G1
Segundo agência, carta reiterou o 'posicionamento técnico e científico da autoridade regulatória do Brasil'. Itamaraty não se manifestou sobre envio da carta diretamente pela agência. O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, explicando a decisão de abril da agência que vetou naquela ocasião a importação da vacina russa Sputnik V. A importação da vacina — em condições especiais — foi autorizada somente neste mês pela agência (vídeo abaixo).Anvisa aprova, com restrições, a importação das vacinas Sputnik e Covaxin Na carta enviada a Biden, Barra Torres disse que a decisão foi técnica e negou a existência de pressão política dos Estados Unidos no processo. A carta consta de documentos aos quais o G1 teve acesso encaminhados pelo Itamaraty à CPI da Covid no Senado.A reunião na qual a Anvisa negou a autorização de importação ocorreu no último dia 26 de abril. Após a importação ter sido vetada, o Fundo Russo de Investimentos Diretos, responsável pelo desenvolvimento da vacina, disse que "declarações intencionalmente falsas da Anvisa fazem parte de uma campanha de desinformação contra a vacina Sputnik V" e que a autorização teria sido negada por pressões políticas. Por isso, o diretor-presidente da agência concedeu entrevista coletiva três dias após a negativa de importação, na qual contestou as acusações e ressaltou o caráter técnico da decisão (vídeo abaixo).Anvisa rebate acusações de Fundo Russo e diz que dados da Sputnik vêm do fabricanteMesmo assim, no dia seguinte, Barra Torres encaminhou a carta, endereçada diretamente ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Na carta, ele apresentou os argumentos citados pelos técnicos da agência para a decisão e citou as acusações de pressão política. "Eu gostaria de aproveitar a oportunidade para reforçar que a decisão da Anvisa sobre a vacina Sputnik V foi técnica e científica e que não houve, em nenhum momento, qualquer pressão nesta agência por parte dos Estados Unidos ou de outra fonte", diz Barra Torres no texto.Que vacina é essa? Sputnik VItamaraty soube pelo governo dos EUAProcurada pelo G1, a Anvisa disse que "a manifestação do diretor-presidente da Anvisa foi no sentido de reiterar o posicionamento técnico e científico da autoridade regulatória do Brasil". O órgão não respondeu se a iniciativa foi de Barra Torres nem se a manifestação foi discutida com o Ministério das Relações Exteriores (MRE).O G1 procurou o MRE, mas a pasta ainda não tinha se manifestado até a publicação desta reportagem.Em ofício de 17 de maio, o Itamaraty informou ao Ministério da Saúde sobre a existência da carta. No documento, o ministério afirmou que "a Embaixada em Washington informou ter tomado conhecimento, por intermédio do Departamento de Estado, de carta, datada de 30/4/21, do diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, dirigida ao presidente Joe Biden".E ressaltou que a carta foi "encaminhada por intermédio da Embaixada dos EUA em Brasília". O ministério não registrou se houve resposta do governo norte-americano.