Brasília – A comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que investiga aos atos golpistas de 8 de janeiro, aprovou ontem a quebra de sigilos do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que também foi secretário de Segurança do Distrito Federal. Torres prestará depoimento na comissão na próxima terça-feira. Cid já compareceu ao colegiado , mas ficou em silêncio e não respondeu às perguntas dos parlamentares. No caso dele, a CPI aprovou a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático (de mensagens). Torres, que teve sigilos telefônica e de mensagens quebrados chegou a ser preso por suspeita de omissão na invasão de Brasília, mas foi liberado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes com condição de usar tornozeleira eletrônica.
Na sessão de ontem, a CPMI também aprovou a quebra de sigilos do general Carlos Eduardo Feitosa Rodrigues: nomeado servidor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Bolsonaro; de André Luiz Garcia Furtado, coronel e servidor do GSI que esteve no Palácio do Planalto no dia dos atos golpistas; de George Washington, bolsonarista condenado por ter posto bomba em caminhão nos arredores do aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro do ano passado, às vésperas da posse de Lula. Em depoimento à CPMI, o perito da Polícia Civil do Distrito Federal que fez a perícia da bomba Renato Carrijo informou que o artefato é usado por empresas especializadas em explosão de pedreira e com uso autorizado apenas pelo Exército.
Os parlamentares aprovaram também acesso a relatórios de inteligência financeira – conhecidos como RIF e produzidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – de empresários e empresas. Os RIFs são documentos produzidos pelo Coaf quando são descobertas movimentações suspeitas entre empresas ou pessoas físicas, que podem estar relacionadas a lavagem de dinheiro ou ocultação de bens. Entre os documentos que serão solicitados pela CPI, estão os relacionados ao ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Marques e do hacker Walter Delgatti Neto. O presidente da CPMI, Arthur Maia, informou que o período do RIF solicitado será de junho de 2021 até agosto de 2023.
A CPMI vai ouvir Anderson Torres por suspeita de ter sabotado o esquema de segurança montado para uma possível manifestação naquele dia. A Polícia Federal encontrou na casa dele uma minuta golpista, que tentava mudar o resultado da eleição presidencial alegando fraude na votação. No dia dos ataques aos prédios dos três Poderes, ele era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e não estava na capital, estava de férias nos Estados Unidos. Torres voltou ao país escoltado por policiais federais e ficou preso por cerca de quatro meses. Ele cumpre medidas protetivas em liberdade, com uso de tornozeleira eletrônica.
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou que Torres poderá dar explicações sobre atos anteriores, como a tentativa de explodir uma bomba no aeroporto de Brasília praticada por George Washington.
“Anderson Torres era ministro da Justiça nesse período e no 8 de Janeiro também ele era o secretário de Segurança Pública. Então, ele é uma figura que faz um elo desse 1º momento, portanto, novembro e dezembro, e também o mês de janeiro. Eu acredito que é fundamental a presença dele aqui na próxima terça-feira”, disse.
Hacker também entra na mira da comissão
O hacker Walter Delgatti, que teve seus sigilos telefônico e de mensagens quebrados, irá prestar depoimento na comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) dos atos golpistas de 8 de janeiro. Ele foi preso na quarta-feira, no mesmo dia em que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão nos endereços da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). A parlamentar bolsonarista e o hacker teriam se conhecido antes das eleições presidenciais. Ela ela teria pago R$ 13,5 mil a Delgatti para que ele inventasse mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).Zambelli também teria apresentado o hacker ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022. Ele disse que foi pago pela deputada para tentar invadir urnas eletrônicas, mas alegou que só poderia ter acesso ao código-fonte dentro da sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O deputado Rogério Correia (PT-MG), disse que o depoimento é importante para entender como foi a organização da tentativa do “golpe de Estado”. “As falas da Zambelli são o suficiente para mostrar as ligações com a intenção golpista entre ela, o hacker, a cúpula do PL e o próprio Bolsonaro”, disse Correia, afirmando que a oitiva ainda está dentro do escopo dos ataques de 8 de Janeiro.
A CPMI também convocou o fotógrafo Adriano Machado, da Reuters, que fez cobertura fotográfica dos ataques aos três poderes, e ainda Cíntia Queiroz de Castro, tenente-coronel da Polícia Militar e subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança do DF; Marcela da Silva Moraes Pinno, PM promovida por “atos de bravura” no 8 de janeiro; Luís Marcos dos Reis, sargento do exército, preso na investigação da fraude no cartão de vacina do ex-presidente Bolsonaro.
MONARK
O ministro Alexandre de Moraes determinou abertura de uma investigação para apurar o crime de desobediência pelo youtuber Bruno Monteiro Aiub, conhecido como Monark. Como o influenciador está proibido de criar novos perfis nas redes sociais, o magistrado também aplicou uma multa de R$ 300 mil por descumprimento da ordem. Moraes destacou que o youtuber fez “nova e grave violação à ordem jurídica” ao continuar fazendo ataques ao STF mesmo com a suspensão de perfis. Ele ordenou a suspensão de 26 perfis ligados a Monark em 19 plataformas, como Google, Meta, Twitter e Spotify. As empresas também deverão suspender qualquer repasse de qualquer recurso, como publicidade, doação e monetização.“As condutas do investigado, consubstanciadas na produção, mesmo ciente da decisão judicial proibitiva, de conteúdo vedado, e sua publicação em diversos perfis nas redes sociais caracterizaram nova e grave violação à ordem jurídica. E mais, evidenciam que o investigado está deliberadamente violando decisão da Suprema Corte”, escreveu o ministro.
Estadão