Pesquisadora explica que espécie é microscópica, mas ao fazer hospedeiros e devorá-los, fungo pode ser visto a olho nu. Espécie é inofensiva a humanos, conforme Patrícia Dalzoto, da UFPR. Fungo de The Last of Us tem "primo" no Brasil que é útil na agricultura
O fungo do gênero Cordyceps, apresentado no mundo pós-apocalíptico da série norte-americana The Last of Us, tem um “primo” em terras brasileiras capaz de dominar pequenos animais - como formigas e aranhas - e devorá-los por dentro.
Trata-se da espécie "Beauveria bassiana", que com esta capacidade de dominação passou a ser utilizada na agricultura como controle biológico de pragas em plantações. Leia mais abaixo.
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A professora Patrícia Dalzoto, doutora em genética de microrganismos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), estudou por quase sete anos a espécie. Ao longo das pesquisas ela analisou como o fungo se reproduz.
De acordo com a professora, esse tipo de fungo só pode ser visto a olho nu quando faz um hospedeiro. A espécie é encontrada em todo território brasileiro, especialmente em ambientes úmidos.
“É um fungo que ataca, especificamente, algumas pragas. E em insetos "benéficos", como abelhas, ele não faz nada", explica.
Ao parasitar alguns insetos, espécie 'Beauveria bassiana" se manifesta com tipo de 'pó branco' nas vítimas mortas
Arquivo/Patrícia Dalzoto
Como a espécie vive
Conforme a pesquisadora, a espécie vive em diversos ambientes, preferencialmente na natureza, no solo de matas, mas também pode ser encontrado em ruas e calçadas, por exemplo.
A vida destes fungos se desenvolve em conjuntos de filamentos microscópicos – como representado com o gênero Cordyceps, na série The Last of Us.
Patrícia explica que o contato do fungo com pequenos animais, como insetos, ocorre de maneira aleatória.
Quando entra em contato com pequenos animais, entretanto, o fungo consome eles por dentro para permanecer vivo. Em seguida, após matar o hospedeiro, é possível ver o fungo a olho nu, uma vez que alguns “pelinhos” são expelidos para fora da vítima.
Segundo pesquisa, fungo se torna visível cerca de 3 dias depois de consumir vítimas
Arquivo/Patrícia Dalzoto
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De acordo com a pesquisadora, ao sair do hospedeiro, o fungo quer aumentar as chances de reprodução, espalhando esporos para outros pequenos animais.
Nos estudos de Patrícia, ela fez ensaios em laboratório e comprovou a capacidade parasitária da espécie em formigas, barbeiros, aranhas e percevejos.
Incapacidade de controle
Patrícia explica que, diferentemente de outros fungos, a espécie Beauveria bassiana não possui a capacidade de controlar o movimento dos hospedeiros, mas ao consumi-los e emitir esporos para fora das vítimas, consegue continuar perpetuando a espécie.
Em The Last of Us, o fungo Cordyceps retratado existe na vida real, com a "pequena" diferença de que não consegue controlar humanos e criar zumbis.
Assista ao trailer da série 'The Last of Us'
De acordo com Patrícia, algumas espécies do gênero Cordyceps conseguem invadir o sistema nervoso de formigas e controlar os movimentos das mesmas, fazendo com que as vítimas andem até locais altos.
Lá, o fungo faz o consumo da vítima por dentro e, após se manifestar fisicamente por meio de uma “antena”, espalha esporos para fazer novos hospedeiros.
A professora explica que espécies de fungos parasitários estão longe de conseguir, em algum momento, controlar humanos. Entretanto, muitas delas causam doenças graves.
“Um deles é o que é transmitido pelas fezes de pombo. Pode causar micoses bem graves, pode levar a pessoa à morte. Mas ele não consegue manipular a gente [...] Pra um fungo como o da série conseguir uma mutação e ela ser selecionada ao longo do tempo, a gente fala de um tempo geológico. Neste momento é muito improvável."
Uso na agricultura
De acordo com a professora Patrícia Dalzoto, a espécie Beauveria bassiana está presente em diversos produtos do mercado voltado para controle biológico.
A produção, conforme a pesquisadora, ocorre em larga escala.
“Você produz o fungo em larga escala. Retira toda a água e deixa ele na forma de um pozinho, e aí vende isso. O agricultor compra aquilo e, no lugar de colocar um pesticida químico, ele pode colocar um inseticida biológico”, explica.
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Fonte: G1