O depoimento do cacique Serere Xavante à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) tornou-se palco de tensões nesta quinta-feira (31/8). O líder indígena irritou o relator da comissão, Deputado Hermeto (MDB), ao mentir.
No momento em que o deputado Chico Vigilante (PT) fez seus questionamentos, foi apresentado um vídeo em que o fazendeiro Didi Pimenta, com propriedade em Campinápolis (MT), pede apoios via Pix para apoiar Xavante. Ele teria afirmado que foi procurado pelo líder indígena porque "queria ajudar na manifestação". Apesar disso, o depoente disse que não conhecia o homem.
A reação do relator foi um misto de frustração e irritação. Ele repreendeu o líder indígena e ressaltou a importância da transparência nas falas. "O senhor quer falar a verdade, mas está subestimando minha inteligência. É brincadeira. No próprio vídeo ele falou que colocou pix. O senhor já está preso. Até já cumpriu a pena. Não custa nada falar a verdade", frisou.
Respostas contraditórias
Frente aos questionamentos do relator , o pastor indígena se manteve inflexível, respondendo a poucas perguntas. Somente reiterou fatos já questionados e afirmou que pagou a própria passagem para vir à Brasília participar dos protestos bolsonaristas. "Eu mesmo paguei. A igreja enviou para mim", disse.
O deputado também perguntou sobre o teor violento dos vídeos das falas de Xavante. Apesar das evidências, o indígena reiterou que é contra a violência e "pedia para as pessoas não agirem com violência". Essa disparidade entre os fatos foi logo apontada. "Isso está em contradição novamente. Diversos vídeos mostram uma retórica muito agressiva. Isso é democrático?", perguntou.
Por fim, Hermeto fez uma reflexão e destacou como uma grande contradição um líder indígena apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, que teve em seu governo um grande distanciamento com o povo indígena. Xavante respondeu com uma nova pergunta. "É errado apoiar esse ex-presidente? Não posso ter escolha?", indagou.
A CPI
Sererê segue prestando esclarecimentos pela manhã. Ele está preso desde o dia 12 de dezembro de 2022 por ter participado de atos antidemocráticos. O pastor indígena também é o principal pivô dos atos de vandalismo cometidos por bolsonaristas no final do ano passado, na região central do DF. Após a prisão do cacique, uma série de atos de vandalismo ocorreu na cidade, com o fechamento de vias e depredação de carros e ônibus.
Armando Valentin Settin Lopes de Andrade também falou à comissão nesta quinta-feira (31/8). O bolsonarista foi apontado como um dos que planejava plantar explosivos em locais estratégicos da cidade, a fim de causar pânico. Um denúncia anônima afirmou que entre os planos estavam atentados a estações de energia em Brasília.
*Estagiário sob a supervisão de Adriana Bernardes
Estadão