Sistema Cantareira começou mês de março com volume de 70%, o maior em 11 anos. Represas de cidades que costumam precisar de rodízio, como Valinhos e Vinhedo, estão com 100% da capacidade. Represa Jaguari/Jacareí, do Sistema Cantareira, no dia 1º de fevereiro de 2023
Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo
O grande volume de água concentrada no Sistema Cantareira com as chuvas de verão tem chamado a atenção por ser o maior dos últimos 11 anos. Mas como isso afeta os rios que abastecem a região de Campinas (SP)? O Consórcio PCJ - responsável pelas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí - revela que o alívio em relação à chance de um racionamento em 2023 é real, mas não significa que poderemos ter tranquilidade durante a estiagem.
Em entrevista ao g1, o coordenador de projetos do Consórcio, José Cezar Saad, afirmou que desde 2012 não se vê uma condição tão favorável para reduzir as possibilidades de restrição no abastecimento de água. As bacias afetam diretamente 76 municípios.
"Principalmente nos municípios que são dependentes do Sistema Cantareira, a possibilidade de racionamento e rodízio é muito baixa, bastante reduzida, porque o sistema dá uma grande reserva, não há esse temor para esse ano de 2023. Agora, nós vamos depender do comportamento das chuvas durante o período seco", afirmou.
A partir de maio e junho, começa o período de estiagem, que pode ter comportamento atípico por conta do possível retorno do fenômeno El Niño. Ele provoca um aquecimento fora do comum no oceano, eleva as temperaturas globais, tende a intensificar a seca no interior e as chuvas na região Sul.
"Nós temos que trabalhar com esse cenário também, temos que estar sempre trabalhando para enfrentar o pior esperando que aconteça o melhor."
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Dez das 49 cidades das regiões de Piracicaba e Campinas banhadas pelas bacias PCJ têm reservatórios municipais
Bacias do Consórcio PCJ, que abrange os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, responsável pelo abastecimento da região de Campinas
Reprodução/Consórcio PCJ
Cosmópolis (SP), na região de Piracicaba (SP), é uma das cidades que integram o Consórcio e foi impactada nesta quinta-feira (9) pelo rompimento de parte do paredão da represa que abastece a população. O nível baixou pela metade e a orientação é que os moradores economizem no consumo. Municípios no entorno precisaram ser monitorados por conta do risco de enchente.
Barragem de represa se rompeu e metade de água escoou em Cosmópolis
Giuliano Tamura/EPTV
Cantareira em alta
No início de março, o volume operacional do Sistema Cantareira estava em 70% - o maior desde 23 de agosto de 2012. Segundo Saad, a expectativa é que atinja 75% até o fim deste mês, com a previsão de mais chuvas.
"Esse verão, particularmente, foi bastante chuvoso. Os rios tinham mais água, a vazão era maior, fazendo com que a necessidade de retirada de água do Sistema Cantareira fosse a menor possível, tanto para a região das bacias PCJ, quanto para a Região Metropolitana de São Paulo. Isso fez com que houvesse um aumento de 17,3% da ordem do volume útil do Cantareira em apenas um mês", explicou o coordenador.
O Cantareira é o maior responsável por abastecer a região metropolitana de São Paulo (RMSP). Na região de Campinas, contribui, por exemplo, diretamente para o Rio Atibaia, que abastece 95% da metrópole.
Há nove meses, na estiagem, a situação do Cantareira era bem diferente. Estava com armazenamento abaixo de 40% e cenário já era tratado como crise e com recomendação de consumo consciente à população.
"A partir do momento em que as chuvas regulares diminuírem, a necessidade de se utilizar a água acumulada reservada nas represas de uma maneira geral, quer seja em Valinhos, Nova Odessa, Santa Bárbara d'Oeste ou do Sistema Cantareira, a tendência é que você passe a utilizar água dessas represas para abastecimento."
Projeção Hidrológica para o Sistema Cantareira de junho de 2022
Reprodução/Cemaden
Reservatórios e represas da região
Em janeiro deste ano, o Consórcio PCJ divulgou que dez das 49 cidades das regiões de Piracicaba (SP) e Campinas (SP) que integram as bacias possuem reservatórios municipais de água, sendo que cinco delas construíram essas represas de 2012 pra cá.
As dez cidades foram citadas em um estudo de 1992, que apontou a necessidade de uma autonomia hídrica nessas regiões. Estavam na lista Artur Nogueira, Capivari, Cordeirópolis, Cosmópolis, Indaiatuba, Louveira, Nova Odessa, Rio das Pedras, Santa Bárbara d"Oeste e Vinhedo.
Vinhedo é uma das que enfrentou abastecimento de água restrito no período de estiagem em anos anteriores, mas tem expectativa de não precisar recorrer a essa medida em 2023. As represas estão com 100% a capacidade.
"A previsão nossa, que a gente tem acompanhado junto às câmaras técnicas de monitoramento hidrológico, é justamente de uma precipitação maior no período de estiagem. A gente conta que não vai ser necessário fazer a sistemática de rodízio, a menos que seja por calamidade, emergência ou força maior", explicou Gabriel Carvalho, diretor da Estação de Tratamento de Água do Saneamento Básico de Vinhedo (Sanebavi).
Em Valinhos, que também enfrenta racionamento quando a estiagem é severa, o armazenamento de água também está pleno, disse o Departamento de Águas e Esgoto de Valinhos (Daev). Desde dezembro do ano passado a cidade aplica bandeira azul para captação, diante de mananciais em condições normais de nível e vazão.
O Consórcio PCJ ressaltou que orienta os municípios a promoverem constantemente ações de captação de água da chuva e uso racional.
"Não podemos desperdiçar. A água tratada não foi feita para lavar calçada, essa pode ser a da chuva, a da máquina de lavar. Investir em campanhas de consicentização do uso de água nas famílias – banhos curtos, torneiras fechadas no banho, louça. Na crise de 2014 vimos que deu resultado e as pessoas se conscientizaram, chegaram a reduzir em até 30%.", completou Saad.
Área de represa do CLT, em Valinhos, em 2022
Fernando Pacífico/g1
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