Segundo maior colégio eleitoral do Brasil, com 16,2 milhões de pessoas aptas a votar, Minas Gerais é considerado o “fiel da balança” no disputado segundo turno entre o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde 1955, o candidato que vence entre os mineiros conquista a Presidência da República. Além disso, os percentuais nacionais de votos no primeiro turno foram praticamente idênticos aos obtidos na apuração das urnas em Minas, que assim se transformou em uma espécie de espelho da votação nacional. Não é à toa que as duas campanhas concentram esforços no estado, tornando seus eleitores os mais cobiçados do país.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lula venceu o primeiro turno com 48,43% dos votos nacionais, enquanto Bolsonaro teve 43,2%. Entre os mineiros, o percentual foi muito semelhante: 48,29% para Lula e 43,6% para Bolsonaro. Minas Gerais também foi o único estado da Região Sudeste onde o petista venceu. Em contrapartida, o atual presidente ganhou em Belo Horizonte por 46,6% a 42,53%.
Na tentativa de conquistar votos do cobiçado eleitor mineiro, as duas campanhas fazem verdadeira ofensiva neste segundo turno, com visitas a várias regiões do estado. Lula participou de caminhada na capital em 9 de outubro. Na semana passada, o petista foi a Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, e a Juiz de Fora, na Zona da Mata, na sexta-feira (21/10). No sábado, esteve em Venda Nova e em Ribeirão das Neves, na Grande BH. Nessa terça-feira (25/10), foi a vez de Geraldo Alckmin, vice na chapa, desembarcar em solo mineiro. Ele esteve em Alfenas e Lavras, na Região Sul do estado.
Na quinta-feira (27/10), é a vez da senadora Simone Tebet (MDB) voltar a Belo Horizonte para participar de encontro com o coletivo “Mulheres com Lula”. A parlamentar foi a terceira colocada na eleição presidencial e no segundo turno declarou apoio ao petista. Na semana passada, ela acompanhou o candidato na visita ao estado.
Na outra ponta, Bolsonaro tenta reduzir a diferença de votos conquistada por Lula no primeiro turno. O presidente já visitou Minas Gerais quatro vezes neste segundo turno. Em 6 de outubro, se encontrou com empresários. No dia 12, participou de um culto evangélico e no dia 14, se encontrou com prefeitos em BH. Já na terça-feira (18/10), Bolsonaro esteve em Juiz de Fora, na Zona da Mata e em Montes Claros, na Região Norte do estado.
Na quinta-feira (27/10), o candidato à reeleição é esperado em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, e em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Além disso, seu vice, Braga Netto, participou de eventos na capital e a primeira-dama, Michelle, acompanhada da senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), percorreu seis cidades em dois dias: Almenara (Vale do Jequitinhonha), Governador Valadares (Vale do Rio Doce), Ribeirão das Neves (Grande BH), Belo Horizonte, Ubá (Zona da Mata) e Uberaba (Triângulo Mineiro).
Para saber como votam alguns dos representantes desse disputado colégio eleitoral, e por que, o Estado de Minas entrevistou mineiros de diferentes regiões do estado que no domingo apertarão nas urnas o número 13, o número 22 ou a tecla branco, ou ainda os que optarão por uma numeração inexistente ou nem mesmo se animarão a comparecer à sua seção. As principais respostas você confere a seguir.
