DESATENÇÃO PERIGOSA
A desatenção com a segurança quase custou caro aos moradores de um prédio no bairro Santo Antônio. Depois de um problema na porta, eles decidiram deixar a entrada para o condomínio aberta até que o acesso fosse consertado. Em menos de 48 horas, o prédio sofreu uma tentativa de arrombamento. “São duas portas para chegar até a parte de dentro do prédio e essa porta de vidro tinha risco de quebrar. Os vizinhos quiseram deixar ela aberta. Eu alertei que isso era um chamariz para possíveis ladrões”, conta um morador, que preferiu não se identificar. Ele reforça o alerta do especialista em segurança para redobrar a atenção: “Não podemos facilitar em nada. Temos que estar muito atentos a todas as medidas de segurança, as mínimas e as extras, porque qualquer chamariz é motivo para sermos vítimas”, destaca. “É complicado cobrar da polícia, pois elas fazem o trabalho. Não tem como esperar que eles estejam em todos os lugares o tempo todo. Acho que a impunidade maior é a não execução das leis, pois muitas vezes eles não ficam presos”, aponta Silvio Magalhães, presidente da Associação de Moradores do Bairro Santo Antônio. Para ele, o cenário preocupante se repete em toda cidade. Na avaliação de especialistas, a alta de furtos é justificada por uma transição do dinheiro físico para o digital. “As pessoas estão com os bens guardados em casa. Os pequenos crimes de furtos têm uma fundamentação em cima de problemas econômicos e sociais. Muitas vezes as pessoas praticam um crime de furto, porque ele está vinculado a uma ideia de ser um crime menor. Não preciso utilizar violência, só preciso acompanhar quando essa pessoa vai viajar, por exemplo”, ressalta Jorge Tassi.
“A gente faz de tudo e eles vão achando um jeito”
O número de furtos em Belo Horizonte aumentou de 2022 para 2023, subindo de 3.343 para 3.628, entre janeiro e julho, segundo a da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais. Os dados não têm informações específicas, como a divisão por bairros. A secretaria diz que evita a estigmatização de um local em detrimento de outro, mas que eles podem ser acessados via Lei de Acesso à Informação. Mesmo redobrando os cuidados com segurança, a população se sente insegura e cobra mais ações de combate ao crime e uma lei mais dura. As vítimas se sentem vulneráveis e, por isso, temem revelar seus nomes. “A sensação que se tem é de que a gente faz de tudo e eles vão achando um jeito. A gente se sente de mãos atadas”, lamenta uma moradora do bairro Sion, também na Região Centro-Sul de BH. Ela teve o apartamento arrombado na semana passada, enquanto a família viajava. O prédio tem câmeras de segurança e alarme. Na avaliação do pesquisador em segurança pública Jorge Tassi, crimes como esses são praticados por pessoas de confiança da família. “Tem alguém que deu todas as letras, todas as indicações para que o crime viesse a acontecer, como burlar a segurança”, afirma. O especialista também defende que as pessoas sejam mais criteriosas com o que postam nas redes sociais. “A gente precisa ser menos imediato. Eu realmente acho que a exposição nas redes sociais é exagerada. Você não vai exibir que instalou um sistema de câmeras em casa”, observa. As forças de segurança reforçam que os casos de arrombamentos – e todos demais crimes – devem ser registrados pela população. A partir dos dados, as polícias Militar e Civil organizam as estratégias de prevenção e repressão aos crimes. A PM garante que rondas rotineiras são feitas em toda a cidade. “Diversas medidas para combater esses delitos têm sido adotadas, incluindo o aumento do patrulhamento preventivo em áreas críticas, intensificação das operações, além de cooperação com outras agências de segurança. É importante destacar também que a Polícia Militar tem feito inúmeras prisões de autores de furtos e arrombamentos, porém estes não ficam encarcerados, o que contribui para a reincidência criminal”, disse a corporação por meio de nota.Estadão