ser mais alta nos bairros Bonsucesso, Diamante, Independência, Itaipu, mas também pequenos aglomerados do Tirol, Independência e Urucuia.
Como a reportagem mostrou na quinta-feira, há 63 bairros mais ameaçados e a Regional Venda Nova é a mais vulnerável de Belo Horizonte. Nessa regional, 20 bairros são altamente vulneráveis, parcial ou totalmente. Em alguns, como o Cenáculo, Europa, Maria Helena, Minascaixa e Conjunto Minas, a situação é mais crítica. "A duração das ondas de calor tende a ser maior e se concentra da porção central até a porção norte do município. Barreiro e Oeste são as regionais menos afetadas", aponta o estudo.
Ainda segundo o estudo, “a Regional Pampulha apresenta a maior variação desse índice (lugares mais amenos e também mais quentes) nos seus dois bairros mais vulneráveis, Confisco e Trevo. A regional Centro-Sul apesar de ter a menor vulnerabilidade, possui hotspots (ilhas de calor) de vulnerabilidade concentrados em suas vilas".    

EM BUSCA DE REFRESCO


Pelas janelas e portas abertas se ouve risadas e a conversa das ruas como se não houvesse paredes. Tudo para ver se algum vento bate, ainda que momentâneo, mas refrescante. Bacias de água evaporam tentando amenizar a secura e o calor. "Sou muito alérgica. Se ligar ventilador, a minha rinite ataca, e não consigo fazer mais nada. Aí fico nesse sufoco, o jeito é não ficar dentro de casa", desabafa a aposentada Margarida Maria de Alacoque, de 65 anos, nascida na Vila São Lucas, que pode vir a ser um dos locais mais quentes de Belo Horizonte dentro de sete anos, segundo o estudo "Vulnerabilidade a ondas de Calor 2030".
Na projeção, a vila aparece como um dos poucos locais na Região Centro-Sul que podem se tornar os mais vulneráveis. Na quarta-feira (4/10), enquanto a medição da Estação Pampulha do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) ainda registrava temperatura de 30°C, um termo-higrômetro usado pela reportagem acusava 33,6°C na vizinhança da aposentada.
E pessoas como Margarida já sentem os efeitos do aumento calor na pele. "Na minha época, não havia tantas construções de barracos e casas aqui. Era tudo mato, nem luz tinha direito. Mas não fazia esse calorão. O córrego que passa aqui era aberto e ajudava a esfriar o dia, mas transbordava e alagava as casas. Hoje, desce do morro carregando lixo e esgoto, mas quando chega aqui passa debaixo do asfalto", conta Margarida. Sem ter como recorrer ao giro das pás de ventiladores ou a um ar-condicionado, devido à sua condição de saúde, uma das formas que ela e os moradores da vila encontraram para aplacar o calor é o consumo de chup-chup caseiro, vendido a R$ 3 na casa da vizinha de Margarida. "O chup-chup dela é um sucesso, nesse calor vende demais. Ela mesma faz. Quebra o coco, mói amendoim e faz de polpa de goiaba do quintal também", conta Margarida.
A venda de picolés é o que também aplaca o calor no Bonsucesso, que pode se tornar um dos mais quentes bairros do Barreiro e na lista dos mais vulneráveis da capital nos próximos sete anos. Um contraste com o Bairro Buritis, um dos mais amenos e que tem como divisa com o Bonsucesso apenas o Anel Rodoviário. Enquanto o termômetro da Estação Pampulha do Inmet marcava 34,9°C, no Bonsucesso o calor era de 37,7°C.
"As vendas de picolés aumentaram muito com o calor. E agora, com a chegada do Dia das Crianças, vão crescer ainda mais. O problema daqui é que não tem uma árvore, só asfalto e casas, prédios pequenos, daí, mesmo sendo alto, fica esse paradeiro, não vem um vento para ajudar", disse a confeiteira de picolés de uma fábrica do bairro, Núbia Natividade Vieira, de 30 anos.

POLÍTICAS DE AMENIZAÇÃO


Para tentar aliviar a sensibilidade da capital mineira às ondas de calor, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, desenvolveu uma série de estudos de política climática e emissões de gases de efeito estufa (GEE). Entre as soluções já adotadas ou em implementação, a administração municipal citou o uso de energias renováveis, eficiência energética em edifícios públicos, modernização das instalações elétricas e da iluminação pública, incentivo à mobilidade ativa e transporte público coletivo, implantação gradual de veículos de menor emissão de GEE no transporte público, a ampliação da coleta seletiva e tratamento dos resíduos orgânicos, promoção de áreas verdes e a regeneração de ecossistemas.
Projetos de preservação das áreas verdes podem ajudar a reduzir o calor. Entre eles, o Projeto BH Verde, o Montes Verdes, as Reservas Particulares Ecológicas (RPEs), Selo BH Sustentável, a implantação das miniflorestas e agroflorestas urbanas, os jardins de chuva, o estudo do Índice de Qualidade das Nascentes e a Biofábrica de Joaninhas.
O próprio estudo de vulnerabilidade às ondas de calor encomendado pela PBH aponta soluções que podem ser implementadas para reduzir os impactos das ondas de calor e aumentar as condições das populações sensíveis. "Algumas medidas podem ser tomadas para melhorar a resiliência da população e da cidade diante das ondas de calor e das mudanças climáticas passam por programas de cuidado e saúde específicos. Uso inteligente de áreas verdes (com rotatividade do uso de gramados, arborização que beneficiem o sombreamento, ampliação de espaços permeáveis)", indica o estudo.
Também é necessária uma melhoria da acessibilidade às áreas públicas abertas e manutenção colaborativa dos espaços públicos abertos e verdes entre poder público, privado e organização civil, aponta o documento. Outra sugestão é a ampliação dos horários dos parques, com acesso 24 horas por dia nos períodos mais quentes do ano.
Além disso, o estudo diz que o planejamento urbano deve ter um foco na mobilidade integrada entre pedestres, bicicletas e transportes coletivos, “implementando formas de fomento a deslocamentos não motorizados”.
O estudo indica, ainda, a adequação da geometria urbana às necessidades de arrefecimento e de ventilação, principalmente nos limites da cidade onde se concentram os fluxos de ventos. Ainda que um desafio, é preciso pensar também como se reduzir o tráfego de veículos que geram gases poluentes em locais com pouca ventilação. Das ruas para as edificações, o levantamento indica incentivos à instalação de telhados e de pavimentos frios, conexão de fragmentos de áreas verdes através de corredores ecológicos e monitoramento da qualidade do ar e do conforto térmico local, aumento da quantidade de árvores em áreas vulneráveis e fomento à agricultura e à fruticultura urbana. 

Previsão o tempo


A previsão para esta sexta-feira é de céu parcialmente nublado a nublado com pancadas de chuva e possibilidade de tempestade com trovoadas e rajadas de vento ocasionais, principalmente a partir da tarde, sobre a Região Metropolitana de Belo Horizonte. A temperatura mínima prevista será de 21°C e a máxima de 32°C com umidade relativa do ar mínima em torno de 40%, à tarde, segundo a Defesa Civil Municipal. 

Estadão

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