* Colaboração especial para o EM
Agenda estadual
A maratona das duas equipes em Minas na última semana de campanha
Ontem
Walter Braga Netto (PL) – Vice de BolsonaroManhuaçu, Muriaé, Viçosa, Ponte Nova e Ipatinga
Geraldo Alckmin (PSB) – Vice de LulaAlfenas e Lavras
Hoje
Jair Bolsonaro (PL) – Candidato à reeleiçãoTeófilo Otoni e Uberlândia
Paulo Guedes – Ministro da EconomiaBelo Horizonte
Amanhã
Simone Tebet (MDB), senadora, apoiadora de LulaBelo Horizonte
Escolha de mineiro
Voto 22“Já conheço a política do Lula desde os primórdios dos tempos. É terrível. Qualquer um que eu tenha oportunidade de votar para tirar ele desse caminho, eu votaria. Tem a corrupção e o caminho a que o Lula pode levar o Brasil, que são os que estamos presenciando na Nicarágua, Venezuela e outros países”
José Maurício de Araújo, de 69 anos, empresário, morador de Divinópolis, Região Centro-Oeste
Voto 13“Vou votar no Lula, porque não concordo com certas coisas que o Bolsonaro fala e faz. Machista, homofóbico, ele não fala coisa com coisa. É racista. Ele não me representa. Não tivemos muitas escolhas e não estamos tendo, mas no Bolsonaro eu não votaria e não voto. Se eu não voto nele, minha opção é o Lula”
Alice Batista Leite Silva, de 58 anos, professora aposentada, moradora de Divinópolis
Voto 13“Eu voto no Lula, porque entendo que na atual situação política, econômica e social do país, é necessário que ele seja eleito. E o outro lado – haja vista que são duas opções somente – é uma pessoa que não administra de forma transparente, que não pensa na maioria da população, que é a classe dos pobres e dos chamados classe média baixa.”
Damisson Salvador, de 52 anos, biólogo da saúde, entomólogo e professor de biologia. Morador de Sete Lagoas, na Região Central
Voto 22“É inadmissível deixar que o PT volte ao poder e não dá pra negar que o país melhorou (na medida do possível) no atual governo. Não concordo com tudo o que o Bolsonaro fala e faz, mas estamos, por exemplo, economicamente melhor do que em anos anteriores. Sou a favor das liberdades individuais. Por essas e outras, voto Bolsonaro”
Davi Rocha, 38 anos, artista, músico e social media, morador de Sete Lagoas, Região Central
Voto Nulo“Expressar o meu voto nulo é uma forma de protesto, em um sistema que me obriga a votar no ‘menos pior’. Estou em um beco sem saída. De um lado um condenado pela Justiça, do outro, alguém que precisa ser condenado pela Justiça. No final das contas, são ‘farinha do mesmo saco', brincando de marionete com o dinheiro público”
Brian Lucas, 23 anos, auxiliar de elétrica, morador de Sete Lagoas, Região Central
Voto 22“Escolho Bolsonaro, porque ele é favor de inserir mais escolas militares no país. Eu admiro o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim) e, recentemente, em Uberaba, a Escola Municipal Professor José Geraldo Guimarães, que fica situada no Bairro Pacaembu (em Uberaba) entrou nesse programa”
Diana Marques Alves, de 39 anos, empregada doméstica, moradora de Uberaba, no Triângulo Mineiro
Voto 13“Lula é o candidato que melhor representa a classe mais pobre. Ele com certeza valoriza muito mais os trabalhadores. Além disso, o Lula tem mais programas sociais em seu plano de governo para beneficiar as pessoas mais carentes de recursos”
Jocleverson Silva Soares, de 44 anos, zelador, morador de Uberaba
Voto em branco“Eu não confio em nenhum dos candidatos e na minha opinião qualquer um que ganhar não vai mudar em nada minha vida. Eu vou continuar subindo e descendo escada do mesmo jeito”
Josiane Maria Maximiano, de 47 anos, zeladora, moradora de Uberaba
Voto 13“Lula é o melhor presidente que o Brasil já teve e nós queremos ele de volta. O país do jeito que está, não dá pra continuar. Está precisando melhorar nossa economia, educação, saúde. As pessoas precisam voltar a ser felizes”
Jeandro Pereira, de 40 anos, conferente, morador de Ribeirão das Neves, na Grande BH
