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Rio de Janeiro

Grande Rio e Salgueiro levam à avenida enredos indígenas em 2024

A Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio, que escolheu para 2024 contar a história do mito tupinambá, vai questionar como o Brasil se identifica com os povos originários de seu território.


Salgueiro, do carnavalesco Edson Pereira, levará os yanomami à avenida - Acadêmicos do Salgueiro/Divulgação

"Foi um acaso mesmo, porque eu comecei a trabalhar esse enredo em setembro do ano passado e aí, já em dezembro, começou essa questão que veio aflorar na mídia. Era um enredo pertinente bem antes disso", ressaltou o carnavalesco, em entrevista à Agência Brasil.

Edson revelou que o enredo é baseado no livro A Queda do Céu, de Davi Kopenawa, xamã e líder político do povo yanomami, para mostrar "o quanto é necessário entender que, antes do Brasil ser império, antes de existir a coroa, já existia o cocar", que é o ponto de partida do que a escola vai apresentar na avenida.

"Temos uma dívida com os povos originários, não é só com os yanomami. Claro, a gente tem uma dívida com os yanomami, mas a gente fala também de todos os povos originários do Brasil. Esses povos lutam por uma causa não só de subsistência. Eles falam que não comem o que a gente acha ser o mais precioso, que é o ouro, o diamante, as pedras preciosas, os minérios. Eles não sobrevivem disso e, sim, da natureza e lutam pela preservação dessa natureza", contou, acrescentando, que, por isso, o Brasil passou a ser o foco do mundo.

Mas o Salgueiro não vai ficar apenas na parte das dificuldades do povo yanomami, vai mostrar também o lado positivo da etnia. "É até um pedido do Davi Kopenawa e do Instituto Moreira Salles: que a gente mostre mais essa parte feliz, do que essa parte agressiva deles, que tentam passar, e não é verdade. Também a parte do lamento não cabe no carnaval, mas é necessária como um alerta. A gente vai ter, sim, esse alerta, mas sem a questão da dor e do lamento. Vamos mostrar uma realidade muito pertinente", adiantou.

"Os povos originários querem ser representados, mas com felicidade também", acrescentou.

De acordo com Edson, a comunidade salgueirense recebeu muito bem o enredo, até porque faz tempo que a escola não fala sobre indígenas. "O Salgueiro é conhecido como uma escola ligada aos temas de origem africana, mas a gente quer dar uma cambalhota em tudo isso, quer virar esse jogo."

"O Salgueiro, enquanto escola de samba, tem obrigação de falar em todas as culturas a que a gente tem acesso. A comunidade está muito feliz", observou.

Samba

Com base a sinopse escrita pelo 'enredista' Igor Ricardo, um texto explicativo do enredo divulgado pelas escolas, os compositores estão na fase de criação de sambas, que vão começar a ser selecionados em disputa na quadra em agosto.


"Provavelmente teremos mais de 30 sambas [concorrendo]. Teremos um grande problema, porque já vimos obras lindas. É um problema bom de se passar. A gente está muito feliz porque eles entenderam muito bem a proposta que queremos passar com este enredo. Acreditamos que é o caminho certo", afirmou Edson, destacando que a participação do samba para o resultado de uma escola é de mais de 50%.

"Estamos aguardando uma disputa bem difícil. Essa é a expectativa", acrescentou.

Barracão

Segundo o carnavalesco do Salgueiro, o cronograma de preparação dos desfiles está adiantado, tanto que os protótipos, que são os desenhos das fantasias, estão prontos há quase um mês. "A gente já está em um processo de compra de material e de execução de algumas fantasias. As alegorias também já estão desenhadas e em um processo de compra de material. É um processo bem diferente dos últimos anos", concluiu.

Agencia Brasil

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