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Até a década de 1980, a celebração nas areias da praia era um ritual apenas religioso. Com o tempo, vieram os fogos e os mega shows. Em 1994, cerca de 3,5 milhões de pessoas curtiram a virada com o cantor Rod Stewart, um recorde de público. Relembre também a história trágica do Bateau Mouche. Praia de Copacabana fica toda tomada de pessoas no réveillon com a tradicional queima de fogosFernando Maia/RioturApresentado como o maior réveillon do mundo, a festa nas areias de Copacabana já virou uma marca do Rio de Janeiro, quase tão simbólica quanto o carnaval, o Cristo Redentor e o Maracanã. O que começou como um encontro religioso, que marcava a resistência dos devotos de religiões de origem africana até a década de 80, se tornou um grande espetáculo de fogos, luzes, cores e emoções.No dia em que o Rio espera mais uma virada festiva, neste sábado (31), o g1 faz uma seleção com fatos históricos do réveillon de Copacabana, relembrando o primeiro show em 1993, o recorde de público na apresentação de Rod Stewart e até notícias tristes, como o naufrágio do Bateau Mouche.RÉVEILLON DE COPACABANA: acompanhe tudo sobre a festa Tradição religiosaAté o final da década de 50, a orla carioca não era um ponto de encontro tradicional para a virada de cada ano. Segundo historiadores, não era comum, na época, festas ou encontros na praia nessa data.Tudo mudou no início da década de 60, quando o sacerdote do Omoloko, Tata Tancredo da Silva Pinto, decidiu realizar encontros de grupos religiosos na praia de Copacabana, antes da chegada do ano novo. O objetivo de Tancredo era diminuir o preconceito que as religiões de origem africana sofriam na época.Oferendas a Iemanjá no reveillon 2012 em CopacabanaAlexandre Macieira/RioturSegundo o historiador e Babalawô Ivanir dos Santos, a ideia era realizar um grande evento que pudesse atrair o público em geral e aproximar a população dos rituais da umbanda e do candomblé, por exemplo."Devido a perseguições que os cultos afros sofriam, ele passou a criar uma presença pública que pudesse atrair a população para entender essas manifestações. Tancredo passou a fazer uma convocação para que todos fossem pós-praia, no dia 31 para o dia 1, para fazer uma grande gira. Mas aquilo acabou virando uma tradição, de se vestir de branco, de se consultar com o caboclo e mandar flores para Iemanjá", explicou Ivanir.Com o passar do tempo, a cerimônia ganhou força na cidade, passando a atrair até mesmo aqueles que nem sempre eram praticantes dessas religiões, mas que nessa data gostavam de saldar Iemanjá, fazer oferendas e se consultar espiritualmente com caboclos e pretos velhos."Isso ganhou um volume muito forte, nos anos 70 e 80 cresceu muito. Virou uma referência de tradição nas praias da cidade do Rio de Janeiro. As famílias faziam a ceias e depois iam para as praias para saldar Iemanjá", comentou Ivanir.Queima de fogos vira atraçãoCom a crescente popularidade das celebrações religiosas nas areias de Copacabana no réveillon, novas tradições foram surgindo na cidade. E um costume foi ficando cada vez mais marcante entre os frequentadores: a queima de fogos de artifício.O dia 31 de dezembro em Copacabana passou a ser um imenso laboratório de fogos de todos os tipos – até então sem muitas regras ou preocupações com a segurança. Cascata de fogosUma das principais marcas dessa revolução pirotécnica foi a cascata de fogos do Hotel Meridien, localizado na Av. Atlântica.Cascata de fogos embeleza São Conrado na virada do ano de 2021 para 2022; ideia é inspirada na cascata do Hotel MeridienPor 21 anos, a cascata foi uma das grandes atrações do réveillon na cidade, quando os fogos eram lançados do topo do prédio de 39 andares, cobrindo toda a fachada do arranha-céu em poucos minutos. Para quem via a cena da praia, a sensação era como se o edifício sumisse diante dos fogos e da fumaça.Porém, em 2001, por conta de um acidente sem vítimas, os bombeiros passaram a proibir o espetáculo.Contudo, ainda na década de 1980, os comerciantes da região perceberam que o caminho para transformar a data em um