Voto 22“O candidato que eu quero é o Bolsonaro. No Lula eu não voto, porque é ex-presidiário. Ele não foi inocentado. Se fosse outro candidato contra Bolsonaro, votaria no outro candidato. Mas tem que escolher entre os dois”
Maria Martins, 68 anos, aposentada, moradora de Ribeirão das Neves
Voto 22 “Votar em Bolsonaro não significa ser de direita ou esquerda, de cima ou de baixo, significa simplesmente não ser conivente com o maior crime de corrupção que o nosso país já sofreu. Talvez Bolsonaro não seja o melhor candidato, mas neste momento ele é a melhor opção”
Silvia Maria Dias, de 50 anos, professora da rede municipal, moradora de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce
Voto 13“Voto em Lula, porque ele é simplesmente o melhor. E porque sou petista e voto nos candidatos do PT desde que me entendo por gente. E agora, neste momento, votar em Lula não é questão só de pertencer a um partido político. É hora de tirar Jair Bolsonaro do poder. Ele é uma doença para o nosso país”
Aline Cadetti, de 34 anos, professora do ensino Médio, moradora de Governador Valadares
Desanimados: as justificativas de quem não tem candidato no 2º turno
Mineiros que pretendem anular, votar em branco ou simplesmente não comparecer às urnas revelam motivos para não seguir a polarização eleitoralMesmo diante da forte polarização que divide a preferência da maioria dos eleitores entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), muitos brasileiros se mostram sem motivação para ir às urnas no domingo (30/10), quando acontece o segundo turno das eleições nacionais.
Não é um contingente pequeno. No primeiro turno, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mais de um quinto das pessoas aptas a votar não compareceram às seções. Foram 32.770.982 de abstenções (20,95%). Houve ainda 1.964.779 votos em branco (1,59%) e 3.487.874 votos nulos (2,82%) no país. Pesquisa Ipec divulgada na segunda-feira (24/10) mostra que 5% dos entrevistados pretendem votar em branco ou anular o voto, enquanto 2% ainda estão indecisos.
Em entrevista ao Estado de Minas, alguns alegam desinteresse pela política, argumentam não confiar em nenhum dos candidatos e questionam a obrigatoriedade do voto como justificativas para votar em branco, anular ou não comparecer para votar. Veja a seguir algumas dessas manifestações, mas também as de quem não abre mão do direito de escolha.
*Colaboração especial para o EM
Escolha de mineiro
Abstenção“Não tenho documento. A minha casa pegou fogo e perdi. Demora para retirar e não deu tempo suficiente. Se tivesse tudo em dia, eu votaria, porque é importante para me posicionar como cidadão. Minha esposa também gosta muito e eu votaria para poder acompanhá-la”
Marcos Antônio Pereira, de 54 anos, ajudante de pedreiro, morador de Divinópolis, Região Centro-Oeste
Abstenção“Não vou votar este ano, porque me cansei de política. Nenhum dos dois candidatos vai melhorar o país. Como diz o ditado, tudo farinha do mesmo saco. Não vejo propostas positivas para o país de nenhum deles”
Maria Isméria de Paula Melo, 75 anos, aposentada, moradora de Uberaba, no Triângulo
Voto 22“Nossa esperança é que Bolsonaro continue o que se propõe a fazer. Temos que confiar e esperar. O Auxílio Brasil está sendo bom, creio que o pouco que ele está ajudando faz com que as pessoas devam confiar que vai continuar. Ajuda a comprar um gás, alguma coisa pra criança. A família precisa disso”
Neide Mota, de 52 anos, monitora, moradora de Contagem, Grande BH
Abstenção“É muito triste ver um país que produz 20% a mais de alimentos e as pessoas passando fome. Infelizmente, na miséria em que a gente vive e ver o país nessa situação, é muito triste. Não acredito em nenhum político e por isso não voto”
João Silva, de 52 anos, empresário, morador de Ribeirão das Neves, Grande BH
Voto nulo“Vou anular. Nenhum dos candidatos conseguiu chamar minha atenção, ter as propostas que eu queria. Para eu votar, o candidato precisa demonstrar desempenho. Assim como o Lula não demonstrou bom desempenho, o Bolsonaro também não. Vou lá só porque é obrigatório, senão, nem iria.”
