Mostra de Cinema de Ouro Preto homenagea Tony Tornado - Leo Lara/Universo Produção/Divulgação
Referência no calendário cinematográfico nacional, a CineOP é organizada pela Universo Produção, que também responde pela tradicional Mostra de Cinema de Tiradentes. O evento surgiu em 2006 com o intuito de suprir uma demanda do setor audiovisual por um festival estruturado em três eixos: patrimônio, educação e história. Para cada um deles, há uma vasta programação que mobiliza cineastas, pesquisadores, restauradores, professores, críticos, estudantes e cinéfilos em geral. A temática da edição deste ano é Memória e Criação para Futuro.
Música Preta
O eixo História preparou uma programação com base no subtema Imagens da MPB (Música Preta no Brasil), com o objetivo de dar destaque à presença da black music brasileira na trilha sonora de produções audiovisuais. A escolha integra o contexto do tributo à Tony Tornado e permeia não apenas a seleção de filmes como também os debates e demais atividades.
O pontapé inicial dessa programação ocorreu já na cerimônia de abertura, que foi sucedida da exibição do documentário Baile Soul, dirigido por Cavi Borges, que trata dos bailes black cariocas entre o fim dos anos 1960 e o fim dos anos 1970. Houve ainda uma performance com os artistas Lira Ribas, Maurício Tizumba, Silvia Gomes e DJ Black Josie, entre outros. A apresentação incluiu músicas escolhidas em sintonia com o subtema do eixo História.
Ao longo do evento, o público pode acompanhar com sessões cinematográficas que transitam dos clássicos como Rio Zona Norte, dirigido por Nelson Pereira dos Santos e lançado em 1957, até títulos contemporâneos como Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor (2022), Paulinho da Viola: Meu Tempo é Hoje (2003) e Simonal: Ninguém Sabe o Duro que Dei (2008). Também integra a programação a comédia Uma Nêga Chamada Tereza, lançado em 1973 sob direção de Fernando Coni Campos e protagonizado por Jorge Ben Jor, filme que teve pouco sucesso na época em que foi lançado.
Em nota divulgada pela CineOP, o curador Cleber Eduardo avalia que a música preta sempre esteve presente no ambiente cultural brasileiro e propõe uma reflexão sobre o caminho que ela percorreu desde o século passado até o momento, desenvolvendo-se em um ambiente com proeminência de artistas brancos, desde os astros de rádio e da chanchada. Ele observa ainda que há trilhas sonoras gravadas por brancos a partir de composições de autores negros.
"Historicamente, a relação da música preta em ficções e documentários teve uma presença tímida no cinema brasileiro e só se ampliou de modo considerável nos últimos 25 anos, com a profusão de filmes e séries sobre diversos artistas, brancos e pretos, na grande maioria dirigidos por pessoas brancas e com o tom de biografia legitimadora como norte", analisa. Segundo ele, Tony Tornado apresenta uma rara longevidade que aponta para a complexidade e os paradoxos da presença negra nas telas de cinema.
Políticas Públicas
Nos outros dois eixos, a programação conta com espaços para discussão de políticas públicas, além da exibição de filmes. No eixo Patrimônio, as discussões se desenvolvem em torno do subtema Patrimônio Audiovisual Brasileiro em Rede e dão continuidade a assuntos já tratados pelo setor no Fórum de Tiradentes, realizado na Mostra de Cinema de Tiradentes em janeiro desse ano.
Na manhã desta sexta-feira (23), houve inclusive medidas anunciadas pela secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Joelma Gonzaga. Ela indicou que a pasta irá atender algumas reivindicações do setor como a suplementação de 70% do valor do contrato de gestão da Cinemateca Brasileira, a regulamentação do Plano Nacional de Preservação Audiovisual, a instituição da Rede Nacional de Acervos e Arquivos Audiovisuais e a inserção dos trabalhos de preservação na Lei Federal Paulo Gustavo, aprovada no ano passado durante a pandemia de covid-19 para incentivar a cultura e garantir ações emergenciais.
A programação do eixo Patrimônio inclui o 18º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros. Realizado anualmente durante a CineOP, trata-se de um dos principais fóruns onde se discutem políticas públicas voltadas para preservação dos filmes nacionais. A pauta envolve temas como prioridades para a restauração, processos de digitalização, acesso da população aos filmes e organização de bancos de dados.
Já no eixo Educação, ocorre o XV Fórum da Rede Kino, que congrega pessoas e instituições da América Latina interessadas em ações e em políticas públicas que envolvam cinema e educação. Neste ano, as discussões são orientadas pelo subtema Cinema e Educação Digital: Deslocamentos. Buscando beneficiar a comunidade local, a CineOP realiza ainda sessões cine-escola, cine-debates e oficinas para atender a demanda de mais de 2 mil estudantes e educadores da rede pública de ensino em Ouro Preto.
Agencia Brasil