evento capaz de atrair turistas do mundo todo teria que passar por um grande show de fogos.Sendo assim, hotéis e empresários do bairro decidiram patrocinar os primeiros foguetórios no réveillon de Copacabana. A ideia deu tão certo, que a prefeitura transformou a virada em festa oficial da cidade.Só faltava a músicaCom o município organizando a queima de fogos nas areias de Copacabana, faltava ainda um detalhe: a música.Após a festa de 1992, quando um volume gigantesco de pessoas esteve em Copacabana para acompanhar a queima de fogos, a prefeitura constatou que a maioria não tinha motivos para permanecer na praia com o fim dos fogos. O deslocamento dessa massa de gente ao mesmo tempo provocou um transtorno enorme na região.Show de Jorge Ben Jor anima o público antes da contagem regressiva em CopacabanaAlexandre Durão / G1Em 1993, o então prefeito Cesar Maia decidiu organizar alguns shows após a meia-noite para reter o público na praia e evitar o deslocamento de tanta gente ao mesmo tempo.Foi no réveillon de 1993 para 1994 que a cidade recebeu o primeiro grande show da virada, com apresentações de Jorge Ben Jor e Tim Maia. Sucesso total.3,5 milhões de pessoas na orlaUm ano depois, os organizadores do evento apostaram em um verdadeiro festival da virada. Cariocas e turistas não teriam apenas um dia de show na praia, mas uma semana inteira de atrações musicais.A ideia era ter vários shows entre os dias 23 e 31 de dezembro. Com investimento de patrocinadores, o Rio de Janeiro reuniu artistas como Jorge Ben Jor, Ivan Lins, Tim Maia, Paulinho da Viola, Emílio Santiago, entre outros.Mas a grande atração daquele ano seria a apresentação do cantor escocês Rod Stewart, que subiria em um palco armado em frente ao hotel Copacabana Palace, logo após a queima de fogos.Cerca de 3,5 milhões de pessoas viram o show de Rod Stewart em Copacabana (Imagem de arquivo)Getty Images via BBCAté hoje, o réveillon de Copacabana de 1994 foi o show com o maior número de espectadores de todos os tempos, com cerca de 3,5 milhões de pessoas na orla. O recorde foi registrado no 'Guinness Book', como o maior número de pessoas da história de concertos gratuitos no mundo.Tributo a Tom JobimA fórmula do sucesso para o réveillon de Copacabana já estava definida, muitos fogos e grandes artistas. Com esse roteiro pronto, em 1995, a aposta foi em um único grande show, um tributo a Tom Jobim, que havia falecido em dezembro de 1994.O show daquele ano contou com Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e Paulinho da Viola, entre outros artistas.A festa em Copacabana estava consolidada e o público já começava a fazer planos para passar o próximo réveillon na cidade.Acidente deixa um mortoAté o ano 2001, a estrutura para os fogos da praia de Copacabana era montada na areia, em uma área que ficava isolada para evitar acidentes. Contudo naquele ano, o modelo se mostrou ineficiente.Um acidente na hora do lançamento dos fogos acabou provocando a morte de uma pessoa e deixou mais 48 feridos, sendo quatro em estado grave.Segundo jornais da época, alguns dos ferimentos foram provocados por estilhaços de tubos de PVC que revestiam as bombas. O mecânico José Maria Martins, de 44 anos, morreu após ser levado para o hospital Miguel Couto. Outras pessoas também acabaram queimadas no acidente. Bateau MoucheWebdoc jornalismo: Naufrágio do Bateau Mouche 4 (1988)A história do réveillon de Copacabana tem como seu capítulo mais trágico o naufrágio do Bateau Mouche, em 1988, quando 55 pessoas morreram no mar, a caminho da Praia de Copacabana, onde assistiriam à tradicional queima de fogos.Segundo a Marinha e a Polícia Civil, Bateau Mouche IV (nome oficial) estava com excesso de passageiros e uma série de outras irregularidades, como furos no casco, escotilhas abertas e coletes salva-vidas fora do prazo de validade.Cerca de 140 pessoas estavam no barco naquele dia. Com preço de Cz$ 150 mil (algo em torno de R$ 800), o passeio dava direito à ceia e música ao vivo, além de uma vista privilegiada para a praia.Livro de Ivan Sant'anna mostra como deveria ter sido o trajeto do Bateau MoucheIvan Sant'anna