Tenente-coronel Gilmar Tramontini da Silva, hoje no GSI, é apontado pelo MPRJ como mandante da morte da traficante, em 2021. Outros 10 policiais também são investigados. Suspeitos são réus por homicídio com agravante. Gilmar Tramontini da Silva, tenente-coronel, que em 2021 era comandante do 7º BPM (São Gonçalo)
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A Corregedoria Interna da Polícia Militar abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a conduta do tenente-coronel Gilmar Tramontini da Silva, então comandante do 7º BPM (São Gonçalo), e outros 10 PMs pela morte de Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, a Hello Kitty, de 21 anos, e de outros três homens, durante uma operação no Complexo do Salgueiro, em 2021.
No dia 13 de fevereiro, o Ministério Público do Estado (MPRJ) denunciou os onze policiais por homicídio com agravente por suspeita de terem forjado uma operação policial para matar a traficante. Tramontini é apontado pelo MP como o mandante da morte de Hello Kitty.
A denúncia foi aceita pela juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine, titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, no dia 15 de fevereiro, e todos viraram réus. A magistrada também determinou o afastamento de todos os policiais das ruas e das suas funções — a PM diz que eles já tiveram suas atividades suspensas.
O g1 tenta contato com Tramontini, que atualmente está lotado no Gabinete de Segurança Institucional — responsável por fazer a segurança do governador.
O IPM pode resultar na expulsão do grupo da PM.
Após a morte de Hello Kitty e outros três homens — Alessandro Luiz Vieira Moura, de 40, o Vinte Anos; Mikhael Wander Miranda Marins, de 30, e Victor Silva de Paula Faustino, de 21 — a PM transferiu alguns dos militares para outros batalhões, como 14º BPM (Bangu), 15º BPM (Duque de Caxias) e 35º BPM (Itaboraí).
Mesmo afastados de suas funções, os 11 PMs — entre oficiais e praças — seguirão recebendo seus vencimentos mensalmente. O salário mais alto é de Tramontini. Em fevereiro, ele recebeu do Estado o valor bruto de R$ 31,385.18. Já o mais baixo é do cabo Tiago Ribeiro Brito — R$ 6,932.71.
Hello Kitty era braço direito do pai, Alessandro Luiz Viera Moura, o Vinte Anos, apontado pela polícia como chefe do tráfico do Salgueiro.
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Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, a Hello Kitty
Reprodução/Redes sociais
Quem é Tramontini
Então comandante do 7º BPM, o tenente-coronel Tramontini foi um dos responsáveis pela operação que matou o traficante Thomas Jayson Vieira Gomes, mais conhecido como 3N, de 26 anos, durante uma operação policial, em 2019, num sítio no bairro Cabuçu, em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio.
A operação foi feita em conjunto com a Polícia Civil. Á época, as duas instituições Informaram que houve um intenso confronto e 3N e outros cinco suspeitos foram mortos. De acordo com os policiais, o espaço vinha sendo utilizado como esconderijo pelo grupo.
Na entrevista, o oficial destacou que pretendia "oferecer uma força-tarefa para o Complexo do Salgueiro", por conta da alta criminalidade na região.
Ao assumir o 7º BPM, em 2019, Tramontini disse ao Jornal São Gonçalo que iria proibir eventos irregulares na sua área de atuação e que uma de suas metas era capturar o traficante Thomas Jhayson.
Policiais viram réus
Os 11 policiais militares — entre oficiais e praças — que viraram réus pela morte de Hello Kitty são:
Gilmar Tramontini da Silva (tenente-coronel);
Thiago Holanda Burgos (1º tenente);
Gilsemberg Bittencourt Pessoa (3º sargento);
Tiago Ribeiro Brito (cabo);
Richard Ramos da Costa (cabo);
André Luiz Monteiro (cabo);
Anderson França (cabo);
Leandro Bastos da Rocha (cabo);
Anderson Oliveira Neto (cabo);
Alexandre Xavier da Silva (cabo) e
Gabriel Cosme Mota de Oliveira (cabo).
