Até o dia 3 deste mês, data da divulgação do último boletim epidemiológico das autoridades de saúde de Minas sobre essas arboviroses, 139 pessoas haviam morrido em decorrência da dengue no estado. Os últimos óbitos registrados Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) ocorreram em oito municípios: Belo Horizonte, Estrela do Sul (Alto Paranaíba), Itaú de Minas (Sul), João Pinheiro (Noroeste), Paracatu (Noroeste), Patos de Minas (Alto Paranaíba), Piumhi (Centro-Oeste) e Uberlândia (Triângulo). Sendo que esta última é a com maior mortalidade, com 12 óbitos, desde o início do ano.
Ao todo, 237.710 casos de dengue foram confirmados em Minas. Outros 163.493 estão sendo tratados como casos prováveis e ainda precisam ser confirmados via exames laboratoriais. O infectologista Estevão Urbano avalia que as pessoas perderam o hábito de se preocupar com a dengue. Ele recomenda que, mesmo com o avanço das frentes frias – que diminuem a capacidade de reprodução do mosquito vetor – a população continue com as medidas de prevenção. “As pessoas perderam o hábito de se preocupar com a dengue, deixando os focos em casa. Há um certo relaxamento nas condutas de prevenção e, só agora, nos últimos dias, que podemos estar contando com o inverno”, disse.
EPIDEMIA CÍCLICA Em Belo Horizonte, a situação não é diferente do restante de Minas nem da Região Metropolitana. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela prefeitura da capital na sexta-feira (7/7), 8.943 pessoas já foram contaminadas pela dengue. Sete pessoas morreram. Há três anos, em 2020, eram 4.009. Em 2021, 673. Em 2019, chegou a 59.985 contaminados, apenas até a primeira semana de julho.
O padrão se repete desde 2010, primeiro ano de registros da PBH que estão disponíveis para livre consulta. Em 2016, até o fim do sexto mês do ano, foram 107.754 casos. Dois anos antes – em 2013 –, 51.753. Em 2010, 37.604. Além disso, durante os intervalos epidêmicos os casos até junho não passaram de 3 mil, com exceção de 2011 e 2015, quando foram registradas 6.007 e 8.005 contaminações.
De acordo com o virologista, professor da UFMG e presidente da Associação Brasileira de Virologia, Flávio da Fonseca, apesar de “assustadoras”, as epidemias de dengue já são esperadas pelos pesquisadores, pelo menos enquanto não há vacinação em massa contra a doença. Ele afirma que a oscilação de períodos endêmicos acontece desde o primeiro caso registrado no país, em 1980.
“Embora seja assustadora, a dengue tem essa característica e, como a gente ainda não tem uma vacina amplamente utilizada e não existe remédio contra a dengue, a única forma de combate maciço é o controle do vetor, que a gente sabe que tem sido muito ineficaz. A gente não consegue mais dar conta do Aedes aegypti porque ele se distribui para todo lado. É muito difícil combater o vetor porque ele está muito bem adaptado ao ambiente urbano”, diz o especialista.
Não é só a dengue que preocupa. Na capital mineira, foram confirmados 4.276 casos de chikungunya até o dia 7, sendo 1.444 autóctones, 173 importados e 2.659 casos de local com origem indefinida. Outros 1.339 notificados estavam pendentes de resultados. Até a mesma data, 43 casos de zika haviam sido notificados em Belo Horizonte, mas nenhum foi confirmado. Outros 34 casos foram descartados e nove seguiam pendentes de resultado.
COMBATE AO MOSQUITO Na capital, a administração municipal mantém as ações de combate ao Aedes aegypti em todas as regionais do município, com vistorias nos imóveis e reforçando orientações sobre os riscos do acúmulo de água, além de orientar sobre como eliminar os focos e, se necessário, fazer a aplicação de biolarvicidas.
Em 2023, até 30 de junho, foram mais de 2,7 milhões de vistorias. Além disso, a Secretaria Municipal de Saúde aplica inseticida a Ultra Baixo Volume (UBV) para o combate a mosquitos adultos em áreas com casos suspeitos de transmissão local e também utiliza drones para a aplicação de larvicida diretamente nos locais de risco, quando estes são de difícil acesso.
Outra alternativa praticada é o método Wolbachia e a continuidade das liberações dos mosquitos em todas as regiões de BH. A Wolbachia é um microrganismo intracelular e não pode ser transmitido para humanos ou animais. Mosquitos que carregam o microrganismo têm capacidade reduzida para a transmissão das arboviroses, diminuindo assim o risco de surtos das doenças e da febre amarela. Esse método não envolve qualquer modificação genética do vetor Aedes aegypti.
ARBOVIROSES Jordana Coelho dos Reis, professora do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que as arboviroses são um grupo de vírus diferentes, transmitidos por artrópodes ou mosquitos, como a malária, dengue, zika, chikungunya e febre amarela, que em sua forma urbana, que não ocorre no Brasil desde a década de 1940, também pode ser transmitida pelo Aedes.
A especialista explica que as arboviroses causam doenças associadas ao sangue. No caso da dengue, a infecção diminui a produção de plaquetas dos indivíduos, causando edemas no corpo. “O que a gente acredita que está acontecendo é que, antes da pandemia da COVID-19, tivemos um melhor controle da proliferação dos vetores das arboviroses. Nunca foi o ideal, mas a gente tinha um controle marginal pelas campanhas que sempre aconteciam. Durante a pandemia, essas campanhas sumiram, e, por isso, não existe mais o estímulo para que a população faça o controle dos focos”, diz.
A doença mês a mês em BH*
Mês Casos confirmados ÓbitosJaneiro 286 -Fevereiro 752 2Março 2.723 1Abril 3.370 3Maio 1.691 1Junho 121 -Julho - -Total 8.943 7*Até 7/7/23
Fonte: Sinan/GVIGE/DPSV/SMSA/PBH
Estadão