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Após 30 anos, pesquisadores confirmam a existência de araras-azuis anãs


O peso e comprimento total são cerca de um quinto menor, em relação à população geral da espécie; a cauda das araras anãs também é 70% menor do que a de exemplares de tamanho considerado comum. Pesquisa confirma a existência deb arara-azul anã

Lucas Rocha

Cientistas brasileiros confirmaram a existência de araras-azuis anãs na natureza. O estudo inédito feito pela Universidade Anhanguera-Uniderp, de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul (MS), avaliou a espécie Anodorhynchus hyacinthinus em dois domínios naturais diferentes: no Pantanal e no Cerrado.

O acompanhamento começava ainda do ovo e terminava quando os filhotes saíam do ninho. Ao longo de três décadas foi possível observar que o peso e comprimento total de algumas araras-azuis são cerca de um quinto menor em relação à população geral da espécie. A cauda das araras anãs também é 70% menor do que a dos exemplares de tamanho considerado comum.

“O nosso objetivo nesse estudo foi analisar o processo de desenvolvimento das aves da espécie. Então, nós avaliamos o peso, o comprimento total do corpo e da cauda durante o estudo. E só foi possível perceber essas diferenças, porque a pesquisa foi feita à longo prazo (entre 1991 e 2021)”, afirma a bióloga Neiva Guedes, pesquisadora e fundadora do Instituto Arara Azul, onde desenvolve estudos sobre a biologia básica e monitoramento da espécie.

Arara-azul-grande 04

Arquivo TG

“As araras nascem, se desenvolvem e ficam anãs. Mas a princípio isso não afeta a espécie. Elas conseguem voar, se acasalam com indivíduos normais e têm filhotes sem problemas”, comenta.

Entender o que ocorre a partir do nascimento é importante para a conservação da arara-azul. Não migratória e monogâmica, a espécie tem um ciclo reprodutivo lento, com uma baixa taxa reprodutiva.

“A cada período fértil, que vai de julho a fevereiro, a fêmea põe, em média, dois ovos. No entanto, apenas um filhote costuma sobreviver”, conta ela. Os pesquisadores mediram e pesaram 837 filhotes, só que mais da metade morreu por causas naturais diversas. Por isso, foram incluídos na análise somente cerca de 400 filhotes que conseguiram concluir o processo de desenvolvimento até ganhar penas e voar.

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Cláudia Brasileiro

“Nesse levantamento, identificamos 31 araras anãs entre os filhotes, cerca de 8% da amostra total, mas apenas 15 delas se desenvolveram até voar”, explica Guedes.

Segundo Neiva, não se sabe por que a presença das anãs ocorre na espécie. Alguns fatores podem contribuir pra isso. “Fizemos comparação estatísticas com vários métodos. A questão genética vai depender no futuro de termos mais amostras coletadas e aí sim fazer uma análise comparativa desses indivíduos com os comuns”, conta.

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Guedes ainda explica que como em outras aves, vários fatores podem influenciar no desenvolvimento de filhotes de araras, como variações de temperatura e dos níveis de chuva, quantidade, qualidade e disponibilidade de alimentos, tamanho da ninhada e ocorrência de doenças. “Mas pra chegar a uma resposta é preciso aprofundar os estudos”, comenta.

O artigo científico foi publicado na revista Scientific Reports e divulgado pela FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (SP).

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Rudimar Narciso Cipriani

Sobre a espécie

De coloração inconfundível, com diferentes tons de azul vibrante em degradê, e amarelo intenso ao redor dos olhos e nas pálpebras, essa ave se destaca pela beleza e tamanho.

“As araras-azuis apresentarem até um metro de comprimento da ponta da sua cauda até a ponta do seu bico. Não é à toa que dos psitacídeos - mesma família que inclui papagaios, periquitos, araras e maritacas - ela é a maior do mundo”, explica o ornitólogo Luciano Lima.

Na região do Pantanal, são encontradas em áreas abertas e nas matas que possuem palmeiras. Já osninhos estão localizados normalmente na borda ou interior de cordilheiras e capões, bem como em áreas abertas para o pasto. “Nas regiões mais secas de Manaus, Tocantins e Bahia, por exemplo, é comum encontrar essas aves em áreas como vales de paredões rochosos onde o bando costuma fazer ninhos em ocos de palmeiras”, destaca.

Além do seu comprimento, as araras-azuis chamam a atenção por seu bico forte e curvo. Elas são verdadeiras especialistas em quebrar sementes. “Elas possuem muita habilidade. Quebram sementes muito rígidas como a de babaçu e buriti, inajá com muita facilidade”, comenta.

Uma outra curiosidade é que a fidelidade dessa ave também a fez ganhar fama. “Na época de reprodução, os indivíduos formam casais, os quais são fiéis mesmo após o final desse período. Sendo assim, podemos dizer que a arara-azul é uma espécie monogâmica”, finaliza.

Araras e ararinhas: não confunda!

Arara azul é considerada vulnerável, com um número de 6.500 indivíduos de vida livre no Brasil.

Divulgação/ João Marcos Rosa

Situação preocupa

Nos anos 1980 havia apenas 2,5 mil exemplares da arara-azul, então considerada ameaçada de extinção. Hoje, embora a sua população atual seja estimada em cerca de 6 mil aves, ela ainda é vista como em perigo, só que em uma categoria menos crítica, com o status de espécie vulnerável.

O aumento da sua população se deve, em grande parte, ao trabalho de Neiva Guedes, fundadora e presidente do Instituto Arara-azul.

Há, no entanto, as secas e queimadas ocorridas no Pantanal recentemente geram medo por parte dos pesquisadores pelo risco de a espécie voltar a ser classificada como ameaçada de extinção.

Por isso, estudos e monitoramentos da espécie se fazem cada vez mais necessários para evitar situações ainda mais alarmantes para a arara-azul.

G1

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