Segundo o MP, os militares ainda tentaram matar o traficante Ricardo Severo, o Faustão, que conseguiu correr para a mata e escapou. Faustão estava em um segundo carro.
De acordo com a promotoria, o tenente-coronel Tramontini, na condição de comandante do 7º BPM na época dos fatos, determinou a seus subordinados fossem até o bairro de Itaoca "e cumprissem suas ordens de executar a morte das vítimas".
Já 1º tenente Burgos, na qualidade de supervisor de operações do dia e comandante do GAT A (Grupamento da Atuação Tática Alfa 7), diz o MP, "coube a função de dirigir a ação de seus subordinados imediatos no terreno da operação, além de aderir ativamente à conduta do grupo, desferindo disparos na direção das vítimas", diz a denúncia.
O MP sustenta que o terceiro-sargento Pessoa e os cabos Brito, Ramos da Costa, Monteiro, França, Rocha, Neto, Silva e Oliveira, compunham o GAT A, "e na posição de executores, receberam de seus superiores hierárquicos a ordem ilegal de execução das vítimas, e a atacaram, desferiram diversos disparos de arma de fogo contra eles".
Comandante fabricou operação, diz MP
A promotora Renata de Vasconcellos Araújo Bressan afirmou que por conta da ADPF 635, que restringe a realização de operações no estado do Rio, exceto em hipóteses de emergência e excepcionalidade, Tramontini "fabricou motivação fictícia, consubstanciada em pretenso sequestro de uma família na Estrada de Itaoca, no Complexo do Salgueiro, para assim, conferir aparente legitimidade às suas ordens e à atuação de seus policiais", diz trecho da denúncia.
De acordo com o MP, "o comandante do 7º BPM, sempre aguçando os instintos de sua tropa, rotulando seus homens de 'caçadores' e representando-os pela figura de um leão aos brados de "Avante!", ordenou que os policiais militares lotados em sua unidade operacional se deslocassem à remota e conflagrada região onde, sabia-se, se homiziavam traficantes do Comando Vermelho, a fim de que os executassem".
O MP afirma que os PMs sabiam a placa conde estavam Alessandro, o Vinte Anos; Mikhael; Rayane, a Hello Kitty e Victor Faustino. O Ministério Público afirma que o 1º tenente Burgos foi o responsável por passar a cor e a placa do veículo.
Mais de 30 tiros disparados, aponta laudo
Segundo o MP, após a interceptação do carro onde estavam Vinte Anos e Rayane, a Hello Kitty, os policiais dispararam "no mínimo 34 disparos, conforme o Laudo de Local", e matando o grupo.
A promotoria afirmou ainda que "dando sequência à ilegalidade que revestiu a operação, a fim de fugir à responsabilidade penal, induzindo a erro as autoridades reesposáveis pela persecução penal a ser instaurada, na medida em que recolheram os corpos das vítimas já falecidas, empilhando-os no interior do veículo blindado de transporte de pessoal e os apresentando no Hospital Estadual Alberto Torres, desfazendo o local do crime".
O MP destacou também que, Tramontini "solicitou o apoio de pessoas de operações especiais, para que se encetasse buscas ao "sujeito baleado, a saber, Ricardo Severo". Equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Ação com Cães (BAC), pois, foram acionados por ordem do então secretário da PM, coronel Rogério Figueiredo de Lacerda, e se deslocaram até a estrada do Complexo do Salgueiro, onde se encontraram com Tramontini, de quem receberam a missão de 'localizar o Faustão'".
A promotora sustentou na denúncia que "apesar de qualificados para atuar em missões com reféns, as equipes do Bope e BAC não receberam qualquer ordem de buscas à suposta família sequestrada, cuja notícia, restou, portanto, evidente, não passara de mero subterfúgio para o comandante do 7º BPM e seus subordinados justificarem sua atuação, os quais posteriores comemoraram a operação, adjetivada de 'épica, conforme publicação no Facebook de Burgos".
Por fim, o MP afirma que o bando desviou do desempenho da atividade policial e que eles cometeram desvios.
A denúncia foi aceita pela juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine, titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, no dia 15 de fevereiro.
Fonte: G1