Mateus Júnior, de 19 anos, repositor, morador de Contagem, Grande BH
Voto 13“Antes a gente tinha muitos benefícios, agora nem comer direito a gente pode. Ainda mais quem tem criança como eu, que sou mãe sozinha, com uma filha de 7 anos. Eu tinha dois empregos. Agora tenho só um, de babá, R$ 200 por mês. Recebo auxílio, mas é a conta de pagar o aluguel e acabou.
Tatiana Aparecida, de 40 anos, babá, moradora de Contagem, Grande BH
Abstenção“Voto no interior, no Vale do Jequitinhonha. Nunca gostei de votar e acho que não vale a pena ir até lá pra votar. Nenhum dos dois candidatos me passa confiança, não me interesso muito pelo assunto, não acompanho”
Juliard Sampaio, de 22 anos, soldador, morador de Contagem
Voto 22“A principal razão de eu votar Bolsonaro é que tenho dois filhos e vejo que o índice de mortes violentas, a taxa de homicídios no Brasil, tem diminuído drasticamente. Já era minha maior preocupação antes. Quero que, quando meus filhos crescerem, eles possam sair de casa sem medo”
César Felipe Gusmão Santiago, de 43 anos, médico e professor, morador de Montes Claros, Região Norte
Voto em branco“Não vejo em nenhum dos dois o perfil de um presidente. Em relação ao Lula, pesa a questão da corrupção e das delações premiadas. O Bolsonaro quebra a lisura do cargo, quebra o protocolo. Não respeita algumas leis. Fala algumas coisas contra a democracia, que a maioria da população é a favor”
Fernando Oliveira Gonçalves Santos, de 33 anos, auxiliar administrativo, morador de Montes Claros, Região Norte
Voto 13“Vou votar no Lula, porque acho o atual governo muito radical. Além disso, faltam recursos para a saúde. Na época do governo do Lula foi quando eu cursei a faculdade de engenharia ambiental e sanitária. Na época do governo do PT era mais fácil entrar em uma universidade.”
Leandro Lopes Cardoso, de 27 anos, auxiliar de produção, morador de Montes Claros, Região Norte
Abstenção“No 1º turno, votei na Simone Tebet e no 2º turno, a tão bradada democracia também me dá o direito de não querer nenhum dos dois candidatos. Não quero contribuir com o desfecho desta disputa. Creio que não estou errado. Errado é fazer patrulhamento ideológico contra quem pensa diferente”
Sandro Andrade, jornalista, morador de Ouro Preto, na Região Central de Minas
Voto 22“Prezo pelo desenvolvimento econômico liberal, mantendo o conservadorismo nos costumes. Também valorizo as pautas de segurança, a proteção da propriedade privada e as políticas antidrogas. Creio que Bolsonaro também acertou com a implementação dos programas Auxílio Brasil e Pronampe”
Antônio Boroni Soares Júnior, empresário, morador de Ouro Preto, Região Central de Minas
Voto em branco“Não entendo muito de eleição, só vou lá e voto. Não acompanho política, só vou lá porque tem que votar. Acho até importante (o voto) para o futuro do país, mas não sou muito chegado nesse assunto”
Breno Riquelme, de 19 anos, entregador, morador de Ribeirão das Neves, na Grande BH
Voto 13“Lula é direito à comida na mesa, às políticas sociais direcionadas aos excluídos, certeza de que investidores internacionais voltem ao país trazendo emprego e renda. Os direitos civis serão resgatados, o povo indígena, o povo preto e a preservação da Amazônia. Nosso povo será feliz novamente”
Marilda Dionísia da Silva Costa, coordenadora de Ong, moradora de Ouro Preto, Região Central de Minas
Estadão